Jogo Perverso

Capítulo 86 - Reclamação

Os arranhões nas costas de Dante arderam quando ele entrou no banho para se arrumar para a reunião. Aquela dor o lembrava da realidade. Ian invadiu o seu quarto pedindo para lhe entregar o seu pior, e por alguma razão agora fingia que nada tinha acontecido. Não podia deixar que isso continuasse.

Passou tanto tempo negando-se a aceitar que o mesmo sentimento que tinha por Ivy era semelhante ao que nutria por Ian. Algo que deveria ser natural, já que eram a mesma pessoa. Mas Dante não pensava assim. Não tinha nada de natural sentir essa compulsão por outro homem.

Ainda assim ele sentia.

Não era como se Dante conseguisse aceitar plenamente a situação, ele só não tinha mais como esconder. O casamento deles já era de conhecimento público, e a única forma de diminuir os danos seria assumindo a relação de cabeça erguida.

Depois de resistir o máximo que pôde a essa ideia, Dante não conseguiu mais quando Ian foi a sua procura. Já era difícil resistir a sua coisinha estando a alguns quartos de distância, e tornou-se uma missão impossível ao ver Ian implorando por sua companhia, implorando por ele, implorando para que o fodesse.

Entregar-se foi a pior e melhor coisa que Dante tinha feito. Nunca tinha se sentido tão pleno e completo quanto naquele momento em que teve Ian em seus braços sem nenhuma amarra. E ao mesmo tempo sentiu-se tão traído ao não saber diferenciar supostas alucinações da realidade. Acordou exuberante, com a sensação de que tudo estava no lugar certo, até descobrir que sequer sabia se tudo aquilo tinha realmente acontecido.

Ao ver o lábio de Ian ferido, Dante teve certeza de que não era invenção da sua cabeça, e naquele momento sentiu como se várias agulhas perfurassem o seu peito. Ian estava jogando com ele um jogo muito perigoso.

Antes que pudesse fazer as devidas reclamações precisava mantê-lo perto e tratá-lo bem. O desejo de Ian era ser tratado da mesma forma como Dante tratava Ivy, esse era o caminho para domá-lo. Dante sabia como ser galanteador e como tratar bem uma mulher, talvez não fosse tão diferente com um homem.

Ser um bom parceiro sempre esteve nas intenções de Dante quando propôs o casamento a Ivy. Os seus planos só foram arruinados por causa das mentiras de Ian. Mas agora que todos os empecilhos tinham saído do caminho podia deixar todo esse drama para trás e viver a relação que sempre desejou.

Claro que não seria tão fácil esquecer de tudo. Ainda sentia muita raiva por ter sido enganado de forma tão grotesca, e ao mesmo tempo sentia-se encantado. Ian era um ninguém, não tinha dinheiro, nem influência, e mesmo assim conseguiu enganar o Rei do Inferno por tanto tempo. Isso mostrava o quão forte e inteligente ele era, e seus atributos o deixavam ainda mais atraente. Por isso Dante nunca foi capaz de odiá-lo por tudo que tinha feito.

A raiva que Dante jogou em Ian não foi pela mentira, não foi por ter sido enganado, nem por ter se sentido traído pelo seu braço direito. Todo comportamento agressivo após descobrir a verdade, foi para negar o inegável. Dante estava completamente e irrevogavelmente obcecado por Ian.

Não tinha mais volta, precisa ter Ian em sua vida, não só isso queria que Ian quisesse estar ao seu lado.

Levar Ian para a reunião do Inferno seria um bom começo. Serviria para fazer com que ele se sentisse realmente parte da organização. No topo dela. E seria o primeiro teste de como os demais integrantes lidariam com a situação. Dante esperava que eles estranhassem inicialmente, mas aceitariam, eventualmente. O esperado era que Isaac seria o primeiro a dar o seu aval e Armando o último.

Para a surpresa de Dante apenas Armando parecia incomodado com Ian. A torre sempre foi contra a relação de Dante com Ivy, e já tinha lhe avisado o quão traiçoeira era aquela relação. Um grande "Eu te avisei" estava escrito por todo o seu rosto. Em contrapartida os outros líderes aceitaram bem.