Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard Ríos

Dia 51

Ananda

Richard vinha mostrando uma nova face, uma faceta que Thaís talvez nunca tivesse conhecido tão bem, e eu estava observando. Ele estava se esforçando de verdade para se aproximar dela. Era visível — desde os primeiros minutos da manhã, quando ele a levava até a porta da escola, ao jeito atencioso com que ela agarrava a mão dele e ao brilho curioso nos olhos de Thaís enquanto conversavam sobre suas pequenas aventuras diárias.

Hoje, ele chegou mais cedo do treino para buscá-la, algo que me pegou de surpresa. Eu me limitei a ficar em silêncio, observando os dois enquanto ele chamava a Thaís para um passeio no parquinho. Era uma cena que eu sempre imaginei para nossa filha: um pai presente, envolvido e atento aos detalhes que fazem a diferença. Sentada em um dos bancos afastados, eu os observava com uma mistura de sentimentos. Em mim, uma fagulha de esperança tentava ganhar força, mas também sabia que tinha que ser cautelosa. Não era a primeira vez que Richard prometia mudar, e eu não queria ver Thaís desapontada.

No parquinho, ele era outra pessoa. Cada gesto parecia cuidadosamente pensado, como se estivesse tentando ser o pai que Thaís merecia. Ele a ajudava a subir no escorregador e, quando ela descia, soltava uma risada despreocupada, daquelas que fazem a gente acreditar que o mundo é simples. Thaís gargalhava, cada vez mais à vontade, e eu me sentia emocionada por vê-la tão feliz, tão genuinamente envolvida com o pai.

  – De novo, papai! — ela pediu, puxando-o pela mão.

  – De novo? Você vai acabar me deixando exausto, sabia? — ele respondeu, rindo enquanto a seguia de volta ao topo do escorregador.

Por um momento, não consegui tirar os olhos deles. Havia algo profundamente transformador naquela cena. A cumplicidade entre os dois estava ali, como se sempre tivesse existido, mas, ao mesmo tempo, era nova e frágil. Ele realmente parecia disposto a criar um vínculo real com a nossa filha.

Então, algo inesperado aconteceu. Richard se abaixou para ajudar Thaís a subir num brinquedo um pouco mais alto, e ela o abraçou repentinamente, como se quisesse retribuir aquele carinho que ele estava oferecendo. Ele congelou por um instante, surpreso, e eu podia ver que algo nele estava se quebrando — talvez aquela barreira de orgulho ou resistência que ele sempre carregou. Ele retribuiu o abraço, apertando-a com um carinho e uma delicadeza que eu nunca tinha visto antes.

Eu senti meu peito apertar com aquela cena, me perguntando se aquilo era mesmo real. Será que, desta vez, ele estava tentando de verdade? E, se estava, será que ele seria capaz de manter isso?

O tempo parecia passar devagar enquanto eu os observava. Thaís já estava mais cansada depois de tanto brincar, e Richard a pegou no colo, caminhando lentamente pelo parquinho enquanto conversavam baixinho. Eu vi o rosto dela, apoiado no ombro dele, e por um momento desejei que essa nova fase fosse verdadeira e duradoura. Ela merecia esse tipo de presença.

Mais tarde, já em casa, Richard trouxe Thaís para a cozinha, ajudando-a a lavar as mãos enquanto me lançava um breve olhar. Não consegui retribuir o sorriso por completo; havia ainda muita coisa pairando entre nós, mas senti uma vontade inexplicável de acreditar. Algo naquela tarde tocou uma parte de mim que eu vinha protegendo há muito tempo.

Quando ele colocou Thaís para dormir, eu fiquei observando da porta. Ele estava ali, ao lado da cama dela, acariciando os cabelos dela enquanto contava uma história de forma paciente e doce. A expressão de paz no rosto de nossa filha era um reflexo do conforto que aquele momento lhe trazia. Richard sussurrava baixinho, terminando a história, e fiquei ali parada, sentindo a profundidade da cena.

Ao sair do quarto, ele se deparou comigo e pareceu surpreso, mas também um pouco inseguro sobre o que dizer. Ficamos nos encarando por alguns segundos, e percebi que ele queria compartilhar o que sentia.