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— Helena Magalhães


Ninguém havia me contactado ainda, em relação a trabalho. Estive entregando currículos dois dias seguidos, e só realmente voltei pra casa sem nenhum em mãos, então por quê não me chamaram para sequer uma entrevista? Talvez o meu currículo seja horrível, afinal, eu não tenho experiência nenhuma.

Não imaginava que conseguir um emprego fosse tão difícil.

— Beto, você acha meu currículo ruim? Seja sincero. — Perguntei, sentada ao lado de Roberto.

Ambos sentados na cozinha, mas eu estou esperando qualquer coisa na caixa de entrada do email, enquanto Roberto faz algumas contas referente a pagamentos da casa.
Eu recebo, todos os meses, valores referente às vendas dos meus livros. Eu tenho três livros publicados, e a média de venda mensal é dez ou mais. Cada livro é mais de cinquenta reais físico, sem contar ebook. Meu preço sendo de 30% do lucro, me surge uma grana pra fazer algumas coisas, mas não é o suficiente.

— Um pouco. — Sempre admirei a sinceridade de Roberto, e ele não fala em tom de implicância ou desdém, é sempre como uma crítica construtiva, que vem a ser destrutiva se não soubermos lidar. — A falta de experiência em comércio acaba com possibilidades, mas você tem ensino superior então ajuda bastante.

Levantei da cadeira, imitando e gesticulando enquanto ele falava. Acho até engraçado quando ele começa a falar assim, sério, como se soubesse de tudo. Talvez ele não saiba, mas mostra um domínio sobre o mundo e um conhecimento que eu nunca terei. E isso é irritante... E excitante.

— Eu tô vendo você me imitar.

— Nunca seria chata o suficiente para imitar você. — Caminhei até o quarto, vendo os lençóis bagunçados que ainda não arrumamos. Peguei minha bolsa e os quase quatrocentos reais que nela eu guardava.

— Tem gente que gosta desse chato. — Sua voz era carregada de ego, autoestima. Não sei de onde saiu isso.
— Quem? — Desdenhei.

— Ah, algumas pessoas...

— Deve ser as maconheiras do centro que você revista. Só pode. — Caminhei com o dinheiro em mãos, colocando gentilmente sobre a mesa. — Eu não tenho muito, mas quero ajudar.

Roberto me encarou com um sorriso orgulhoso, apesar do olhar penoso. Eu entendo exatamente o que se passa na cabeça dele agora.

Quando eu morava com os meus pais, meu dinheiro era para coisas para mim, e só. Nunca soube o que é pagar uma conta e eu só sabia como era um boleto porque eu tinha que entregar ao meu pai. É ridículo, mas é a verdade. Eu quero ser independente, eu quero ser madura o suficiente pra ele. E ser sustentada por Roberto não é uma opção.

— Eu entendo o que isso significa, mas eu não vou aceitar. — Oscilou entre olhar para mim e para o dinheiro. Eu não quero me sentir um peso. Não quero sentir que não estou contribuindo com nada. Odeio me sentir como uma intrusa, mas é como eu me sinto. Eu adoro estar aqui, adoro a paz que eu sinto nesse lugar e principalmente no solário, mas eu ainda sinto como se eu estivesse na casa do meu namorado temporariamente, e não que essa casa é o lugar onde vou morar até a minha morte. É algo irreal para mim.

— Claro que vai, seu velho. — Sorri.

— Amor, é sério. Esse dinheiro é seu.

𝐵𝐸𝑇𝑊𝐸𝐸𝑁 𝑈𝑆| 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑜 𝑁𝑎𝑠𝑐𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜Onde histórias criam vida. Descubra agora