intermissão

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Joshua entrou na sala do Dr. Mendez com passos hesitantes, seu rosto pálido e os olhos vermelhos de falta de sono. Ele mal conseguia controlar o tremor de suas mãos enquanto se sentava na poltrona que agora parecia mais um tribunal do que um local de conforto.

O Dr. Mendez observou atentamente o jovem à sua frente. Joshua estava claramente abalado, mais do que nunca. Ele pegou sua prancheta e se inclinou para a frente, sua voz firme, mas compassiva.

"Joshua, vejo que você está bastante perturbado hoje. Quer me contar o que está acontecendo?"

Joshua engoliu em seco, sentindo a garganta seca e apertada. "Eu... eu acho que estou enlouquecendo, doutor. Eu... fui diagnosticado com estresse pós-traumático há um mês, e desde então... as coisas têm piorado."

O Dr. Mendez assentiu, sinalizando para que Joshua continuasse. "Você mencionou alucinações auditivas anteriormente. Algo mudou em relação a elas?"

Joshua assentiu, seus olhos enchendo-se de lágrimas. "Agora... agora não são só vozes. Eu... eu vejo minha mãe. Nos cantos da sala, no espelho, nas sombras. Ela parece... um demônio, uma coisa indescritível. Ela está... me observando, e parece que quer me levar à loucura. Ou talvez só esteja se divertindo vendo eu perder a sanidade aos poucos."

O Dr. Mendez franziu a testa, claramente preocupado. "Joshua, isso parece extremamente perturbador. Alucinações visuais, especialmente de figuras familiares de maneira distorcida, podem ser sintomas graves de psicose induzida pelo estresse. Precisamos entender a etiologia dessa manifestação."

Joshua enterrou o rosto nas mãos, sentindo-se esmagado pelo peso de suas palavras. "Eu... eu nem consigo atender as ligações do meu primo, Vernon. Três pessoas me viram parecendo um louco. Incluindo... incluindo Mingyu."

O Dr. Mendez se inclinou para a frente, sua voz um pouco mais baixa e consoladora. "Joshua, a mente humana é complexa e extraordinária, mas também vulnerável. Quando falamos de estresse pós-traumático, estamos nos referindo a uma desregulação no eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal (HPA), que é responsável pela nossa resposta ao estresse. Isso pode provocar uma miríade de sintomas, incluindo alucinações, que são representações visuais ou auditivas de traumas não resolvidos."

Joshua respirou fundo, tentando absorver as palavras do psicólogo. "Mas... por que minha mãe? Por que dessa forma?"

O Dr. Mendez fez uma pausa, escolhendo suas palavras cuidadosamente. "A imagem de sua mãe, especialmente distorcida como um demônio, pode ser uma manifestação de um conflito interno profundo. Pode simbolizar uma parte de você que se sente culpado ou abandonado. A distorção grotesca pode ser a maneira de sua mente ilustrar o medo visceral e a dor emocional que você sente."

Joshua balançou a cabeça, sentindo-se impotente. "Mas o que eu faço? Como faço isso parar? Eu só quero... quero parar de me sentir assim."

O Dr. Mendez suspirou, sua expressão suavizando. "Joshua, primeiro precisamos trabalhar para estabilizar seu estado mental. Terapias como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e, em alguns casos, medicação antipsicótica podem ser necessárias. Também vamos trabalhar em técnicas de grounding para ajudar a trazer sua mente de volta ao presente e reduzir essas alucinações."

Joshua mordeu o lábio inferior, tentando segurar as lágrimas. "E... quanto ao Mingyu? Ele me viu assim. Ele e mais duas pessoas. Eu não sei o que fazer."

O Dr. Mendez olhou para Joshua com compaixão. "Joshua, sentir vergonha é uma resposta natural, mas lembre-se de que todos passamos por momentos difíceis. É importante não se isolar. Às vezes, ser honesto sobre o que está acontecendo pode trazer apoio inesperado. Mingyu parece ser uma pessoa que se preocupa com você. Talvez seja o momento de deixar que outras pessoas entrem em sua vida e lhe ofereçam o suporte que você merece."

Joshua assentiu, embora ainda sentisse o peso da vergonha e do medo. "Vou... tentar. Mas estou com tanto medo de que eles me vejam como um louco."

O Dr. Mendez sorriu suavemente. "Loucura é um termo estigmatizante, Joshua. O que você está passando é uma resposta humana à dor e ao trauma. E com ajuda, você pode superar isso. Não tenha medo de pedir apoio."

Joshua deixou escapar um suspiro trêmulo, sentindo um pequeno raio de esperança perfurar a escuridão. "Eu vou tentar, doutor. Obrigado."

O Dr. Mendez assentiu, satisfeito. "Estou aqui para ajudá-lo, Joshua. Sempre que precisar."

Enquanto Joshua saía do consultório, ainda carregando um fardo pesado, ele sentiu uma pequena, mas significativa, centelha de esperança. Ele sabia que a jornada seria longa e difícil, mas agora havia um caminho à frente, e talvez, com o tempo, ele pudesse encontrar a luz no fim do túnel.






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