3° Passe

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Igor não está mais na cama quando abro os olhos em meio ao breu do quarto. Ao desbloquear meu celular encontro um post-it colado na tela:

"Não se esqueça que vamos sair hoje à noite, encontro vc lá às 8. Sabia que vc é linda dormindo? Por isso eu não quis te acordar. Bjs"

Me levanto da cama contra a minha vontade e me dirijo ao banheiro para tomar banho. Eu não quero ir, como não queria ir para o jogo.

Não vamos sair como em um encontro, vamos ao hotel mais famoso da cidade para a comemoração que acontecerá na cobertura, pela vitória do time.

Onde toda, ou quase toda, cidade estará.

Não ligo para esse evento bobo, por isso nem me dói ter que usar o vestido preto sem alças com o comprimento pouco acima dos joelhos que uso para todas as ocasiões. O guerreiro de sempre.

Os saltos pretos também são os guerreiros de sempre, então os calço.

Ao olhar no espelho para arrumar os cabelos, porém, vejo a marca da bolada que levei.

Pouco acima da sobrancelha esquerda, a mancha arroxeada está evidente demais para minha maquiagem barata dar conta de esconder.

Sinto uma raiva mortal da pessoa que causou isso. Jogador estúpido. Seja lá quem foi.

Jogo uma mecha na frente do rosto em uma tentativa de encobrir o hematoma. Até que funcionou, só preciso me lembrar de sempre ajustar essa mecha.

Na saída do meu quarto encontro Samira, minha colega de faculdade que divide o apartamento comigo.

Ela está saindo do próprio quarto dentro de um vestido vermelho justo.

— Oi, Bex! Não sabia que você estava aqui — ela diz fechando sua porta. — Está indo para a comemoração também?

O sonho de Samira é ser famosa. Ela não perde nenhuma chance de interagir com celebridades. Então jamais deixaria de ir para o evento de comemoração hoje e tentar agarrar um dos jogadores, como fez na comemoração das oitavas de final e conseguiu pegar o goleiro.

— Igor não perderia por nada — respondo fechando a minha porta também. — Você vai de quê? Podemos dividir um Uber.

— Ele não vem te buscar? Nossa — ela não disfarça o tom de julgamento. — Podermos ir juntas então.

Vou atrás dela sem dizer nada.

Sami e eu não somos exatamente melhores amigas, somos apenas colegas de universidade e de apartamento, então não falo da minha vida pessoal com ela.

Mas isso não a impede de fazer comentáriozinhos sobre o meu relacionamento com Igor.

Uma vez ela disse que Igor é muita perda de tempo, mas eu não tinha pedido a opinião dela.

Dentro do Uber, noto que o motorista me olha de forma estranha pelo retrovisor.

Isso me deixa incomodada. Não entendo o motivo do seu olhar até que o locutor no rádio do carro, que está falando sobre a partida de hoje a tarde, começa a falar sobre... mim.

...É, meu amigo, o Grêmio voltou para casa chorando depois do massacre de hoje. E quem deve ter voltado chorando também foi a garota que levou uma bela bolada na cabeça. Zac, como sempre, só chuta para acertar!

Zac. Então foi ele.

— Estão falando sobre você, Bex! — diz Sami, eufórica.

— Foi uma bolada feia — comenta o motorista, se virando para olhar a minha testa.

Jogada de CraqueOnde histórias criam vida. Descubra agora