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Surya

O ambiente ao meu redor parecia congelado, como se o tempo tivesse decidido parar em respeito à tensão que pairava no ar.

O som do metal se chocando, dos gritos abafados e da respiração pesada ainda ecoavam em meus ouvidos, embora a luta tivesse terminado. Maxon estava ali, imobilizado, ainda ofegante, e Azriel... Azriel estava a poucos passos de mim, mas parecia a milhas de distância.

Eu mal conseguia respirar, o medo apertava meu peito, esmagando-me com o peso das consequências que vinham à tona. Sabia que todos estavam me encarando, esperando por uma explicação, uma justificativa, qualquer coisa que explicasse o caos que se desenrolara naqueles momentos.

Mas eu não tinha respostas. Apenas a verdade, crua e nua, que temia expor.

Minhas mãos tremiam quando olhei para Lyana. Ela me observava com aqueles olhos calculistas, sempre avaliando, sempre em controle. Mas, por um breve segundo, vi algo diferente neles. Talvez fosse decepção, talvez fosse compreensão, ou talvez apenas um reflexo do pavor que eu sentia. De qualquer forma, eu sabia que ela estava ali, esperando que eu tomasse uma decisão.

Então, lentamente, deixei meu olhar desviar para Azriel. Ele parecia tão impenetrável como sempre, mas eu conhecia aquele rosto, aquelas sombras que dançavam ao redor de sua forma como se fossem uma extensão dele. Mas, naquele momento, mesmo cercado pelas sombras, ele estava mais vulnerável do que nunca. E eu sabia que ele não queria me arrastar para isso, mas já era tarde demais.

Ignorando os murmúrios ao nosso redor, caminhei até ele. Cada passo parecia um desafio, como se meus pés estivessem afundando em areia movediça. Quando finalmente alcancei Azriel, todos os meus sentidos estavam focados nele. Seu rosto estava marcado pela batalha, a pele ainda suada, mas seus olhos... Seus olhos me diziam tudo o que eu precisava saber.

Sem pensar, levantei minha mão e toquei seu rosto. Senti a aspereza de sua pele sob meus dedos, um contraste com a suavidade do gesto. Ele fechou os olhos por um breve momento, como se estivesse reunindo forças ou tentando controlar o turbilhão dentro dele. Quando seus olhos finalmente se abriram, eu vi a tempestade neles, mas também vi algo mais profundo, algo que me puxava para mais perto.

A sala inteira pareceu desaparecer, o mundo se resumindo a nós dois. Tudo que conseguia fazer era manter minha mão no rosto dele, como se aquele gesto pudesse apagar a dor, o conflito, e o caos que havíamos causado.

Uma leve pressão contra minha mão me trouxe de volta à realidade, e percebi que Azriel havia fechado os olhos, inclinando-se levemente ao meu toque. Era um gesto tão pequeno, tão íntimo, que meu coração quase parou. Não sabia o que aquilo significava, ou o que ele estava tentando me dizer, mas naquele momento, tudo o que importava era que estávamos ali, juntos, apesar de tudo e de todos.

Atrás de mim, o mundo parecia estar em suspenso, aguardando minha próxima ação, aguardando para ver o que faria. Mas para mim, o tempo havia parado, congelado nesse único instante onde tudo era simples, onde não havia julgamentos, medos ou expectativas. Apenas o som da minha respiração entrecortada e o calor do toque de Azriel.

Seus olhos se abriram lentamente, e o olhar que ele me deu foi tão intenso que senti um arrepio percorrer minha espinha. Havia um mundo inteiro de coisas não ditas entre nós, um universo de sentimentos que apenas nós dois poderíamos compreender. Mas eu sabia que aquele momento não duraria para sempre.

Ainda sem dizer uma palavra, lentamente retirei minha mão do rosto dele, sentindo a perda do contato como uma dor física. O silêncio entre nós era pesado, mas também confortável, como se houvesse algo de sagrado em tudo isso.

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