Seu corpo não se mexia, ignorando seus comandos, como se estivesse adormecido. Seus olhos também teimavam em não obedecer, tentava abri-los e eles fechavam logo em seguida, como se não tivesse forças nem para mantê-los abertos. Sua cabeça pesava uma tonelada e seu sintoma preferido pós-ataque-maldito-de-mente de imediato resolveu dar as caras: dor de cabeça.
Algo ecoava claramente em meio à confusão: Alicia estava ficando emputecida das pessoas a apagarem.
Precisava prestar atenção em sua respiração e seus batimentos. Ter controle de si mesma, como Evan havia ensinado a fazer assim que percebesse algum tipo de manipulação. Caçar pensamentos controversos e se situar em relação ao que estava acontecendo, logo conseguindo arrancar cada traço do Controle de algum Mentalista.
Era uma porcaria de um trabalho difícil de se fazer com a mente embaralhada.
Certo. Foram avisados do ataque. Fugiram. Foram atacados e perseguidos. Havia feito a estupidez de tentar resolver tudo sozinha. Havia caído numa armadilha. Viu seus amigos serem capturados e se rendeu. Por fim, algum Mentalista idiota fez algo com ela e estava naquela situação.
Ok, mente clara.
Agora só preciso me acalmar e me concentrar... Relaxar... Colocar as mãos em torno dos pescoços de cada um dos que ousaram tentar machucar meus amigos. Isso sim me daria uma paz de espírito sensacional!
Notou que seu corpo já não estava mais tão dormente, mas em compensação a dor havia resolvido aparecer como substituta e, como aquilo não era nenhum trabalho de algum maldito manipulador de mentes e sim resultado da luta anterior, o jeito era tentar ignorar.
Rolou e encarou o teto por alguns segundos, tentado focar em meio a pouca claridade. - Droga - Cada extremidade doía de verdade e, se fosse algo simples, já deveria ter se curado, então provavelmente os machucados eram mais sérios do que ela pensou inicialmente.
Seu corpo e mente reagiram uníssonos e Alicia pulou para longe, sentindo todo seu estômago gelar, assim que notou que a deusa estava alí com ela. Daya, que estivera a olhando atentamente, se levantou sorrindo, fazendo Alicia se posicionar pronta para qualquer coisa. Seu corpo queria se sacudir, reagir de alguma forma. Bater na maldita deusa e fazê-la se arrepender de cada injustiça.
Se acalme. Se acalme.
- Olá - uma voz doce e suave ecoou levemente, contradizendo o tom mortalmente sério que havia usado com ela antes. - Eu espero que perdoe o estado de nossas acomodações - Gesticulou teatralmente para os lados, com um sorriso frio nos lábios.
Com muito esforço, Alicia conseguiu tirar os olhos rapidamente da deusa e analisou o espaço a sua volta, percebendo que estava em uma cela.
- Querido, que bom que chegou. - Ela disse sem se virar para ver quem quer que havia resolvido aparecer, mas recuou e fechou a porta da cela. Alicia percebeu que ela não havia ativado nenhum tipo de tranca. - Veio conhecer nossa hóspede?
Em seguida, um vulto se aproximou e encostou na parede ao lado dela. Vestia um casaco preto que cobria quase todo seu corpo e um capuz caído no rosto, a impedindo de identificar qualquer traço.
- Somente uma garotinha indefesa - Era um homem e sua voz estava abafada.
Garotinha? O desprezo a irritou.
- Uma criança bem perigosa - Daya retrucou. - Você perdeu tudo.
- Pensei mais uma vez que eu seria um dos convidados da festa.
- Se eu o esperasse, poderia perder a festa. Agora a festa está aqui só esperando por você.
Em algum momento, esperando por sua réplica, seu sorriso havia desaparecido e Daya somente olhava para o encapuzado, que não havia dito mais nada e permanecia inerte apoiado na parede.
E como nenhum dos dois falou mais nada, Alicia resolveu falar: - Onde estão meus amigos? - perguntou, mantendo a voz firme. Não iria mostrar fraqueza. Ela e seus Guardas poderiam fazer o que quisessem com ela, mas somente depois que garantissem que eles estavam em segurança. De preferência embaixo das asas de Yam ou bem longe daquele lugar.
- Eles estão recebendo nosso tratamento VIP - disse e deu uma risadinha.
Sua ira inflou na mesa hora: - Você disse que deixaria eles irem embora!
A deusa parecia estar se divertindo às suas custas: - Você pediu por isso, mas nunca concordei, ratinha tola.
- Não ouse machucá-los - Alicia iria sair à força se precisasse e correu em direção a porta sem pensar duas vezes.
Assim que encostou na grade, urrou de dor. Recuou na mesma hora e caiu no chão choramingando. Havia queimado as mãos. Obviamente era de se esperar que o Fogo estivesse presente naquele lugar, seu pior inimigo.
Encarou as mãos trêmulas e percebeu que estavam bastante avermelhadas, mas que não havia sido nada muito feio, pelo menos não estava em carne viva. Talvez virasse uma daquelas bolhas repulsivas depois, mas naquele momento só ardia violentamente. E enquanto analisava seus machucados, percebeu duas pulseiras de metal Marcadas em seus pulsos... E aqueles acessórios conhecia muito bem.
- Como eu disse... Tola! Achou mesmo que isso era uma cela comum? - Daya riu. - Demorou muito tempo para ser construída e foi feita especialmente para você, assim como as lindas jóias que você acabou de perceber que está usando. Não terá poder nenhum com elas.
Foi então que notou: mesmo com todo esse caos, ainda não havia sentido a presença dos seus elementais. Nem o menor traço. O pânico chegou como uma onda. Olhou para Daya e soube que de alguma forma ela tinha noção do que estava pensando, percebendo no sorriso sarcástico dela que suas suposições estavam certas.
- Clark - Daya chamou.
O encapuzado se remexeu em seu canto e ela se apoiou na grade, fazendo com que tudo imediatamente começasse a brilhar de forma incandescente e com que Alicia se encolhesse instintivamente.
- Tenha certeza de você não vai sair daqui viva - a deusa garantiu, enquanto outro homem chegava ao seu lado e se abaixava em um joelho de cabeça baixa. - O que vai acontecer agora vai ser só o começo, no final vai estar implorando para morrer logo. - Se virou e saiu andando.
O encapuzado se desencostou da parede e se aproximou do outro: - Não comece até que eu volte - murmurou e saiu andando em direção ao mesmo caminho que a deusa havia tomado.
Olhou para as pulseiras, sabendo que sua única chance seria se livrar delas e lembrando-se que havia conseguido tirar as que Evan havia colocado nela uma vez, apesar de nem saber como havia feito aquilo. Evan... O que era pra ser um alívio, tornou-se rapidamente mais uma agonia: Evan estava em algum lugar alí por perto, pois era o líder da Guarda de Daya. Se tentassem mata-la, ele acabaria sentindo e vindo protege-la. Morreria tentando salvá-la.
Tirando-a de seus pensamentos, Clark se aproximou da grade com um sorriso sinistro nos lábios: - Nós vamos nos divertir hoje - disse, fazendo Alicia recuar até o fundo da cela, apavorada.
Nami: Me avisem caso achem erros :) (sempre kkkkk esse tipo de aviso é bom sempre) Esses últimos capítulos não tiveram revisão nenhuma, porque estou morrendo de sonzzzZzzzzzzzZzzzz
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Brincando Com Fogo
FantasyBrincando Com Fogo é o segundo livro da trilogia Feita de Chuva. Sua leitura não é recomendada antes da leitura do primeiro (Feita de Chuva). Sinta-se à vontade para me mandar mensagens caso tenha qualquer dúvida :)