Capítulo 37 - Sem Mais Fugas

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Havia lutado tanto para fugir das garras de Dam e entrar naquela casa voluntariamente fez com que seu senso de autopreservação colocasse sua mente e seu corpo em um estado de alerta constante. Sentia seus músculos tensos a espera de um comando, seu coração palpitava acelerado, sua respiração estava rápida e curta e seus olhos percorriam toda a sala para onde havia sido encaminhada, sem conseguir observar nada direito, mas ao mesmo tempo prestando atenção em tudo.

Seu pai, parecendo confortável com a situação, lhe indicou o sofá: - Sinta-se à vontade. – Dam sentou-se, apoiando um pé sobre o joelho em uma posição descontraída, e passou a observá-la.

A casa tinha uma decoração minimalista, bastante diferente de onde havia morado. Notou que havia um corredor que ligava a entrada da casa a outros cômodos. Inúmeras janelas mostravam vários membros da Guarda posicionados no quintal. Haviam pelo menos dez deles na sala, imóveis e mudos como esperado, mas atentos a cada movimento seu. Suas armas foram colocadas sobre um aparador longe de onde estava. Não havia sinal algum de Clementine, Jeremy e Michael.

Alicia se aproximou e sentou no sofá em frente ao que ele estava, se obrigando a tentar não parecer tão tensa quanto se sentia. Nenhuma maldita palavra vinha a sua boca, todas ocupadas demais em rodar por sua mente deixando-a quase tonta.

- A que devo a honra da sua visita? – Ele perguntou.

Sentando-se mais ereta, esfregou as mãos nos jeans, tentando se livrar do suor: - Soube que Clementine, Jeremy e Michael foram vistos aqui... – disse e poderia jurar ter visto ele segurar um pequeno sorriso. Achou melhor não dizer que queria que o pai os soltasse logo de cara e então acrescentou: - E também tem umas coisas que queria conversar com você.

- Hmmm – ele murmurou. – Sim, eles estão por aqui sim, mas não vamos falar deles agora. Quero ouvir de você! – sorriu, parecendo interessado. – Tenho ouvido muito sobre você e não sei se é verdade ou boato. Por que não me diz o que anda fazendo desde que... – O sorriso terno foi mudando em seus lábios, transformando-se em um frio e sem vida: - Desde que resolveu se aventurar pelo mundo.

Que belo jeito de se colocar o que havia feito.

- Eu... – Engoliu em seco e resolveu arrancar o band-aid de uma vez: – Bem, você sabe que eu saí daqui com o Evan, filho de Daya. Acabamos indo parar na UPA e lá eu conheci Yam e seus filhos... – Notou que estava aperando os dedos com as mãos e se obrigou a parar: - Quando Daya atacou a UPA, nós conseguimos sair de lá, mas acabamos sendo pegos depois... – Respirou fundo, tentando não se lembrar daqueles dias horríveis. – Conseguimos sair de lá depois de alguns dias e... Bom, isso é tudo de relevante que andou acontecendo.

- Então você conheceu ela? – perguntou e Alicia balançou a cabeça, confirmando. – Quais foram as suas impressões?

Soltou o ar com força e bufou, sabendo exatamente o que Dam queria ouvir: - Acho que posso dizer que não gostaria de encontrar ela novamente em condições desfavoráveis... Você estava certo.

Ele se recostou no sofá, balançando a cabeça para cima e para baixo, apreciando seu reconhecimento. Alicia poderia dizer barbaridades do seu pai, mas ele havia alertado que Daya era perigosa, que tentaria matá-la se botasse as mãos nela. Se não fosse por Evan, sabia que estaria morta.

- Você e Evan... – disse o nome dele em quase um rosnado. – Ainda não sei se considero ele esperto ou estúpido demais.

– Ele tem me ajudado...

- Ele ainda é seu Protetor?

Seu coração, que havia se agitado a menção daquele nome e que tinha começado a martelar contra seu peito tão alto que fez com que se perguntasse se alguém alí poderia ouvi-lo, se contraiu e vacilou ao ser assaltada pela memória do momento em que liberou ele da Marca da Devoção, fazendo com que o compromisso de protege-la fosse quebrado. Aquelas memórias eram turvas e cheias de sofrimento, mas lembrava-se perfeitamente de sentir um espaço em seu peito se tornar um lugar oco, somente para depois começar a ter seu vazio preenchido por dor. – Não mais. Eu liberei ele – Teve dificuldades em dizer aquilo.

Brincando Com FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora