— Helena Magalhães
Não precisei de alarme e nem de minha mãe para ser acordada hoje. Estive tão mal que nem dormi. Nada pode me fazer acreditar que aquelas pessoas são boas. Eu sei que ninguém é um monstro, mas como ele pode mandar matar uma pessoa tão friamente? Talvez ele estivesse certo. Talvez o meu lugar fosse na minha bolha porque pelo menos nela eu não vou ver essa merda toda.
Mas nem tudo nessa madrugada foi ruim. Comecei a organizar algumas informações e tópicos que gostaria de explorar na história ontem. Mathias me ajudou muito. O treinamento, as nossas simples, fúteis e curtas conversas e principalmente o ocorrido de ontem me ajudaram. As pessoas têm uma percepção muito extrema quanto ao BOPE. Ou as pessoas veneram, ou os temem e os odeiam por isso.
Estive tão desanimada que, às quatro e quarenta e três da manhã, comecei a fazer um bolo. E fiz. Bolo de laranja com cobertura de chocolate ao leite. Vou levar para os meninos. Eu não sei se consigo entende-los por terem matado aquele cara, mas eu sei que estavam apenas cumprindo ordens. O que eu não entendo é alguém conseguir ordenar aquilo. Eu consigo entender quem executou a ordem, afinal a sua vida depende disso, mas é tão cruel você ordenar acabar com a vida de uma pessoa.
Às sete, me encontrei parada em frente ao segundo portão do batalhão. Os rapazes, que inicialmente me trataram friamente, agora estão mais amigáveis, mais gentis. Foram tempos difíceis até conseguir amolece-los.
Marchando em direção à Mathias, que é o primeiro que vejo, tento fazer meu semblante mudar. Mathias foi o primeiro que eu conheci. E sem dúvidas foi o cara mais legal que eu conheci aqui. Mas vê-lo assistir toda aquela cena e não fazer nada me embrulhou o estômago. Aliás, retificando o que eu disse anteriormente, eu não consigo entende-los. Não consigo nem entender como eu não fiz nada.— Trouxe bolo para vocês. — Trazendo os cotovelos à altura dos meus seios, ergo o pote com bolo que trouxe. Mathias me encara, com um olhar divertido, que rapidamente volta a se tornar frio.
— Está tentando nos subornar para segurar a arma? — Ao ouvi-lo, arqueio uma única sobrancelha, e um sorriso curto e sem graça surge em meu rosto.
— Isso foi uma piada, soldado? — Entrego-o o pote, ainda sorrindo para ele. — E não, não é para segurar a arma que estou tentando suborna-los. — Noite passada, em um dos meus maiores picos de adrenalina e insônia, andei tendo algumas ideias. É óbvio que não me deixariam segurar a arma e sentir o poder e a superioridade de um policial mas ninguém falou nada sobre... — Curso. — Deixo, finalmente, a palavra sair e minha verdadeira intenção ser descoberta.
— Nem pensar. — Prontamente, ele nega. Com alguns farelos em sua bochecha, ele sai marchando assim que fala, me deixando para trás. E se acha que fazendo isso, não irei insistir, está muito enganado. — Pessoal, a protegida do capitão trouxe bolo. — Em um tom baixo, ele anuncia, adentrando uma das enormes salas. “Protegida do capitão”? Porra, protegida do capitão.
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𝐵𝐸𝑇𝑊𝐸𝐸𝑁 𝑈𝑆| 𝐶𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑜 𝑁𝑎𝑠𝑐𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
FanfictionAté onde você iria para alcançar seus objetivos? Até onde você iria por uma missão? . A resposta varia de pessoa para pessoa, mas, para o Capitão Roberto Nascimento e a escritora Helena Magalhães, o céu é o limite. Ao se ver estagnada no começo de...