Brincando Com Fogo

Capítulo 54 - Evan - O Caos Iminente

POV: EVAN

Depois da destruição do prédio, Alicia e Evan não demoraram a se afastar do local, não querendo arriscar estarem por perto quando descobrissem que ele havia escapado. Ao mesmo tempo em que começaram a ouvir as primeiras sirenes, foram capazes de chegar ao carro em segurança e sem chamar atenção, graças à Marca de Anulação , apesar da grande quantidade de pessoas curiosas que havia se concentrado nas redondezas e de Evan estar vestindo nada além de uma cueca e roupa cirúrgica.

Só que a fuga havia sido fácil demais e não acreditava que aquilo havia sido um agrado do destino.

Sua cabeça ainda estava confusa, mas se lembrava claramente de um momento quando acordou pela primeira vez no inferno e se deparou com Dam, que o observava atentamente. Evan já estava deitado naquela mesa, com seu corpo se recusando a obedecer seus comandos, e o rosto do deus pairava sobre o seu, olhando-o como se estivesse decifrando um enigma, com a frieza de um cientista analisando sua cobaia. Foi como se o tempo e tudo ao seu redor tivessem sido pausados em um momento de desesperança, onde tudo em que conseguia pensar era que iria morrer.

Os olhos do deus se mantiveram esquadrinhando-o daquela forma, até que um sorriso começou a se abrir no rosto do dele, uma mistura de repulsa e diversão que esticava seus lábios e revelava seus dentes, mas que contraía todo seu rosto em uma careta. "Façam o que quiser com ele, só não o matem" - as palavras dele ainda ecoavam em sua mente, lançando Evan de volta a um momento do qual não queria se lembrar, mas que precisava revisitar para tentar entender o que estava acontecendo. Dam não pediria que o mantivessem vivo, se não planejasse algo pior para ele depois, e não ficaria tão tranquilo em deixar seu preso para trás, se não tivesse tudo sob controle.

Então como haviam escapado sem maiores obstáculos? Dam nunca deixaria aquele prédio tão desprotegido, somente com humanos, quando havia tido finalmente a oportunidade de tê-lo sob seu controle. Evan havia sido parte do esquema de segurança de Dam,  quando se infiltrou em sua base e se tornou o Protetor de Alicia, então conhecia bem o poder que o deus tinha em mãos; mesmo Alicia tendo passado por maus momentos para chegar até ele, aquela segurança não chegava nem perto do que Dam poderia dispor para suas defesas.

Era quase como se o deus tivesse deixado que fugisse e aquilo fazia com que quisesse se retorcer de desconfiança. Pior ainda era ter plena consciência de que estivera nas mãos dele, de que sua vida havia dependido de uma decisão da pessoa que mais odiava. Dam havia deixado ele viver.

E aquilo era algo quase impossível de se aceitar.

- Filho da puta – Bateu a mão com força contra o volante. – Filho da puta, filho da puta – E continuaria a xingar o deus e extravasar sua raiva, mas Alicia se mexeu no banco ao seu lado, saindo do sono tranquilo em que estivera, forçando-o a ter que se controlar.

Mal haviam entrado no carro e ela caiu em um sono profundo no banco do carona, não acordando mais. Teria que ser cego para não enxergar que ela havia se desgastado além do que deveria, pois sua aparência abatida a denunciava, mas ainda checou seus ferimentos e viu a gravidade de suas lesões: alguns ossos quebrados e provavelmente um pulmão perfurado por um tiro. Ela precisava de descanso para se recuperar e Evan tinha que parar de influenciar seu sono sem perceber.

Ligou o rádio do carro e o deixou em um volume baixo, para não a acordar, se obrigando a prestar atenção na letra das músicas e distrair sua mente, até perceber que havia esfregado o olho mais uma vez, após muitas outras. Queria colocar o máximo de distância possível entre eles dois e Dam, se afastar o mais rápido possível do inferno onde havia sido preso e chegar logo em casa, mas não podia ignorar mais que estava exausto. Se continuasse a dirigir daquele jeito, acabaria ficando vulnerável a qualquer ataque repentino, pois já não estava conseguindo mais se manter atento; ou então acabaria jogando o carro contra um poste, já que se pegou ziguezagueando pela pista em mais de um momento.