Até onde você iria para alcançar seus objetivos?
Até onde você iria por uma missão?
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A resposta varia de pessoa para pessoa, mas, para o Capitão Roberto Nascimento e a escritora Helena Magalhães, o céu é o limite.
Ao se ver estagnada no começo de...
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— Helena Magalhães
Os pelos de meu corpo se arrepiaram ao sentir seu olhar sobre mim. Porra, esse homem me dá medo. Ele possui dois abismos no lugar dos olhos, como se fossem me abduzir e me prender lá. O olhar atento e as sobrancelhas relaxadas enquanto assiste os garotos fazerem flexioes me faz achar que ele pode ser bem sádico, o que me dá até mais medo. Ele parece se divertir com isso. Parece gostar de vê-los suar e se exercitarem até a falha.
Ao cair da noite, não voltei para casa. Não tenho o que fazer lá além da minha escrita, e eu gosto de estar aqui. Embora eu seja a única mulher nessa imensidão que é o batalhão, eu me sinto acolhida por eles. Eles entendem meu propósito e não me tratam como uma garota desmiolada, como meus pais.
— Mais dez! — Seu olhar se desvia de mim, voltando a encarar os rapazes. Depois de ordenar cinquenta repetições, Capitão Nascimento ordena que os soldados repitam essas flexões por mais dez vezes. É, ele realmente um sádico.
— Capitão, tem uma mulher procurando o senhor. — Engraçado que para eu entrar aqui foi uma luta, mas agora a mulherzinha dele pode entrar aqui e esperar na sala. Injusto para quem preza por justiça.
— Assume aqui essa porra. — Ele sai marchando, indo em direção Bocão. Ontem, conversando com Mathias e passando a tarde com todos aqueles homens, entendi que, na verdade, não são tão grotescos. Eles são arrogantes, isso é verdade, mas nada que um grande sorriso não amoleça. Um dos caras que Mathias me apresentou foi Neto Gouveia, seu melhor amigo. Também conheci Renan, Carvalho, Bocão e Josué. Foram muito educados comigo, mas sempre com aquela marra de fodão. Gostei deles.
Enquanto Bocão se aproximava do ponto em que o capitão estava parado, assisto Nascimento se afastar cada vez mais, até virar um ponto escuro na paisagem verde, ao longe.
— Você. — Chamando minha atenção, Bocão toca meu ombro. — Se está aqui, vai participar também. — Meus olhos se abrem em surpresa.
Eu não estou usando sutiã, estou usando jeans e não tenho metade do físico desses caras. Sou sedentária e a última vez que fiz flexão, acabei dormindo no chão. Mas eu estou aqui para aprender sobre os soldados, e qual a melhor maneira de entrar na vida deles do que entrando inicialmente no treinamento?
— Sim, senhor. — Tento uma continência fajuta, me juntando na contagem da terceira volta.
— Tudo de novo. Contando com a novata. — “Novata”, jura?
— Que merda, Helena. — Neto resmunga, se jogando no chão.
Suspiro, deixando de lado todas as reclamações que estão me fazendo. Foda-se, eu não sou o estereótipo de menina riquinha que nunca fez um exercício na vida. É óbvio que eu posso fazer isso.