CAPÍTULO 15

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Marina Soarez's point of view

Acordar na casa de Gabriel ainda era uma experiência nova para mim. O cheiro do mar, sempre presente, se misturava ao aroma de café fresco que ele já tinha preparado antes mesmo de eu sair da cama. O som suave das ondas quebrando na praia logo ali, ao alcance dos meus olhos, era uma constante que eu estava começando a amar. Mas, com essa beleza natural, vinham também os desafios da convivência diária, uma dança que nós dois estávamos aprendendo a coreografar juntos.

Gabriel tinha seu jeito de fazer as coisas, e eu o meu. Logo de cara, notei que ele era extremamente organizado. Cada coisa tinha seu lugar. Pranchas de surfe perfeitamente alinhadas no rack, toalhas dobradas com precisão militar, e até mesmo os cachorros pareciam ter aprendido a respeitar uma ordem que ele mantinha. Eu, por outro lado, sempre fui um pouco mais... caótica. Não desorganizada, mas definitivamente mais relaxada quanto a esses detalhes.

Na primeira manhã, enquanto eu me esforçava para manter a calma ao tentar encontrar uma maneira de arrumar minhas coisas sem bagunçar a ordem dele, Gabriel apareceu na cozinha com um sorriso.

— Bom dia — ele disse, aquele sorriso que iluminava qualquer ambiente estampado em seu rosto. — Está se acostumando? —

Assenti, colocando uma caneca de café na mesa e me sentando.

— Estou, mas ainda tentando entender como você consegue ser tão... metódico.

— Parte de ser surfista profissional, acho. Tudo tem que estar em ordem, especialmente antes de uma competição. Mas relaxa, não precisa seguir minhas manias. — Ele riu.

Seu tom era leve, mas eu não conseguia evitar sentir uma pontada de insegurança. Ele estava acostumado a uma vida que eu não vivia, e apesar de querer fazer parte disso, às vezes me perguntava se realmente conseguia me encaixar.

Os dias foram passando, e eu comecei a perceber pequenas coisas. Gabriel tinha um ritual matinal: acordava cedo, fazia café, e depois passava um tempo no quintal com os cachorros antes de sair para surfar. Às vezes, eu o acompanhava até a praia, onde ficava observando-o no mar, admirando a maneira como ele parecia se fundir com as ondas, como se fosse parte delas. Outras vezes, eu ficava em casa, tentando me encontrar no meio da nova rotina.

Ainda assim, a convivência diária trouxe pequenos atritos. Um dia, enquanto eu estava na sala organizando alguns livros, Gabriel apareceu com uma expressão preocupada.

— Você viu a chave do carro? Eu sempre deixo no porta-chaves, mas não está lá.

Eu parei por um segundo, tentando lembrar.

— Ah, eu peguei para tirar umas coisas do porta-malas mais cedo e deixei na mesa da cozinha.

Ele balançou a cabeça, não bravo, mas claramente tentando esconder uma leve frustração.

— Só me avisa da próxima vez, tá? Eu já ia sair e estava contando com ela no lugar de sempre.

Esses pequenos momentos eram como lembretes de que, por mais que estivéssemos nos dando bem, ainda éramos duas pessoas acostumadas a viver de maneiras diferentes. Mas, ao mesmo tempo, eles eram oportunidades de crescimento.

Um dia, depois de uma manhã particularmente agitada em que ambos estávamos correndo para resolver nossas coisas, nos encontramos na cozinha ao mesmo tempo. Eu estava lavando a louça, e Gabriel apareceu com uma tigela nas mãos. Ele parou ao meu lado, em silêncio por um momento, e depois disse:

— Você sabe que não precisa fazer tudo sozinha, né?

Parei o que estava fazendo e olhei para ele, surpresa.

— Eu sei, mas você já tem tanto com o que se preocupar...

Ele colocou a tigela na pia e, de repente, começou a lavar os pratos ao meu lado.

— Isso aqui é uma parceria, Marina. Eu quero que seja. Não quero que você se sinta sobrecarregada ou fora do seu lugar.

Aquela simples ação, ele lavando a louça ao meu lado, falou mais do que qualquer discurso poderia. E foi nesse momento que eu percebi: a convivência diária era, na verdade, uma série de concessões, ajustes e, principalmente, apoio mútuo. Estávamos aprendendo a viver juntos, a encontrar um ritmo que funcionasse para ambos.

Aos poucos, fomos nos adaptando. Eu comecei a deixar as chaves no porta-chaves, e ele começou a relaxar um pouco mais com a bagunça inevitável que vinha com a minha presença. Às vezes, passávamos horas juntos, falando sobre coisas triviais ou importantes. Outras vezes, só compartilhávamos o silêncio, confortáveis com a presença um do outro.

Enquanto isso, a preparação para a próxima etapa da competição na Austrália começava a tomar forma. Gabriel estava mais focado e, ao mesmo tempo, mais preocupado em garantir que tudo estivesse pronto para a viagem. Eu via a tensão crescer à medida que os dias passavam, mas também notava o esforço que ele fazia para manter as coisas leves entre nós.

— Você já começou a arrumar suas malas? — ele perguntou um dia, enquanto revisava sua própria lista de coisas a fazer.

— Sim, mas ainda estou decidindo o que levar. — respondi, meio distraída enquanto dobrava algumas roupas.

— Não se preocupa, a Austrália vai ser incrível. Vamos ter tempo para explorar, e eu quero que você aproveite cada momento. — ele riu.

Aquela promessa, dita com tanta certeza, me fez sorrir. Estávamos nos ajustando a essa nova vida juntos, e por mais desafiador que fosse, eu sabia que estava onde precisava estar. E assim, enquanto o sol se punha lá fora, banhando a casa com uma luz dourada suave, senti uma onda de tranquilidade me envolver. A convivência diária não era perfeita, mas estava nos moldando, nos aproximando de uma forma que nenhum de nós poderia ter previsto. E, com a Austrália no horizonte, havia um mundo de novas experiências nos aguardando, juntos.

VEJO VOCÊS NO PRÓXIMO CAPÍTULO!

02/05 da maratona

Cada capítulo precisa ter pelo menos 10 votos, e assim eu posto o próximo além da maratona.

On your wave - Gabriel MedinaOnde histórias criam vida. Descubra agora