Hyungwon estava sentado à mesa, seus olhos fixos no caderno de anotações. As páginas estavam repletas de palavras que Joshua escrevera durante seus sonhos induzidos pelo chá, mas algo crucial estava faltando. Ele passou os olhos novamente sobre as anotações, buscando qualquer menção ao pai de Joshua ou detalhes sobre a morte de sua mãe, mas não encontrou nada.
"Não faz sentido", murmurou Hyungwon, quase para si mesmo.
Vicky, sentada no canto da sala, estava entediada, folheando uma revista sem realmente prestar atenção. "Hyungwon, você já olhou isso de cima a baixo. Não tem nada ali sobre o pai dele ou a morte da mãe."
Hyungwon franziu a testa, irritado. "Mas deveria haver algo. Ele escreveu sobre tantos abusos que sofreu nas mãos da mãe, mas nada sobre o pai? Nada sobre como ela morreu? Isso não faz sentido."
Vicky suspirou, fechando a revista com um estalo. "Trauma pode fazer isso, sabe? Quando algo é demais para uma pessoa suportar, a mente faz questão de apagar."
"Mas o que poderia ser tão ruim que ele não conseguisse escrever?" Hyungwon se perguntou em voz alta, pensando no que Vicky disse. "Ele já escreveu sobre tantos abusos terríveis. O que poderia ser pior?"
Vicky deu de ombros. "As únicas coisas que ele sempre repete são não olhar seu reflexo no espelho e sua mãe dizendo para não olhar para ele."
Na varanda, Joshua e Minho estavam sentados em cadeiras de madeira, o silêncio entre eles carregado de uma tensão não resolvida. Joshua olhou para Minho, seu coração pesado com as palavras que sabia que precisava dizer.
"Minho," começou Joshua, sua voz hesitante, "precisamos conversar sobre... sobre você ser um monstro."
Minho ficou tenso, seus olhos evitando os de Joshua. Ele havia temido essa conversa desde o momento em que Joshua descobriu a verdade. "Eu... Eu não tenho controle sobre isso, Joshua."
Joshua suspirou, lutando para encontrar as palavras certas. "Eu sei. Mas temos que falar sobre isso. Não podemos continuar fingindo que não está acontecendo."
Minho balançou a cabeça, seus olhos finalmente encontrando os de Joshua. "E o que você quer que eu diga? Que sinto muito? Que vou parar? Eu não posso. Não quando aquela... coisa dentro de mim assume o controle."
"Eu não estou pedindo desculpas, Minho," disse Joshua, sua voz suave mas firme. "Eu só quero entender. E quero ajudar."
Minho bufou, frustrado. "Ajudar? Como você pode ajudar com algo que nem eu entendo completamente?"
Joshua se inclinou para frente, colocando uma mão reconfortante no braço de Minho. "Vamos descobrir isso juntos. Eu não vou desistir de você, Minho."
Minho olhou para a mão de Joshua, sentindo um nó se formar em sua garganta. Ele queria acreditar nas palavras de Joshua, mas o medo e a insegurança o impediam. "E se eu machucar você? E se eu não puder parar?"
Joshua apertou o braço de Minho, os olhos cheios de determinação. "Você não vai machucar. Eu confio em você, Minho. E vamos encontrar uma maneira de controlar isso."
O silêncio entre eles se aprofundou, mas desta vez, não estava carregado de medo ou incerteza. Havia uma compreensão mútua, um compromisso silencioso de enfrentar o desconhecido juntos.
Enquanto isso, dentro da casa, Hyungwon continuava a ponderar sobre as anotações no caderno. Ele se perguntava o que Joshua estava escondendo, o que poderia ser tão terrível que sua mente preferia apagar do que enfrentar. Ele sabia que as respostas estavam lá, enterradas nas profundezas da psique de Joshua, e que precisariam de mais tempo e paciência para emergir.

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survivors
RandomNum mundo devastado por criaturas e experimentos científicos que transformaram humanos em monstros, a luta pela sobrevivência é implacável. Em meio a esse caos, Joshua e seus companheiros enfrentam dilemas morais e emocionais, tentando encontrar um...