Dia 58

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Richard

O aroma do café fresco começou a se espalhar pela cozinha, e eu respirava fundo, tentando aproveitar cada segundo daquela manhã. Eu havia me levantado mais cedo do que o normal, pronto para preparar nosso último café da manhã em Campos do Jordão. Tinha sido uma viagem diferente de tudo que já vivemos, e de certa forma, eu sentia uma certa paz por ter passado esse tempo com Nanda e Thaís longe de tudo. Mas, junto com essa paz, um aperto crescia no peito, uma sensação que eu não conseguia afastar.

Enquanto misturava os ovos e observava o pão dourar na torradeira, ouvi passos atrás de mim. Olhei por cima do ombro e vi que a Nanda estava na porta, acompanhada de Thaís, que parecia ainda meio sonolenta, mas sorria, já segurando seu bichinho de pelúcia favorito. Nanda tinha o rosto ainda meio amassado de sono, mas o olhar determinado, como sempre.

  – Acordaram cedo — comentei, tentando soar casual enquanto colocava os pratos na mesa.

Nanda deu um sorriso leve, mas não era aquele sorriso solto que eu tanto amava ver. Era algo mais... contido. Ajeitou o cabelo enquanto ajudava Thaís a se acomodar na cadeira, depois se virou para mim.

  – Quero aproveitar pra arrumar tudo antes de partirmos — ela respondeu. Havia uma certa formalidade na voz dela, como se tentasse esconder alguma coisa. Algo que vinha crescendo entre nós, eu sabia, mas ainda era difícil de encarar.

Assenti, tentando disfarçar a pontada que senti no peito com a ideia de ir embora. Esse lugar parecia trazer o melhor dela, de mim, de nós dois juntos. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que, por mais que essa viagem tivesse sido boa, ainda parecia haver uma distância entre nós, uma barreira que eu não conseguia quebrar.

  – Fiz café e ovos, espero que gostem — falei, tentando tirar o peso do clima. Me aproximei de Thaís, dando um beijinho na testa enquanto ela me olhava com aquele sorriso que me derretia. Ela era minha conexão com a parte boa da vida, e eu queria ser o pai que ela merecia, o marido que Nanda poderia confiar. Mas, no fundo, eu sabia que ainda havia muito a ser feito, e o medo de voltar para São Paulo e perder tudo que construímos aqui me perseguia.

Me sentei para comer, e Thaís começou a contar sobre tudo o que queria fazer quando chegasse em casa, como mostrar os brinquedos novos para os amigos, enquanto Nanda a ouvia com aquele sorriso acolhedor. Eu observava as duas, notando o quanto Nanda parecia tranquila — ou pelo menos, tentava se mostrar assim. Mas, ao mesmo tempo, algo na maneira como ela falava e olhava para Thaís me fazia sentir que, para ela, tudo isso era apenas um breve intervalo de paz. Que, no fundo, ela ainda estava com um pé atrás.

Terminei meu café em silêncio, refletindo sobre tudo que estava acontecendo entre nós. Eu queria acreditar que essa viagem havia mudado algo, que os momentos que compartilhamos tinham reaproximado nossos corações. Mas, a verdade, por mais difícil que fosse admitir, era que eu ainda via o receio nos olhos dela. Era como se, no fundo, Nanda estivesse apenas esperando o próximo erro da minha parte. O próximo deslize.

Ela se levantou antes de mim e começou a ajeitar as coisas, preparando as malas e organizando os pertences de Thaís, que continuava a brincar com o que encontrava pelo quarto. Eu a observei de longe, enquanto ela dobrava as roupas com uma expressão concentrada, quase fria. No fundo, eu queria acreditar que tinha mudado algo nela, que ela via alguma diferença em mim. Mas, ao mesmo tempo, sabia que uma viagem não era suficiente para desfazer anos de promessas quebradas.

  – Precisa de ajuda? — perguntei, tentando me aproximar. Eu sabia que não resolveria todos os nossos problemas apenas ajudando com as malas, mas, pelo menos, queria mostrar que estava ali, disposto a fazer minha parte.

Como Perder A Sua Mulher Em 80 dias | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora