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— Helena Magalhães

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Helena Magalhães

Enquanto Júlia e Benjamim estão no quarto, encaro a parede da casa deles. Eu sou nojenta. Eu fiz uma coisa horrível e isso nao tem perdão. Independente de qualquer coisa, eu ter traído meu namorado não foi como uma vingança contra qualquer coisa que ele já tenha feito, foi um desvio de caráter meu. Foi um problema comigo. Eu não deveria ter feito aquilo.

Mas eu também não iria conseguir resistir por mais tempo. Eu não iria conseguir resistir a Roberto me encarando com aquele olhar maligno todas as vezes que eu o desafiasse ou  com o olhar compadecido todas as vezes que eu me escondesse de tudo. Ele foi meu salvador, ele foi incrível. Ele, mesmo dizendo que não queria meu bem estar, estava ali por mim. Quando me protegeu e me acolheu hoje, naquela sauna e na praia, tocou o mais profundo da minha alma. Era como se eu fosse dele e que ele zelasse por mim. Não era como se tivesse controle sobre mim, mas era como se fizesse questão de me deixar o mais livre possível, estando sob sua proteção para isso. Eu não me senti sufocada, eu me senti bem. Me senti bem e livre, uma vez na vida.

Eu não posso mais levar isso adiante. Não posso enganar Octávio dessa forma, mas isso também não significa que eu vá dar ouvidos aos meus pensamentos tão idiotas e sem nexo de investir no capitão. Isso nao iria dar certo. Meus pais iriam surtar, principalmente meu pai. Fora que Roberto é mais velho e ja viveu tanta coisa e não teria paciência comigo. Iria conseguir o que queria comigo e depois diria ser maduro demais para mim e que estaríamos em momentos diferentes e.... Por que eu estou pensando tudo isso? Por que estou cogitando isso e, pior, por que estou colocando tantos empecilhos?

Me remexo no sofá, ficando frente a frente com o recosto. Eu podia vê-lo nesse estofado branco. Poderia ver seu rosto bordado. Nada está fazendo sentido na minha cabeça. Eu não consigo esquece-lo desde aquele maldito sonho. Talvez eu deva assumir essa leve obsessão e tentar tratá-la. Talvez eu deva beija-lo de novo pra passar. Ai, Helena, que ideia... Eu farei melhor. Desisto desse maldito livro e assim acabará o meu tormento. Não o verei mais, nem aquele batalhão.

Meu estômago revira só de imaginar um dia sem ver meus meninos, e, o pior de tudo, ficar sem vê-lo. Acostumei com a minha rotina de ir dar-lhe bom dia e rodar por todo aquele lugar e aprender as coisas mais fodas. Eu queria aprender a atirar. Eles tinham treinamento, mas Mathias nunca me deixava aproximar.

Eu não sei o que fazer. Não sei ficar longe deles, mas é o que eu farei. Ficarei longe e esquecerei isso tudo. Esquecerei de Mathias, de Neto, de Carvalho e de Josué. Esquecerei de todos eles a fim de esquecer Roberto. Será uma missão bem sucedida. Pensamentos positivos.

Inspiro fundo, sentindo uma angústia se transformar em uma dor física. Algo não está certo no meu peito. Um aperto, uma falta de ar repentina...

Levanto-me, seguindo até a cozinha. Preciso de água. Preciso caminhar.

Os pensamentos me atordoando. Eu não quero saber de Roberto. Não quero saber de Roberto nem de editora.

Agarro o copo com as duas mãos, despejando a água de vez pela minha boca e engolindo. Um nó que se formou em minha garganta se desfez, escorregando pela minha garganta com dificuldade, mas o ar ainda não volta.

𝐵𝐸𝑇𝑊𝐸𝐸𝑁 𝑈𝑆| 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑜 𝑁𝑎𝑠𝑐𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜Onde histórias criam vida. Descubra agora