Aquele dia estava se mostrando ser um dos difíceis. Havia acordado com uma sede brutal, que toda a água de uma jarra não havia sido capaz de saciar; foi só quando conseguiu raciocinar além do sono matinal que entendeu que aquilo era a sua Dependência e que não passaria enquanto não bebesse sangue. Tentou ficar na cama um pouco mais e acalmar-se antes de sair do quarto, mas a sede falava mais alto que qualquer outra coisa e acabou indo até Evan, decidida a não esperar as tais vinte e quatro horas que haviam estabelecido como período de segurança antes que bebesse novamente. Entretanto, quando invadiu seu quarto pela porta contígua, descobriu que ele já não estava mais alí; quando o procurou pela casa, lhe avisaram que ele havia saído com Yukari sem dizer para onde, mas que havia dito que estaria de volta antes do jantar.
Ou seja, teria que esperar querendo ou não.
O problema começou a se mostrar verdadeiramente quando resolveu tomar café da manhã e percebeu que se sentia sem fome e que tudo em que conseguia pensar era em quando conseguiria a próxima dose de sangue.
Lembrando-se que, desde a época antes do seu Despertar, a única coisa que costumava aliviar qualquer tensão era se exercitar, após ter conseguido empurrar uma maçã e um copo de suco de laranja para dentro do seu estômago enjoado, passou a manhã inteira fazendo isso. Apesar dos pedidos de Emmanuelle e Christopher para que não exagerasse, devido ao seu corpo ainda estar fraco, havia descoberto uma piscina no quintal e de lá decidido não sair, o lugar havia se tornado seu refúgio.
Quando parou para comer, o almoço se revelou uma tortura, pois sentia ânsia toda vez que tentava engolir algo. Sabia que ainda estava longe de voltar ao seu pior momento, quando vomitava qualquer coisa que colocasse na boca que não fosse sangue, mas não sabia quanto tempo mais seria capaz de suportar, pois a sensação se tornava pior a cada garfada.
Perto da hora do lanche da tarde, havia desistido de tentar se forçar a comer e se escondido na sala de televisão, para escapar do cheiro de café e bolo vindo da cozinha que impregnava a casa. Sua mente estava longe, contando os segundos ansiosamente para a volta de Evan, enquanto imaginava a sensação doce, quente e suave do sangue em contato com sua língua, quando ouviu: - Alicia?
Tirou os olhos que estavam vidrados na televisão, apesar de não estar vendo absolutamente nada do que se passava, e virou-se para a porta entreaberta, vendo Christopher parado na abertura, parecendo incerto sobre entrar ou não. – Oi?
- Você não vai vir lanchar? – perguntou.
- Não... - Balançou a cabeça de um lado para o outro negando e tentando afastar o enjoo que sentia só de pensar no ato. - Não consigo mais – confessou.
Ele franziu a testa e acabou decidindo por entrar, aproximando-se um pouco: - Por que não?
Suspirou aflita: - Meu estômago voltou a ficar rebelde – disse, colocando as mãos sobre a barriga, como se tentasse acalmar o que estava alí. - Hoje ainda não bebi nada, Chris.
- Ah... – murmurou e viu como sua expressão mudou: - Então está esperando o Evan voltar?
- Sim – respondeu, tentando entender se o que via em seu rosto era realmente algo diferente do normal. Christopher andava bastante esquisito nos últimos dias... Alicia não havia esquecido de tudo que 'quase' aconteceu entre eles, mas ele havia voltado a agir normalmente quando tiveram que fugir juntos e achava que tudo havia se ajeitado. Pelo visto havia se enganado. - Tenho que esperar ele.
Ele sorriu ao ouvir sua resposta, mas seu sorriso parecia sem vida e mal alcançava seus olhos. - Entendo... O que está vendo? Quer companhia?
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Brincando Com Fogo
FantasyBrincando Com Fogo é o segundo livro da trilogia Feita de Chuva. Sua leitura não é recomendada antes da leitura do primeiro (Feita de Chuva). Sinta-se à vontade para me mandar mensagens caso tenha qualquer dúvida :)