43° Passe

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— Rebequinha!

Fabinho atravessa a porta do apartamento e me dá um meio abraço com o braço que está livre, enquanto equilibra um fardo de cerveja no outro.

— Seus dias de doentinha acabaram, eu trouxe a cura — ele mostra a cerveja, sorrindo alegremente.

— Eu não bebo cerveja — respondo meio confusa.

— Não se preocupe, também trouxemos uma garapa — Vinícius complementa, erguendo uma garrafa de cachaça.

Fabinho passa por mim e entra. Vinícius entra também, mas ao passar por mim, segura a ponta do meu queixo de forma charmosa.

— Oi, linda, senti saudades — ele dá um sorriso torto e segue Fabinho em direção à cozinha.

Vou atrás deles.

— Pra quê isso? — questiono ao vê-los trabalhando juntos abastecendo o freezer com cerveja.

— Para a resenha no terraço — Fabinho responde feliz, sem interromper a tarefa.

— De onde eu venho, chamamos de churrasco na lage — Vinícius comenta.

— Você já foi no terraço, Rebequinha? A vista é top.

— Eu nunca fui... — respondo vagamente, ainda sem entender o que está acontecendo. — Zac está sabendo disso?

Eles terminam de trabalhar na geladeira, fecham a porta e olham para mim.

— Contamos com você para guardar segredo — Fabinho sussurra e troca um sorrisinho cúmplice com Vinícius.

Respiro fundo, sentindo um cansaço repentino me dominar — não físico, emocional.

Há duas horas, quando Fabinho me ligou querendo saber como eu estava, insistiu que eu precisava sair para me divertir um pouco. Eu neguei, mas ele sabe ser insistente. Acabei contando que estava doente, nessa conversa, ele descobriu que eu estava na casa de Zac e ficou confuso, dadas as últimas manchetes sobre o término do nosso relacionamento, então disse que ia passar aqui para me ver.

Agora, acho que há uma festa programada e tenho certeza de que Zac não vai ficar nada feliz.

Hoje é sexta-feira, dois dias após a grande revelação sobre a minha mãe biológica, e o clima está estranho entre Zac e eu.

Com estranho quero dizer que não vejo Zac desde que saímos do hospital.

Quando recebi alta, ele me trouxe para sua casa. Não apresentei resistência, não suportaria outra discussão que acabasse com ele dizendo em bom som que é meu irmão.

Embora eu não o veja em casa, sua presença é constante no meu dia a dia.

A começar pelo bilhete seco escrito 'beba' junto ao copo de suco verde, que encontro ao abrir a geladeira pela manhã.

Ele tem preparado esse suco de couve, laranja, maçã e mel a pedido da minha mãe. Parece que eles têm se comunicado com frequência.

De certa forma, fico feliz que ele seja o informante dela sobre a minha saúde. Ainda não estou pronta para falar com ela, mas por mais magoada que eu esteja, não quero que ela fique sofrendo de preocupação por mim.

Zac também tratou de comprar as vitaminas caras que o médico receitou. Sem contar a nutricionista/cozinheira sorridente que aparece por volta das dez da manhã e prepara todas as minhas refeições ultra saudáveis do dia. Eu nunca comi tanta coisa verde na minha vida.

Apesar de minutos antes da grande revelação Zac ter dito que o que quer que acontecesse, lidaríamos juntos, não é bem isso que está acontecendo.

Jogada de CraqueOnde histórias criam vida. Descubra agora