49° Passe

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Depois de duas longas e cansativas viagens, eu só queria deitar na cama e dormir por pelo menos doze horas, mas passamos rapidamente no apartamento apenas para deixar nossas coisas e tomar um banho — cada um no seu quarto.

Havia uma encomenda com o meu nome em cima da minha cama. Origem, Espanha. Remetente, Samira. Ela deve ter enviado antes de saber que eu tinha ido embora da casa de Zac outra vez.

Deixei para abrir depois, não tinha cabeça para mais nada naquele momento. Já estava usando todas as minhas forças para me manter firme diante da tensão acerca do teste de DNA.

Fomos para a clínica, onde Ricardo e Pérola já nos esperavam. O clima estava terrivelmente tenso. Fiquei sozinha com Pérola enquanto Zac e Ricardo se dirigiram para a sala de coleta de sangue.

A primeira coisa que notei em Pérola foram suas olheiras. Ela está péssima, de um jeito que me faz querer abraçá-la e tentar lhe dar algum consolo.

A verdade é que se ela não tivesse revelado o segredo que guardou por anos, Zac e eu jamais poderíamos sonhar com uma vida juntos novamente.

Por mais errado que seja Pérola ter mentido para Ricardo sobre a gravidez, não se pode negar que ela foi corajosa em arriscar o casamento contando a verdade agora apenas para que Zac e eu ficássemos livres.

Ela se sacrificou pela felicidade do filho.

Sem contar que, se ela não tivesse enganado Ricardo, ele não teria se separado da minha mãe, nunca teria se envolvido com tia Laís e eu jamais existiria.

Portanto, não sou a pessoa mais indicada para reprovar as decisões de Pérola, já que, de certa forma, me sinto grata a ela — tanto por ter desviado o curso do destino tornando possível a minha existência, quanto por ter me revelado seu segredo mais sombrio e me colocado em um avião em busca do amor da minha vida.

Neste momento, estamos todos na sala de espera aguardando o resultado. O ambiente está pesado, e cada segundo que passa só aumenta a tensão no ar.

Ricardo está sério, mais fechado do que eu jamais o vi. Pensei que já tinha visto o máximo de sua rigidez no dia da entrevista de estágio, mas hoje ele parece uma rocha fria e impenetrável.

Cada um ocupa o mesmo assento que da última vez em que estivemos aqui, mas diferente daquela vez, parece haver uma parede de concreto erguida entre Ricardo e Pérola.

Ao meu lado, Zac permanece em silêncio. Ele está tenso e preocupado com o que está por vir, mas sua preocupação parece mais relacionada aos pais.

Quanto a nós dois, sua confiança segue inabalável. Nossos dedos estão entrelaçados sobre o colo dele. O calor da mão dele é a única coisa que me aquece nessa sala gélida — não apenas pelo ar-condicionado no máximo, mas também pela frieza do casal do outro lado.

É perturbador pensar em como as coisas podem mudar drasticamente de uma hora para outra.

Há algumas semanas, eu estava na casa deles sendo interrogada pelo meu sogro. Me lembro de sentir uma pontada de inveja ao assistir a boa relação de pai e filho entre Ricardo e Zac, me perguntando como seria ter um pai.

Como ficará a relação deles ao descobrirem o resultado do DNA? Será a mesma de antes? Ou haverá alguma rachadura?

Veja como a vida é efêmera e volátil. Em um segundo, tudo o que sabemos, tudo o que conhecemos, muda.

Por isso a importância de se aproveitar o agora com quem amamos, pois não sabemos se amanhã alguma tempestade irá nos abalar.

Pensei nisso durante todo o voo ao lado de Zac. Na importância de aproveitar o presente. E o que mais importa para mim nesse momento é o amor profundo que sentimos um pelo outro.

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