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Lyana

A sala estava impregnada do aroma terroso do chá de camomila que eu segurava nas mãos trêmulas.

A porcelana fina tremia levemente, quase imperceptivelmente, mas eu sabia que ele perceberia se se virasse. O chá estava quente, mas não tanto quanto o sentimento semelhante a culpa que queimava dentro de mim.

Os aposentos de Eris eram uma mistura de elegância austera e conforto, um reflexo perfeito de seu caráter. As paredes eram cobertas por estantes de madeira escura, abarrotadas de livros antigos, tratados sobre estratégia militar e pergaminhos antigos. No canto, uma lareira de pedra esculpida brilhava com um fogo brando, lançando sombras dançantes sobre o tapete persa que cobria o chão.

A luz suave das lâmpadas de óleo lançava um brilho dourado sobre a escrivaninha de carvalho onde Eris estava sentado. Ele estava de costas para mim, concentrado em um mapa espalhado à sua frente, o som suave de sua caneta rasgando o silêncio enquanto fazia anotações meticulosas. Seus ombros largos e a postura ereta transmitiam uma segurança inabalável. Eu tentava senti-lo através dos pensamentos e do laço que unia nosso acordo, mas sua mente estava envolta de puro cobre derretido, que o protegiam de qualquer daemati que tentasse ousar lê-lo.

Eu o observava em silêncio, lutando contra as lágrimas que ameaçavam cair. Cada movimento seu parecia uma acusação muda, uma lembrança do que eu havia feito. O nome de Anthon, ecoava na minha mente, ora como uma doce lembrança , outrora como um sussurro venenoso.

Eu não tinha certeza se realmente o amava. Anthon era uma tempestade, uma paixão selvagem e irresistível que me arrebatou. Eris era um acordo, fazia parte de um plano maior, mesmo com os deslizes cometidos entre nós dois.

Tomei um gole de chá, tentando acalmar a inquietação dentro de mim. O líquido quente desceu pela minha garganta, mas não conseguiu dissipar a frieza do arrependimento. Fechei os olhos por um momento, tentando reunir forças para enfrentar o que quer que viesse a seguir.

Quando abri os olhos, Eris havia se virado parcialmente, seus olhos encontrando os meus. Havia uma suavidade em seu olhar que fez meu coração doer ainda mais. Ele sorriu, um sorriso indecifrável, e meu peito apertou com o gesto:

— Você já deve ter escutado histórias sobre minha crueldade e como eu recusei um casamento com uma grã-feérica de família nobre.

Continuei encarando-o, observando-o virar-se novamente:

— Meu laço de parceria desabrochou anos após a guerra cessar, eu... Não sabia ao certo o que era, busquei auxílio com os anciãos desta corte e me recusei a acreditar quando descobri do que se tratava.

Meu coração palpitava a cada palavra que saia de sua boca. Eu jamais poderia prever que Eris teria um laço de parceria com alguma fêmea:

— Quando Beron me intimou dizendo que estava na hora de eu desposar uma fêmea, eu resolvi ir atrás dela — Ele respirou fundo, a lembrança parecia dolorosa — Mas... Ela não aceitou tão bem quanto eu.

Ele levantou-se fazendo a cadeira pesada ranger, e caminhou em direção a lareira ainda sem contato visual comigo:

— Como uma notável fêmea da Corte Noturna, Mor gostava de acordos. Eu a livrei daquele rato que ela chama de pai, e depois disso eu a libertei.

Eris virou-se para mim, os olhos vermelhos refletindo as chamas da lareira:

— Eu sabia que seu coração não batia por mim, mas se eu a devolvesse a Keir, ela teria seu fim... E ela ainda conta a história como se eu fosse o verdadeiro vilão.

Corte de Luz e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora