2° Passe

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Na enfermaria do estádio, o médico do time me avaliou e, constatando que não foi grave, apenas colocou uma bolsa de gelo em minha cabeça e me aconselhou a ir para casa descansar — e eu fiquei grata, pois era o que eu queria desde que entrei ali.

Igor não pareceu muito feliz em ter que abandonar o estádio no meio do jogo, por isso eu disse a ele que pegaria um Uber.

Aquela proposta pareceu tentadora para ele, o que realmente me irritou, mas ele acabou decidindo que tinha que ir comigo — mais por obrigação do que por preocupação.

Agora estamos em minha casa e Igor disse que ficaria para cuidar de mim, mas não está realmente aqui. Sua atenção está inteiramente voltada para o meu notebook, onde assiste à transmissão online do jogo.

Mas não ligo muito, pois estou concentrada demais em enviar quarenta mil currículos para vagas de estágio.

A empresa em que eu era estagiária faliu há quatro meses e me deixou na rua da amargura, então preciso arrumar outro depressa, o que não é uma tarefa fácil.

O ramo publicitário funciona para quem tem mais Q.I.: Quem Indica.

Então o esforço para quem não tem conhecidos influentes é triplicado. Mas isso não me abala, pois eu realmente gosto da área que escolhi e um dia serei dona da minha própria agência de publicidade.

Igor diz que é contraditório eu querer ser publicitária e manter minha vida online tão "sem graça".

Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

Principalmente por entender como funciona esse mundo de publicidade é que dou ainda mais valor à privacidade da minha vida pessoal.

Ao contrário dele, que posta tudo o que acontece em sua vida e participa de todas as trends do Instagram.

Sinto Igor balançar a minha perna para chamar minha atenção. Tiro os fones de ouvido a contragosto, pois estou usando eles para eliminar o barulho do jogo que ele assiste a toda altura.

— Olha, Becky, é você! — ele exclama euforicamente, apontando para o notebook.

O jogo acabou e eles estão exigindo as imagens do momento em que a bola voou em minha direção.

As cenas me mostram alheia a tudo em volta, com a cara emburrada, então a bola se choca violentamente contra a minha cabeça. Em câmera lenta, me vejo perder o equilíbrio e cair de costas no chão. Foi um baque feio, feio mesmo.

Só de ver isso sinto minha cabeça latejar. Automaticamente toco o local onde a bola me acertou, ainda está dolorido.

— Você está em rede nacional, Becky! — Igor comemora, ignorando a causa disso.

Ele não viu a queda brutal ou não acha isso tão importante quanto o fato de eu estar na televisão?

— Hum — murmuro sem interesse e coloco os fones novamente.

Cansada de enviar currículos, bloqueio a tela do celular e me deixo cair na cama.

Na disputa entre a fome e o sono, concluo que não tenho as energias necessárias para preparar o macarrão que Igor prometeu que prepararia e parece ter esquecido, então fecho os olhos espero o anúncio do Spotify acabar para apreciar a próxima música.

Ao som de uma canção aleatória, sinto meu corpo e mente relaxar se encaminhando para o sono. Antes de adormecer, no entanto, sinto o braço de Igor em volta do meu corpo, me abraçando por trás.

Pegamos no sono juntos enquanto me pergunto se no evento de comemoração com o time, hoje a noite, terei a oportunidade de agradecer ao anjo gentil que me ajudou no estádio.

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