Havia alguma coisa familiar naquele lugar, mas não conseguia perceber o que era. Algo beliscava o fundo da sua mente, insistindo para que se lembrasse, mas não conseguia recordar por mais que tentasse. Tudo que via era escuridão, tudo o que ouvia era o silêncio absoluto e a ausência de sentidos tornava seus pensamentos ao mesmo tempo altos e dispersos demais para que conseguisse se concentrar.
Viu um pequeno brilho que, a princípio, parecia mais coisa da sua imaginação, mas, conforme se intensificou tornando-se uma pequena fonte de luz e calor, fez com que acreditasse ser realidade e fosse atraída em sua direção. Em um momento, quando já havia se aproximado bastante, percebeu que sua fonte também se movia em sua direção, crescendo cada vez mais.
Até certo ponto, aquilo foi um alívio, pois a aqueceu e fez com que se sentisse segura e cheia de esperanças; entretanto, logo começou a ter receio de se aproximar mais de tanto que havia se intensificado, ameaçando queimá-la e cegá-la.
Quando estava tão perto que havia iluminado tudo a sua volta, percebeu que, apesar de estar mexendo as pernas, não estava saindo do lugar; percebeu também que não era apenas luz, era fogo, e que estava presa de volta na maldita cela.
Tentou correr na direção oposta, mas suas pernas pareciam congeladas, incapazes de leva-la a lugar algum. As chamas, que pareciam vivas e se esticavam tentando agarrá-la, lamberam sua pele fazendo com que gritasse de pavor e dor. Estava cercada de fogo, ávido por contato, e logo transformou-se em uma fogueira.
Olhos começaram a surgir a sua volta, como se espectadores admirassem seu sofrimento, como se seus gritos fossem música. Quando se largou no chão, incapaz de fazer qualquer outra coisa que não sentir dor, olhou para o alto e viu o Olho.
Aquele Olho sorria.
Queria perguntar por que se alegrava com aquilo, por que não a ajudava, mas o olho somente tremulava dando risad-
Toc. Toc. Toc. Toc.
Os braços de Alicia envolveram seu corpo rapidamente em um gesto defensivo e acabou acertando as palmas das mãos contra o peito, arrancando de algum lugar em seu peito um gemido aflito de pura agonia. Sem entender, olhou para as mãos trêmulas e viu bolhas repulsivas de queimaduras nela.
O que está acontecendo?
Seria culpa das barras da cela? Havia tocado elas em sua tentativa de fuga e não lembrava-se de isso ter causado nenhum machucado sério, mas, olhando para as próprias mãos naquele momento, não sabia como não havia percebido quão ruim havia sido o estrago.
TOC. TOC. TOC.
- Alicia, acorda!
As batidas altas esmurrando a porta, seguidas da voz impaciente de Emmanuelle, arrancaram Alicia de seu estado de choque: - Estou indo - Tentou falar alto, mas só conseguiu emitir um murmúrio rouco. - Já vou.
Por todos os deuses - Teve que juntar todas suas forças para convencer suas pernas que sair da cama seria uma boa ideia. Apesar de se encolher de frio ao sair debaixo das cobertas, parecia que haviam acionado um vulcão dentro de seu corpo; seus olhos ardiam demais e até mesmo o ar que passava por sua garganta parecia superaquecido. E todo seu corpo parecia um poço de dor. Não se tratava de dor uma dorzinha, era dor dor DOR, como se todos seus músculos estivessem sofrendo intensamente ao mesmo tempo.
Ainda havia essa névoa em sua mente, que parecia deixar seus pensamentos mais lentos. Estava sonhando com algo... O que era mesmo?
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Brincando Com Fogo
FantasyBrincando Com Fogo é o segundo livro da trilogia Feita de Chuva. Sua leitura não é recomendada antes da leitura do primeiro (Feita de Chuva). Sinta-se à vontade para me mandar mensagens caso tenha qualquer dúvida :)