Depois ter entrado no carro e de ter sido convencida por Alexander de que Daya não tinha a menor intenção de machucar Evan, sucumbiu ao cansaço e ao formigamento em seu corpo que ameaçava derrubá-la a qualquer momento; deitando no banco e apoiando a cabeça na perna de Jeremy, entrou em um estado nebuloso rapidamente e flutuou entre a consciência e inconsciência, embalada pelo carro que avançava pelas ruas, rapidamente se distanciando da base de Dam.
Seu pai era um monstro.
Não queria pensar naquilo, mas não conseguia sair da dormência em que havia entrado e da qual parecia não ter nenhum controle. Não era capaz de tirar os machucados de Clementine da sua mente. O fato de Dam ter sido capaz de torturar seus amigos. O modo como sorria macabramente ao pensar em coisas hediondas. Como havia se superado, contando tudo de forma impassível, como quem conta sobre algo banal do dia-a-dia. Havia matado sua mãe. Não tinha dúvidas que tinha amado ela, mas isso não o impediu. Nada o impediria.
E aquele sangue maldito corria em suas veias.
Se fosse possível se mexer, se contorceria em espasmos de dor, agonia, ira e culpa, mas seu corpo havia desistido de resistir e se entregado de vez à nevoa. Continuou flutuando entre imagens e pensamentos desconexos, memórias dolorosas e pensamentos sobre o futuro, até que sentiu que não estavam mais em movimento.
- Como ela está? – Como se estivesse muito distante para ser ouvido, escutou Evan perguntar, e seus sentidos tentaram voltar a vida.
Sentiu dedos passarem por seus cabelos e ouviu Jeremy: - Exausta... – Um momento de silêncio se estendeu infinitamente e chegou a cogitar que seus ouvidos haviam se desconectado das coisas ao seu redor novamente, até que ouviu ele continuar: - Você é o filho de Daya. Não teria deixado você levar ela se soubesse.
O tremor que sentiu no carro fez com que se debatesse contra a névoa, pois sabia que Jeremy, como seu Protetor, estaria relutante de deixa-la perto de Evan, não importando o quão ameaçado se sentisse.
- Cara, é melhor você vir para cá... – Ouviu Alexander dizer. – Você não quer provocar ele agora...
Evan irritado... Alicia lembrou-se dos corpos decapitados que haviam deixado para trás e tentou mais uma vez romper a dormência.
- Calma... – Jeremy esfregou os dedos em seus olhos e foi como se tivesse dito a ela onde eles estavam.
Conseguindo enxergar o mundo a sua volta, o retorno a realidade se tornou possível e todo o resto se tornou mais fácil, deixando que fosse capaz de forçar seu corpo a se erguer, sentando-se no banco, diante da porta escancarada. Evan segurava-a aberta com uma mão e não sabia como o metal ainda não havia se retorcido sob seu aperto, mas o que a preocupava era a espada na outra mão e a forma como ele apertava seu cabo, ansiosamente; com toda aquela cabelereira loira e seus olhos castanho escuros analisando Jeremy friamente, parecia um anjo vingador que tentava medir se seu alvo valeria o esforço de brandir sua arma.
Malditamente lindo – pensou, se perguntando quantas vezes mais ficaria abobalhada ao vê-lo.
Quando passou a ser alvo do seu escrutínio, notou que ele parecia esperar sua reação diante de sua presença e lembrou-se do estado de insensatez em que estava durante a conversa com Daya. Havia agido como uma louca e entendia o receio dele, então se colocou de joelhos e esticou os braços na direção dele, imediatamente sendo içada para fora do carro e comprimida contra o seu corpo, ouvindo ele expirar fortemente.
Passou as mãos por seu pescoço e o enlaçou, murmurando: - Eu sinto muito... Sinto tanto...
O aperto em sua cintura e costas era intenso e ele quase a suspendia do chão: - Pelo amor de todos os deuses, porra... Não faz mais isso comigo, Anjo.
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Brincando Com Fogo
FantasiBrincando Com Fogo é o segundo livro da trilogia Feita de Chuva. Sua leitura não é recomendada antes da leitura do primeiro (Feita de Chuva). Sinta-se à vontade para me mandar mensagens caso tenha qualquer dúvida :)