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Azriel

O calor da Corte Estival era opressivo, mesmo para alguém que tinha passado séculos sob a luz impiedosa do sol.


As águas cintilantes do oceano estendiam-se até o horizonte, contrastando com os muros brancos e brilhantes da cidade. Mas o esplendor que normalmente definiria este lugar paradisíaco agora estava ofuscado pelo peso da guerra iminente.

Do alto do parapeito, observei as tropas se reunindo abaixo. Fileiras e mais fileiras de soldados, suas armaduras, de diversas cores de acordo com suas cortes reluzindo sob o sol, faziam os preparativos finais. As asas dos grifos batiam pesadamente enquanto eles aterrissavam, os soldados montados descendo com a graça prática de guerreiros da Corte Diurna, que conhecem o campo de batalha melhor do que qualquer outro lugar. Havia uma tensão no ar, que parecia afetar até mesmo o vento. Ele soprava mais forte, como se quisesse varrer para longe a sensação de incerteza.

Minha mão repousava no cabo da adaga presa ao meu lado, e eu podia sentir a vibração da magia contida nela. Sempre em alerta. Sempre pronto. A cada minuto que passava, eu avaliava e reavaliava as defesas da cidade, cada movimento dos soldados, cada sombra que se aproximava no horizonte. Sabia que o ataque de Hybern poderia vir a qualquer momento.

No meio da confusão, vi Eris, agora Grão-Senhor da Corte Outonal, com seu cabelo ruivo como fogo brilhando sob a luz do sol. Ele comandava sua infantaria com uma mão firme, seu olhar gelado, mesmo sob o calor do sol, observando cada movimento dos seus soldados. A infantaria da Corte Outonal, com suas armaduras douradas e vermelhas, se posicionaria na linha de frente. O rosto de Eris não mostrava emoção, mas eu sabia que ele compreendia a gravidade do que estava por vir. Não era apenas poder que ele desejava agora; era sobrevivência.

Deixei meu olhar se afastar de Eris e seguir em direção ao sul, onde as asas batendo no ar chamaram minha atenção. Helion estava lá, montado em um imponente grifo de plumas douradas, rodeado por seus guerreiros da Corte Diurna. O brilho da armadura deles quase cegava, avistei Maxon entre eles, o general da corte. Seu olhar era severo, focado, mas havia algo mais ali, algo que apenas eu, que compartilhava da mesma dor, podia perceber. Ele sentia o mesmo por Surya, um fio de desejo entrelaçado com angústia.

Surya apareceu logo em seguida, sua presença um contraste deslumbrante de luz e gelo. Sua armadura era uma obra de arte, uma fusão perfeita dos estilos da Corte Diurna e da Corte Invernal. O azul gélido do aço da Corte Invernal se misturava com os detalhes dourados e brilhantes da Corte Diurna, como se ela carregasse os dois mundos sobre os ombros. Ela estava linda... e mortal.

Maxon se aproximou dela, sua postura rígida suavizando enquanto falava algo que eu não pude ouvir. Surya sorriu de volta, um sorriso que me atingiu como uma lâmina. A sombra em meu peito se expandiu, sufocando-me com a necessidade de agir. Eu queria voar até lá, tirá-la daquele lugar, arrancá-la dos perigos que se aproximavam... e do lado de Maxon. O ciúme se misturava com o medo, uma mistura corrosiva que queimava por dentro.

Mas antes que eu pudesse ceder à tentação, uma figura familiar desceu dos céus ao meu lado, com a graça poderosa de um predador. As botas de Cassian tocaram o parapeito da muralha com um baque suave, as asas ainda batendo uma última vez antes de se dobrar nas suas costas:

— Está a pensar demais outra vez — disse ele, sem nem precisar olhar para mim. O tom despreocupado escondia bem a seriedade de suas palavras.

— É o que eu faço de melhor — murmurei, forçando-me a afastar o olhar de Surya e Maxon.

Cassian bufou, cruzando os braços enquanto observava o campo abaixo. — Vai precisar estar com a cabeça no lugar para o que vem aí. Todos vamos.

Eu sabia que ele estava certo, mas isso não tornava mais fácil ignorar o aperto no meu peito, o desejo de agir por impulso. As sombras ao meu redor se agitaram novamente, como se sentissem minha frustração. Eu as dominei com um pensamento, forçando-as a se acalmar:

Corte de Luz e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora