CAPÍTULO 48

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Gabriel Medina's point of view

A estrada sinuosa que leva até Maresias nunca pareceu tão longa quanto naquele dia. Cada curva me deixava mais impaciente, mais ansioso. Mesmo conhecendo cada centímetro do trajeto, a sensação de urgência tornava a viagem quase insuportável. Pensava em Marina a cada segundo, em como ela estava, e em como as contrações a afetavam. Meu maior medo era não estar lá quando ela mais precisasse de mim.

Assim que estacionei na frente da nossa casa, saltei do carro, deixando a mala e qualquer outro pensamento para trás. Minha prioridade era ver Marina, ter certeza de que ela e Helena estavam bem. Quando entrei na sala, ela estava ali, sentada no sofá, com a mão repousando sobre a barriga, que parecia maior a cada dia. Apesar de seu sorriso, consegui ver nos olhos dela uma pontada de desconforto.

— Amor, como você está? — perguntei, ajoelhando-me na frente dela, com a mão sobre a barriga onde nossa filha estava crescendo.

— Estou bem, Gabriel. São apenas contrações de treinamento. O médico disse que é normal, que meu corpo está se preparando para o parto. Não precisa se preocupar tanto — ela respondeu, tentando manter a calma na voz, mas eu percebia a leve tensão escondida ali.

Ela sempre foi forte, sempre foi a âncora que me mantinha centrado, mas a ideia de que algo pudesse acontecer enquanto eu estivesse longe me enchia de medo. Sentado ao lado dela, a puxei para mais perto, envolvendo-a nos meus braços como se pudesse protegê-la de qualquer coisa.

— Eu não sei se devo ir para a final — confessei em um sussurro, minha voz carregada de incerteza. — E se Helena nascer enquanto eu estiver lá? Não quero perder esse momento por nada.

Marina se virou para mim, seus olhos me encarando com uma seriedade que me fez prender a respiração. Ela tinha uma calma que me deixava perplexo, como se soubesse exatamente o que dizer para me acalmar.

— Gabriel, eu entendo o quanto essa final significa para você. Eu sei o quanto você trabalhou duro, o quanto essa vitória importa. Mas não quero que você deixe o medo te impedir de conquistar isso. Eu e Helena vamos ficar bem. Eu prometo que, se algo acontecer, você será o primeiro a saber, e você pode voltar o mais rápido possível. Mas não quero que você viva com arrependimentos, pensando no que poderia ter sido.

Ela sempre soube como me acalmar, como dissipar as nuvens de dúvida que pairavam sobre mim. Mas desta vez, as preocupações eram mais profundas. Estávamos falando da nossa filha, do momento mais importante de nossas vidas. E a ideia de não estar ao lado de Marina quando Helena nascesse me aterrorizava.

— Eu sei que essa final é importante, mas vocês são a minha prioridade. Sempre serão — suspirei, olhando para a barriga de Marina, onde nossa filha se movia suavemente, e depois voltei meu olhar para o rosto dela. — Não sei se conseguirei me concentrar na competição sabendo que posso não estar aqui se algo acontecer.

— Eu preciso que você confie em mim, Gabriel. E mais do que isso, que confie em si mesmo. Você é o melhor surfista que eu conheço, e está tão perto de conquistar esse título. Não quero que você olhe para trás e se arrependa de não ter ido. Eu estarei aqui, torcendo por você, como sempre fiz. — Ela sorriu, um sorriso que tentava me tranquilizar, enquanto colocava a mão no meu rosto, acariciando suavemente a barba que ela tanto adorava.

Eu sabia que ela estava certa. Parte de mim queria desesperadamente acreditar que tudo ficaria bem, que eu poderia ir, vencer e voltar a tempo de segurar Helena nos braços pela primeira vez. Mas outra parte estava completamente aterrorizada com a ideia de deixar Marina sozinha nesse estado.

— E se... — comecei a falar, mas ela me interrompeu, colocando um dedo nos meus lábios.

— Sem "e se". Vai lá, ganha esse campeonato e volta para nós com esse troféu. Eu quero que a Helena saiba o quanto o pai dela é incrível, desde o momento em que ela nascer.

Nós nos abraçamos apertado, e fiquei ali, segurando-a com força, sentindo o calor do corpo dela, o suave movimento da nossa filha. Estar com as duas me fazia sentir que tudo no mundo estava no lugar certo, mas ao mesmo tempo, sabia que havia algo que eu precisava fazer. Algo importante, não só para mim, mas para nossa pequena família.

No dia seguinte, enquanto me preparava para voltar ao campeonato, Marina me acompanhou até a porta, segurando minha mão com firmeza. Ela estava linda, mesmo com os traços de cansaço que começavam a aparecer, havia uma luz nela, uma força que sempre admirei.

— Vai lá e mostra para o mundo o que você pode fazer. E volta logo para nós — ela disse, sorrindo, mas com os olhos brilhando de emoção.

Abracei-a uma última vez, sentindo o cheiro do cabelo dela, um perfume que me confortava e me dava forças. Beijei sua testa e depois abaixei para beijar sua barriga, sussurrando para Helena que logo estaria de volta.

Com um último olhar, entrei no carro e comecei o caminho de volta para a competição. O nó na garganta estava lá, mas o medo tinha se transformado em uma determinação feroz. Sabia que precisava ganhar, não só por mim, mas por Marina e pela nossa filha.

Cada onda que eu enfrentaria, cada manobra que eu faria, seria por elas. E a única coisa que me mantinha em pé era a certeza de que, quando tudo isso acabasse, eu estaria de volta, pronto para ser o pai que Helena precisava e o parceiro que Marina merecia.

Chegar ao local do campeonato foi um misto de alívio e pressão. Era como se todas as emoções do mundo se concentrassem naquele instante. Minhas pernas estavam firmes na prancha, mas minha mente estava em casa, com Marina e Helena. Era uma luta constante entre o foco e a saudade.

Nos dias seguintes, enquanto as competições avançavam, mantínhamos contato constante. Cada mensagem, cada ligação de vídeo, era uma forma de aliviar a saudade. Marina continuava me tranquilizando, dizendo que tudo estava bem, mas eu sabia que ela também sentia minha falta, tanto quanto eu sentia a dela.

Naquela noite, antes de uma das baterias decisivas, recebi uma mensagem dela: "Estamos bem. Eu e Helena estamos torcendo por você. Faz isso por nós. Volta logo para casa com esse troféu."

Suas palavras me deram a força que eu precisava. A certeza de que, não importa o que acontecesse, eu voltaria para casa e as encontraria ali, esperando por mim. E com isso em mente, estava pronto para enfrentar qualquer coisa. Sabia que no final, o que mais importava era voltar para casa, com mais do que apenas um troféu, mas com a certeza de que havia feito tudo por elas, por nossa pequena família.

VEJO VOCÊS NO PRÓXIMO CAPÍTULO!

On your wave - Gabriel MedinaOnde histórias criam vida. Descubra agora