seremos revoltados, enquanto ouver razão

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Os dias arrastaram-se em uma espiral de incerteza e medo, e a tensão no ar do quarto era quase palpável. A ajuda que todos esperavam nunca chegou, e agora a sobrevivência dependia de suas próprias mãos. O silêncio era cortado apenas pelo som do chuveiro no banheiro, onde Team, ajoelhado, lavava as roupas com gestos mecânicos. Seus murmúrios de frustração ecoavam pelas paredes de azulejos. Ele estava irritado, não com Win, mas com a situação, a sensação de impotência o consumia.

Win, encostado na porta, observava em silêncio. Havia um peso nos olhos de Win, um reconhecimento silencioso de que pelo menos Team estava distraído. Lavar as roupas, uma tarefa tão simples, era agora uma válvula de escape. Win sabia que Team precisava disso — precisava se manter ocupado para não ser engolido pelo desespero.

Do outro lado do quarto, Uea estava concentrado em algo mais prático. Sentado atrás de Saypha, ele fazia um curativo improvisado em seus ferimentos. As bandagens estavam longe de ser perfeitas, mas era o melhor que Uea podia fazer com o que tinha. O cheiro metálico de sangue persistia, misturado com o leve odor de desinfetante que eles haviam encontrado. Saypha permanecia em silêncio, seu olhar distante, perdido em memórias recentes de horror. Ele sentia a dor, mas era uma dor menor comparada ao que seu coração carregava. O arranhão em suas costas era apenas uma lembrança física da batalha que ele havia sobrevivido. O peso emocional, no entanto, era muito mais profundo, e Uea podia sentir isso.

Enquanto isso, King se movia pelo quarto, distribuindo o que restava da comida entre todos. Havia pouca coisa. A cada dia, as porções ficavam menores, e as conversas se tornavam menos animadas, à medida que a fome apertava. O cheiro de ração enlatada e frutas secas era tudo o que restava para alimentar o grupo, uma lembrança amarga de sua vulnerabilidade. Ele entregou uma porção a Uea, que aceitou com um aceno de cabeça, mas ambos sabiam que aquilo não seria suficiente. King suspirou, os ombros pesados com o peso da responsabilidade de manter todos vivos.

Nuer e Syn estavam na varanda, afastados do tumulto dentro do quarto. Eles trabalhavam em silêncio, Nuer pintando cuidadosamente um grande tecido branco com as letras "S.O.S." em vermelho. A tinta cheirava forte, quase intoxicante, mas Nuer ignorava. Ele precisava terminar a bandeira. O vento balançava suavemente o pano, enquanto Syn, de olhos fechados, sussurrava uma prece silenciosa, os lábios se movendo sem emitir som. Era um ato de fé, uma esperança que ele ainda se permitia ter, mesmo que o resto do grupo parecesse ter abandonado qualquer noção de resgate. O contraste era claro: Nuer trabalhava com determinação silenciosa, enquanto Syn se mantinha calmo, buscando forças em algo maior.

Do lado de dentro, Lian, com sua típica engenhosidade, estava curvado sobre um celular e um monte de cabos improvisados. Ele tentava, de alguma forma, criar um carregador funcional para trazer um pouco de conexão com o mundo exterior. Ao seu lado, Kon Diao observava, os olhos cheios de curiosidade e ansiedade. Lian explicava pacientemente, sua voz baixa, enquanto ensinava a Kon Diao como sintonizar o rádio portátil. O rádio era sua última esperança de captar algum sinal, uma mensagem, qualquer coisa que indicasse que ainda havia vida fora daquela bolha de pesadelo.

"Se conseguimos captar algum sinal, mesmo que fraco, talvez possamos ouvir notícias," disse Lian, sua voz calma, mas com um leve tom de desespero subjacente. Kon Diao assentiu, focado nas instruções, seus dedos trêmulos girando o dial do rádio, à procura de qualquer som que pudesse romper o silêncio mortal que havia caído sobre eles.

Enquanto isso, Phayak e Kuea estavam num canto do quarto, cercados por objetos cotidianos que haviam transformado em armas improvisadas. Havia uma faca de cozinha, alguns pedaços de metal que arrancaram dos móveis, e um pedaço de madeira que Kuea estava afiando com uma lâmina rudimentar. O ar ao redor deles cheirava a madeira queimada e suor. Nenhum dos dois falava, mas havia uma compreensão mútua: se ninguém viesse, teriam que se defender. E talvez, se a ajuda nunca chegasse, eles teriam que lutar pela própria sobrevivência de maneiras que ainda não haviam contemplado.

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