Epílogo

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Dois meses depois
Ananda

A luz do sol do Rio de Janeiro entrava pelas cortinas abertas, iluminando o quarto que, depois de meses, finalmente estava pronto. Eu tinha passado os últimos dias ajeitando cada detalhe, escolhendo as cores, organizando os brinquedos da Thaís e colocando nossas coisas no lugar. Era como se arrumar aquele quarto fosse um jeito de organizar tudo o que vivi nos últimos meses, de colocar cada sentimento no seu devido espaço e seguir em frente.

Terminei de ajeitar as almofadas na cama dela e me sentei no chão, olhando ao redor. O quarto agora era um reflexo da nossa nova vida: leve, cheio de cores, com o cheiro de maresia que invadia a casa.

Os últimos meses foram um turbilhão. Desde o dia em que o divórcio foi oficializado, muita coisa mudou. Deixar São Paulo foi uma decisão difícil, mas necessária. Minha mãe, dona Vera, tinha insistido que o Rio era o lugar certo para recomeçar. Eu resisti no início, achando que me afastar da cidade onde construí minha vida com o Richard seria como fugir dos meus problemas. Mas, no fundo, sabia que não era fuga. Era cuidado. Comigo e com a Thaís.

Lá em São Paulo, tudo parecia me lembrar do casamento. Da casa que compramos juntos, dos móveis que escolhemos, das paredes pintadas com o suor do nosso esforço. Até mesmo o trajeto para o trabalho parecia uma coleção de memórias que me sufocavam. Viver no mesmo lugar estava me impedindo de seguir adiante, então decidi que era hora de voltar para onde tudo começou: para perto da minha família.

Minha mãe abriu as portas da casa para nós duas sem hesitar. O quarto que antes era meu na infância agora tinha sido transformado para acomodar Thaís e eu. Ela estava amando essa mudança. Morar perto da praia era como um sonho para ela.

"Mamãe, posso pegar o baldinho?" — A Thaís tinha perguntado hoje de manhã, com os olhos brilhando de animação, enquanto eu organizava os armários.

Todos os dias ela queria ir à praia, correr na areia, fazer castelos e deixar as ondas tocarem seus pés. Eu nunca tinha visto minha filha tão feliz e cheia de energia. Ela sempre foi sapeca, mas agora parecia transbordar alegria.

Ela também estava lidando bem com a nova rotina. No início, fiquei preocupada com como ela reagiria à distância do pai. Pensei que seria difícil para ela entender que Richard não estaria ali todos os dias. Mas, para minha surpresa, Thaís demonstrou uma maturidade que eu não esperava de uma criança de apenas três anos.

"O papai vai me ligar hoje?" — Ela perguntava, quase diariamente, com uma confiança que aquecia meu coração.

E Richard, para meu alívio, não decepcionou. Ele ligava para ela quase todos os dias, às vezes por vídeo, às vezes apenas para ouvir a voz dela. Eu sabia que ele estava se esforçando para continuar sendo presente na vida dela, mesmo a quilômetros de distância. Era uma das coisas que me fazia dormir tranquila à noite.

Terminei de organizar os últimos brinquedos no baú dela e fui para o meu quarto. Também tinha feito algumas mudanças nele. A cama, os lençóis, a decoração — tudo diferente, como se fosse uma tentativa de apagar os fantasmas do passado. Enquanto dobrava algumas roupas, me peguei pensando em como os últimos meses tinham sido para mim, além da adaptação da Thaís.

Foi difícil no começo. Muito difícil. Quando o divórcio foi oficializado, senti como se estivesse perdendo uma parte de mim. Afinal, foram anos de um relacionamento que, apesar de todos os altos e baixos, foi importante e me marcou profundamente. Foi estranho acordar sozinha na cama pela primeira vez, estranho não esperar mais uma mensagem dele no fim do dia perguntando como estava meu trabalho ou se Thaís tinha dormido bem.

Mas, aos poucos, comecei a perceber que o que eu sentia não era exatamente saudade dele, e sim da ideia de ter alguém ao meu lado. Era difícil admitir, mas o Richard e eu havíamos nos perdido há muito tempo. O divórcio só oficializou o que já estava acontecendo.

Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora