arco

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Jinyoung estava sentado no sofá, os dedos ausentes acariciando a cabeça de Sarang, o pequeno cachorro que, desde a chegada ao vilarejo, se tornara uma fonte de conforto silencioso para ele. Sarang estava aninhado contra suas pernas, o calor do animal era um contraste reconfortante contra o frio que parecia se instalar permanentemente dentro de Jinyoung desde que deixaram a Coreia. A casa estava envolta em uma atmosfera pesada, a escuridão do final da tarde invadindo o ambiente através das janelas, com apenas a luz suave da lâmpada da sala criando uma penumbra difusa.

Christopher estava a alguns metros de distância, agachado, limpando os restos da bagunça que havia se espalhado pela sala. O chão ainda estava marcado com manchas de sangue seco, misturado com a sujeira trazida da rua. Christopher trabalhava em silêncio, seus movimentos meticulosos enquanto passava o pano úmido pelas tábuas de madeira, tentando apagar os vestígios do caos que Jinyoung havia causado durante seu ataque de pânico mais cedo.

Jinyoung sentia os olhos pesados, não apenas pelo cansaço físico, mas também pelo peso de sua culpa. Ele olhava para a bagunça à sua frente, mas sua mente estava longe. Ele sentia uma náusea crescente, um desconforto profundo em seu estômago. Seus olhos vagaram pelo chão, e por um milésimo de segundo, ele jurou ter visto algo se mover no meio da sujeira. Seu coração disparou, e ele rapidamente desviou o olhar, o medo subindo pela sua garganta como bile.

Christopher, que estava de costas para ele, percebeu o desconforto de Jinyoung quase que instantaneamente. Ele parou o que estava fazendo e virou a cabeça para ver seu namorado. Jinyoung estava pálido, o olhar fixo no chão, e Christopher soube que ele estava prestes a ter outro colapso.

"Jinyoung?" sinalizou Christopher, aproximando-se devagar, tentando não assustá-lo. Jinyoung não respondeu imediatamente, então Christopher se aproximou ainda mais, estendendo a mão para tocar seu braço, o contato suave mas firme.

Jinyoung finalmente ergueu os olhos para ele, e Christopher pôde ver a turbulência em seu olhar. Era como se ele estivesse preso em uma tempestade interna, e a tempestade estava devastando tudo dentro dele. Christopher se abaixou ao nível de Jinyoung, os olhos presos nos de seu namorado.

"Está tudo bem," sinalizou Christopher, as mãos se movendo lentamente, o rosto calmo e reconfortante. "Eu estou aqui."

Jinyoung piscou rapidamente, afastando as lágrimas que ameaçavam cair. Ele não queria chorar, não queria ser mais um peso para Christopher, que já fazia tanto por ele. Mas ao mesmo tempo, ele não conseguia se livrar da sensação de terror e pânico que se apoderava dele todas as vezes que se deparava com algo que lhe lembrava o que passaram para chegar até ali.

"Eu... vi um verme," sinalizou Jinyoung, as mãos trêmulas. Ele engoliu em seco, sentindo a náusea se intensificar. "Eu... quase o senti no meu pé."

Christopher seguiu o olhar de Jinyoung até o ponto em que ele indicara, mas não viu nada. Mesmo assim, ele não duvidou por um segundo do que Jinyoung havia visto. Ele sabia que as memórias do passado ainda estavam vivas e pulsantes na mente de Jinyoung, e que às vezes, elas se manifestavam de maneiras que ele não podia controlar.

"Vamos sair daqui por um tempo," sinalizou Christopher, sua expressão determinada, mas ao mesmo tempo gentil. "Vamos para a casa de alguém, talvez isso ajude."

Jinyoung hesitou. Ele não queria ser um fardo, não queria continuar fugindo dos problemas, mas ao mesmo tempo, ele sabia que Christopher estava certo. Ele estava cansado, exausto mentalmente. A ideia de ficar na casa de outra pessoa, longe das memórias que essa casa trazia, era estranhamente reconfortante.

"Está tudo bem," sinalizou Christopher, como se estivesse lendo os pensamentos de Jinyoung. "Você não precisa enfrentar isso sozinho. Não agora."

Jinyoung olhou para Christopher, vendo a preocupação sincera nos olhos dele, e isso fez com que ele se sentisse ainda mais culpado. Christopher parecia ter seguido em frente, estar se adaptando à nova vida, enquanto ele... ele ainda estava preso no passado, nos horrores que viveram.

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