survivors

Dawn

No quarto pequeno e abafado, a luz da tarde filtrava-se pelas cortinas pesadas, deixando o ambiente num tom amarelado e enevoado. A mesa de estudos de Joshua estava cheia de livros, papéis rabiscados e canetas, enquanto ele tentava se concentrar na matéria para a prova que tinha em breve. Cada página parecia mais difícil de entender do que a anterior; sua mente se dispersava facilmente, a tensão das últimas semanas pesando sobre seus ombros. Ele mal havia dormido, e o peso do cansaço tornava quase impossível a tarefa de absorver o conteúdo.

Jeonghan, sentado ao lado, não parava de lhe cutucar o braço. "Vai, Joshua, só essa vez," implorava, o tom de voz arrastado e persuasivo, aquele tom específico que Jeonghan usava quando queria alguma coisa. "É Madame Yang! A famosa vidente da cidade! Todo mundo fala dela."

Joshua suspirou, colocando o lápis de lado e esfregando as têmporas. "Jeonghan, eu realmente preciso estudar," respondeu com um toque de exasperação. "Essa é a nossa prova final. E, além disso, você sabe que eu não acredito nessas coisas."

Jeonghan fez uma expressão desdenhosa, cruzando os braços. "Qual é, Josh. Nunca ouviu falar que o destino pode estar nas cartas? Madame Yang já previu um monte de coisas para pessoas importantes. Uma lenda da cidade!" Ele se inclinou para mais perto, os olhos brilhando com animação. "E, além disso, vai ser divertido!"

Joshua lançou um olhar cético para Jeonghan, mas sabia que não teria paz enquanto ele estivesse ali insistindo. "E se o Mingyu descobrir?" indagou, tentando usar o argumento mais racional que tinha. "Ele vai pirar se souber que gastamos dinheiro nisso. Ele odeia tudo que não seja... tangível, sabe?"

Jeonghan riu, despreocupado. "Relaxa, Mingyu não precisa saber de tudo." Ele piscou, oferecendo um sorriso travesso que sabia que Joshua achava difícil resistir.

Por fim, Joshua soltou um suspiro resignado. "Ok, ok... Vamos logo, antes que eu mude de ideia." Ele sabia que não teria sossego, então o melhor era encerrar aquilo rápido.

Ao chegarem à casa da famosa Madame Yang, a atmosfera era completamente diferente do que Joshua esperava. A entrada estava adornada com cortinas de veludo vermelho escuro, perfumadas com um incenso doce, levemente enjoativo, que se espalhava pelo ambiente. Pequenos sinos pendiam nas portas e janelas, e o som suave e metálico se misturava ao silêncio do lugar.

"Parece que entramos numa dimensão alternativa," murmurou Joshua, olhando em volta. Ele sempre havia imaginado um ambiente mais simples para esse tipo de coisa, mas ali, tudo parecia ter sido cuidadosamente decorado para criar uma atmosfera mística.

Jeonghan deu um sorriso animado e cutucou o amigo. "Viu só? Ela leva isso a sério! Se prepara, Joshie, hoje vamos descobrir o que o destino nos reserva."

Antes que Joshua pudesse responder, Madame Yang apareceu na porta de um cômodo ao fundo. Ela era uma mulher de meia-idade, vestida com um longo vestido esvoaçante em tons de roxo e dourado, com anéis grossos nos dedos e uma expressão misteriosa. Seu olhar parecia perfurar Joshua e Jeonghan, como se já soubesse tudo sobre eles.

"Bem-vindos," disse ela, sua voz baixa e suave, quase um sussurro que reverberava no ambiente. "Então vocês vieram para uma leitura?"

Jeonghan assentiu, e logo foram conduzidos a uma pequena sala iluminada apenas por velas. O cheiro de ervas e incensos era mais intenso ali, misturado ao aroma de algo antigo, quase mofado. Eles se sentaram em frente a uma mesa pequena, onde Madame Yang já estava pronta, embaralhando as cartas com uma precisão e agilidade impressionantes.

"Então," começou Madame Yang, pousando as cartas com delicadeza. "Quem vai primeiro?"

Jeonghan olhou para Joshua e abriu um sorriso. "Ele. Esse aqui é cético, mas talvez as cartas possam convencê-lo do contrário."