O garçom me conduz para uma mesa lateral e, apesar do vestido rosé de grife, me sinto um peixe fora d'água.
Samira jamais pode saber que peguei um de seus preciosos vestidos de marca.
Foi errado pegar escondido, mas aparecer no Soho com uma das minhas roupas baratas seria muita humilhação. E acho que já atingi a cota de humilhação por uma vida inteira.
O garçom gentilmente puxa a cadeira para mim e eu me sento, dando-lhe um sorriso tímido em agradecimento.
— Só um momento, senhorita, que trarei o cardápio — ele diz em tom amigável.
— Ah, não precisa. Estou apenas esperando alguém — respondo, pois sei que meu dinheiro mal daria para pagar por um desses talheres reluzentes.
Ele inclina ligeiramente a cabeça para o lado, mas logo sorri e se afasta.
Enquanto aguardo, observo em volta discretamente.
Me sinto deslocada, mas ninguém aqui é melhor do que eu. Nem mesmo aquele casal com trajes finíssimos na mesa do outro lado.
Entendo por que Zac escolheu esse local: é um ambiente reservado, onde certamente não será incomodado por fãs ou paparazzi.
Dez minutos de atraso é tolerável.
Meia hora é falta de respeito.
Meu pacote de internet acabou, então não consigo mandar mensagem para o salafrário que me deixou plantada.
Não tenho coragem de pedir a senha do Wi-Fi, pois vai parecer que entrei apenas para usar internet grátis. Fico desligando e ligando a rede do celular como se isso magicamente fosse fazer algum sinal de dados móveis aparecer.
De repente vejo um cara de camisa preta e boné da mesma cor passar pela porta. No próximo segundo, percebo que esse corpo atlético de músculos bem distribuídos não poderia ser de ninguém além de Zac.
Uma garçonete muito sorridente o recepciona. Eles conversam e ela olha em minha direção. Zac olha também, diz algo para ela, e se encaminha para mim.
Aposto que a conversa foi "Você viu uma otária de testa roxa passar por aqui?". E ela respondeu: "É aquela trouxa ali sentada sozinha há mais de meia hora".
— Oi, Rebeca. Me perdoa pelo atraso — ele diz com um olhar culpado ao chegar até a mesa e se sentar. — Surgiu um problema grande e tentei te avisar, mas você não recebeu as minhas mensagens.
— Ah, imagina, eu adoro ficar de molho. Faz bem para a pele — ironizo.
Os olhos castanho-claro estão nos meus, mas repentinamente sobem para a minha testa.
— Isso tá feio — ele faz cara de lamentação.
Jogo o cabelo na frente da marca.
— Não é nada. É só o autógrafo do meu ídolo — respondo com sarcasmo.
Ele sorri meio sem jeito, revelando o sorriso mais branco e alinhado que já vi na vida.
— Desculpa ter dito isso. Foi uma brincadeira de mau gosto — ele faz cara de culpado.
— Esse é o seu disfarce? Eu te reconheceria do outro lado de um estádio — aponto para o boné dele.
Ele gira a aba do boné para trás e não entendo como o boné nessa posição o deixa ainda mais bonito.
— Até que funciona. Você deveria usar também, agora que é famosa. E esconderia a marca.
— Não tenho boné nenhum.
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Jogada de Craque
RomanceAs probabilidades se enganaram ao afirmar que as chances de Zac Dilan - o grande camisa dez do Cruzeiro - chutar a bola na direção da arquibancada e acertar em cheio a cabeça de Rebeca - a odiadora número um do esporte - eram zero. Rebeca preza por...