Brincando Com Fogo

Capítulo 6 - Estupidez

O mundo a sua volta havia perdido suas cores originais e tudo o que via era cinza, azul e verde, todos seus sentidos estavam aguçados para a luta e parecia que seus sentimentos haviam sido colocados em segundo plano. Sabia que deveria estar sentindo medo, assombro ou pelo menos estar estranhando a situação, mas a presença tangível de seus elementais a cercando e mantendo seu corpo energizado, a confortava. Era como se houvesse sido assim sua vida inteira e não somente sua segunda vez usando seu Dom.

Percebeu que havia água escorrendo pelo seu corpo e formando uma espécie de armadura que ora era maleável, ora completamente rígida, e que o ar circulava a sua volta, arrastando poeira, folhas e o que quer que estivesse a sua volta, enquanto assobiava em seu ouvido.

E com seu foco todo concentrado no seu Dom e no que ela e seus elementais estavam fazendo, foi que se lembrou de que antes do seu Despertar haviam dito que ele havia controlado a Eletricidade, dando choques, e que há poucos segundos atrás raios caíam a ajudando também. Teoricamente tempestades faziam parte do seu Controle, mas conduzir especificamente descargas elétricas não era algo que deveria poder fazer.

"Há um elemental menor de Eletricidade por perto. Ele tem seguido você" - O Ar avisou.

A Água complementou: "Mas não é o momento adequado para conversarmos sobre isso. Concentre-se".

E logo entendeu o porquê: naquela forma conseguia sentir que Daya estava próxima, apesar de não conseguir identificar exatamente onde.

Alicia desejou então que a mira do elemental que estivesse a seguindo fosse afiada e vários raios começaram a cair em seguida, cada vez mais próximos, mostrando a aproximação daqueles que a perseguiam. Haviam mudando de tática e estavam a cercando.

- Está na hora - murmurou para si mesma.

Quando o primeiro carro se aproximou desgovernadamente e não mostrou a menor intenção de parar antes que se chocasse contra ela, Alicia conseguiu pular por cima dele com um impulso dado pelo Ar, ao mesmo tempo que quatro Descendentes saltaram dele.

Correu para cima de um deles, acertando um soco em seu queixo, antes que pudesse reagir a qualquer coisa, e a descarga elétrica em seu punho mais o impacto o deixou inconsciente no mesmo instante. Assim que outro se aproximou, comandou o Ar fazendo com que ele voasse para o alto e depois caísse de encontro ao chão. Quando procurou pelos outros, viu que um mirava uma arma em sua direção, mas, ao mesmo tempo que o disparo foi feito, uma corrente de ar a jogou para o lado fazendo com que esquivasse e em seguida afiadas agulhas de gelo cortaram a pele do Descendente fazendo ele gritar de dor.

E talvez aquilo a tivesse parado, talvez saber que poderia estar matando alguém pudesse contê-la em outro momento, mas seu corpo continuou se mexendo mesmo sem seu comando - cortesia dos seus elementais - e Alicia não tentou impedir.

O Ar continuou jogando Descendentes por todos os lados e impedindo-os de se aproximar com correntes de ar na direção contrário, a Água continuou trabalhando com o gelo na pista e cortando o máximo de Descendentes possíveis e seu elemental surpresa continuava eletrocutando tudo à vista. Cada vez mais Descendentes chegavam e cada vez mais caíam a sua volta inconscientes. Ou mortos.

Só que mais pareciam uma horda sem fim e Alicia começou a sentir-se desgastada, soube que não poderia arriscar manter esse ritmo, ou ficaria sem energia antes do final.

Maldição - Naquele momento sentiu que Daya havia se aproximado mais e soube que não poderia diminuir o ritmo.

De olhos fechados e embalada pelos gritos inimigos, pediu por mais poder. Assim que abriu os olhos novamente, viu o céu acima dela como nunca havia antes: era toda sua raiva, sua angústia, seu reflexo mais obscuro. Permitiu então que desabasse e admirou toda aquela sinergia impressionante entre os elementos, enquanto assistia um membro da Guarda ser atingido por um granizo quase do tamanho de uma bola de futebol, depois ser jogado para cima e para baixo pelo Ar, ser cortado por várias lâminas de gelo ao cair no chão e ser finalizado com um raio certeiro.