CAPÍTULO 23

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Gabriel Medina's point of view

O ritmo das competições sempre me deixou em um estado de foco absoluto. Havia algo nas ondas, na batalha constante contra o mar e contra mim mesmo, que exigia toda a minha atenção. Mas com Marina ali, presente em cada momento, havia uma mudança sutil na minha rotina. Ela se misturava tão naturalmente ao meu cotidiano que, por vezes, eu esquecia que nossa relação não era oficial. Havia algo entre nós, uma tensão suave e constante que era difícil de ignorar, mesmo no meio da correria dos campeonatos.

Naquele dia, as baterias foram intensas, com ondas desafiadoras e competidores de alto nível. Cada vez que saía da água, eu procurava por Marina. E ela estava sempre lá, com um sorriso encorajador, uma palavra de apoio ou apenas um olhar que dizia tudo. Aquilo significava mais para mim do que qualquer troféu ou pontuação. Era como se sua presença me ancorasse, me lembrando de que, além do surfe, havia algo maior acontecendo em minha vida.

Após o término das baterias, voltamos para a casa alugada, ambos exaustos. O sol estava começando a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, e a brisa do mar trazia um frescor que contrastava com o calor do dia. Marina, como sempre, estava ao meu lado, mas naquele dia, havia algo diferente no ar. Talvez fosse o cansaço acumulado, ou a proximidade constante que estávamos vivendo, mas senti uma necessidade de estar perto dela, de compartilhar mais do que apenas palavras superficiais.

— Você sabe que poderia ter ganhado aquela última bateria, né? — ela comentou, com uma leve provocação, enquanto estávamos sentados na varanda, observando o pôr do sol.

— Você está virando uma expert, hein? —Eu ri, balançando a cabeça.

— Estou aprendendo com o melhor, — ela respondeu, e o jeito como ela me olhou fez algo dentro de mim aquecer. Havia algo nos olhos dela que eu não conseguia ignorar, uma espécie de convite silencioso para explorar o que estava se formando entre nós.

As palavras dela, embora ditas em tom de brincadeira, carregavam uma profundidade que me tocou. Nos últimos dias, ela havia se interessado cada vez mais pelo surfe, acompanhando as baterias com uma atenção que ia além da curiosidade. Era como se ela quisesse entender mais do meu mundo, se aproximar de mim de um jeito que ia além do óbvio. E eu estava começando a perceber o quanto isso significava.

Mais tarde, depois de um banho rápido para tirar o sal e a areia, Marina sugeriu que fizéssemos algo diferente naquela noite.

— Você deveria relaxar um pouco, Gabriel. Vamos fazer algo simples, como ouvir música e apenas... descansar.

Eu concordei, aliviado com a ideia de uma noite tranquila. Ela colocou uma música suave para tocar, algo que combinava perfeitamente com o ambiente calmo da casa. Nos acomodamos no sofá, e pela primeira vez em dias, deixei meu corpo e mente relaxarem completamente. A música preenchia o espaço, e nós dois começamos a conversar sobre tudo e nada, rindo das pequenas coisas e deixando o tempo passar sem pressa.

Ela se levantou para ir até a cozinha preparar um chá, e enquanto a observava de longe, senti uma onda de carinho inundar meu peito. A imagem dela, tão à vontade na minha presença, cuidando de mim de uma maneira que eu não estava acostumado, fez com que eu pensasse em como seria o nosso futuro. Eu sabia que Marina estava me conquistando, de uma forma que eu não poderia ter previsto. E mais do que isso, eu estava permitindo que ela fizesse isso, sem as barreiras que costumava erguer em volta de mim.

Quando ela voltou com duas xícaras de chá, o aroma suave do líquido quente preencheu o ar. Ela se sentou ao meu lado, e por um momento, ficamos em silêncio, apenas desfrutando da companhia um do outro. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo entre nós, mas era impossível negar que estávamos nos aproximando de algo mais do que uma simples amizade.

— Gabriel, você já pensou no que vem depois? — Marina perguntou de repente, sua voz suave, mas cheia de significado. Eu sabia que ela não estava falando apenas sobre a próxima etapa da competição.

— Penso nisso todos os dias. Não sei exatamente como vai ser, mas sei que quero estar presente. Quero ser alguém em quem você e nosso filho possam confiar. — Eu respirei fundo, tomando um gole do chá antes de responder.

— Eu também. E acho que estamos no caminho certo. — Ela assentiu, um sorriso sereno se formando em seus lábios.

Havia algo não dito entre nós, uma compreensão silenciosa de que, mesmo sem rótulos ou promessas, estávamos construindo algo juntos. Algo que, com o tempo, poderia se transformar em uma relação ainda mais profunda.

Depois que terminamos o chá, a música ainda tocando ao fundo, Marina se inclinou contra o meu ombro, e ficamos assim por um tempo, apenas curtindo o momento. O calor do seu corpo contra o meu, a suavidade do seu toque, tudo contribuía para aquele sentimento de conexão que parecia crescer a cada dia.

Naquele momento, percebi que, apesar de todas as incertezas, eu estava disposto a ver onde aquilo nos levaria. Havia algo em Marina que me fazia querer explorar o desconhecido, sem medo do que poderia acontecer. E, ao sentir sua respiração tranquila contra mim, soube que, qualquer que fosse o futuro, não estaríamos sozinhos.

VEJO VOCÊS NO PRÓXIMO CAPÍTULO!

On your wave - Gabriel MedinaOnde histórias criam vida. Descubra agora