Dia 79

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Ananda

A pilha de papéis parecia maior do que realmente era. Sentada na cama, com uma pasta aberta à minha frente e várias folhas espalhadas, eu me concentrava em revisar cada documento do divórcio. O peso emocional era esmagador, mas eu sabia que precisava finalizar aquilo. Amanhã era o dia em que eu e Richard enfrentaríamos a realidade no tribunal.

Enquanto lia os detalhes, tentava não me perder nos pensamentos. Cada linha parecia um lembrete de tudo o que vivemos, de tudo o que deu errado e de tudo o que poderia ter sido diferente. Respirei fundo, afastando as memórias.

De repente, ouvi passos pequenos e apressados no corredor. Estranhei. Olhei para o relógio no criado-mudo e franzi a testa. Thaís deveria estar na natação com a babá agora. Por que estava em casa?

Antes que pudesse levantar, a porta do quarto se abriu devagar e Thaís entrou. Ela usava o maiô azul com detalhes rosa que adorava, mas seu rosto mostrava que algo a estava incomodando.

  – Oi, princesa. — Sorri, tentando esconder o cansaço e o peso que sentia naquele momento. — O que aconteceu?

Ela não respondeu de imediato. Apenas se aproximou, puxando de leve o tecido do meu vestido. Abaixei-me um pouco para ficar na altura dela e acariciei seu rostinho.

  – Tá tudo bem? Por que você não tá na natação?

Thaís me olhou com aqueles olhos grandes e brilhantes que sempre pareciam ler minha alma. Ela hesitou por um momento antes de perguntar:

  – Mamãe... mesmo que o papai esteja fora por um tempo, ele vai poder ir na minha festinha de Natal na escola?

A pergunta atingiu meu peito como um soco. Por um instante, me senti incapaz de responder. Um nó se formou na minha garganta, e minha respiração vacilou. Ela estava tão inocente, tão cheia de esperança... e eu, tão incerta.

Lembrei da última apresentação na escola, da luta que foi para Richard se organizar e aparecer. Ele só foi porque eu literalmente configurei o celular dele para não deixar passar a data. E agora? Será que ele realmente iria?

Engoli em seco e forcei um sorriso, tentando não deixar transparecer minha insegurança.

  – Vai sim, meu amor. Ele vai.

Thaís sorriu, aliviada, e meu coração apertou ainda mais.

  – E depois? Ele vai me levar pra casa dele?

Apertei os lábios, tentando conter a angústia que aquela pergunta simples provocava.

  – Vai sim, filha. Vocês podem passar um tempinho juntos, sim.

Ela soltou um risinho animado e me abraçou, deixando-me ainda mais abalada. Passei as mãos pelos cabelos dela, tentando focar naquele momento e não na enxurrada de sentimentos que me consumia.

  – Mamãe?

  – Sim, meu amor?

  – Você também vai na minha festinha, né?

  – Claro que vou. Não perco por nada. — Sorri, apertando-a nos braços.

Thaís ficou mais alguns segundos no meu colo antes de sair correndo para brincar. Fiquei ali, sentada na cama, com os papéis espalhados e um vazio no peito.

Eu queria acreditar no que disse a ela, queria acreditar que Richard estaria lá. Mas depois de tudo, não sabia se podia contar com isso.

Olhei para os documentos à minha frente, sentindo o peso da decisão que tomaríamos amanhã. Thaís não sabia da profundidade do que estava acontecendo. Para ela, tudo ainda era simples, ainda era fácil. E meu papel, como mãe, era manter essa simplicidade o máximo que pudesse.

Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora