survivors

algo oculto e impuro, deve aflorar

Seungcheol entrou silenciosamente no apartamento de Joshua, fechando a porta com o máximo de cuidado para não fazer barulho. O ambiente estava quase escuro, iluminado apenas pela luz suave que vinha de fora, filtrada pelas cortinas. O cheiro leve de café velho ainda pairava no ar, um resquício de uma noite longa que havia passado. Seus passos foram leves enquanto caminhava pelo pequeno corredor, atento aos sons à sua volta.

Quando chegou à sala, a cena que encontrou fez seu coração apertar. Joshua e Mingyu estavam deitados no sofá, em uma posição que parecia natural para quem os conhecia bem. Mingyu, o mais alto e robusto, estava abraçando Joshua de uma maneira protetora, com os braços ao redor dele como se estivesse cuidando de algo muito frágil. Joshua, por sua vez, parecia tão pequeno e delicado nos braços de Mingyu, como uma raposinha adormecida, o cabelo castanho bagunçado e o rosto parcialmente escondido contra o peito de Mingyu. O silêncio entre eles era quase palpável, interrompido apenas pela respiração suave de ambos.

Seungcheol observou a cena por alguns segundos, hesitando. Faltava apenas uma hora para que todos precisassem se preparar para ir à faculdade, e Jeonghan ainda não havia chegado. Mas a última coisa que ele queria era acordá-los. Mingyu, especialmente, devia estar exausto. Desde que Joshua começara a ter suas crises mais sérias, Mingyu havia se tornado seu guardião constante, vigilante a cada movimento de Joshua, temendo o pior. O fato de Joshua já ter tentado tirar a própria vida pesava sobre todos eles, mas Mingyu carregava essa responsabilidade de uma forma diferente, como se tivesse decidido ser o protetor absoluto de Joshua.

Seungcheol suspirou baixinho, passando a mão pelos cabelos escuros, bagunçando-os ainda mais. Sabia que Mingyu precisava de descanso. Sabia que Joshua, mesmo dormindo, ainda estava lidando com seus próprios demônios. A escuridão na mente de Joshua era um terreno perigoso, e a qualquer momento, poderia se abrir e tentar tragá-lo de novo. Mas ali, naquele sofá, abraçado por Mingyu, ele parecia calmo, sereno, como se pelo menos por um breve instante, estivesse em paz.

Seungcheol decidiu não acordá-los de imediato. Em vez disso, pegou o cobertor jogado sobre uma das poltronas e o puxou delicadamente sobre os dois, tentando garantir que ambos estivessem confortáveis. Enquanto fazia isso, ele não conseguia deixar de pensar no quanto tudo aquilo era injusto. Joshua não merecia lutar contra esses pensamentos sombrios. Ele era uma alma gentil, mas a dor interna que carregava era algo que ninguém mais poderia entender completamente. Seungcheol apenas desejava poder fazer mais.

Com o cobertor ajeitado sobre eles, Seungcheol deu um passo para trás e se sentou na poltrona próxima. O sofá era pequeno para dois corpos tão grandes, e ainda assim, Mingyu e Joshua pareciam se ajustar perfeitamente um ao outro. Seungcheol apoiou os cotovelos nos joelhos e descansou o rosto nas mãos por um momento, tentando acalmar sua própria mente. O silêncio no apartamento era acolhedor, mas ao mesmo tempo carregado de uma tensão sutil.

Ele sabia que, eventualmente, teria que acordá-los. Não poderiam perder a faculdade, e Jeonghan chegaria a qualquer momento. Mas ainda assim, ele hesitava. Uma parte dele queria simplesmente deixá-los dormir, deixá-los aproveitar aquele breve momento de tranquilidade. Porém, outra parte sabia que o mundo lá fora continuava girando, implacável.

O som suave da porta do apartamento se abrindo chamou sua atenção. Seungcheol ergueu a cabeça e viu Jeonghan entrar, os olhos atentos captando a cena na sala. Jeonghan, sempre perceptivo, não precisou de palavras para entender o que estava acontecendo. Ele fechou a porta com o mesmo cuidado que Seungcheol e caminhou silenciosamente até onde o namorado estava sentado.

"Como eles estão?" Jeonghan sussurrou, a voz baixa para não perturbar o silêncio.

Seungcheol deu de ombros, suspirando. "Estão dormindo. Parecem tranquilos agora, mas você sabe como é. Mingyu está esgotado, eu não queria acordá-los."