POV: EVAN
- Desta vez fiz tudo como deveria - Daya começou a falar assim que Evan a alcançou, já quase no outro andar -, não causei desastre algum e a filha de Dam e seus amigos estão vivos. Então.... Por que sinto como se você estivesse bastante irritado?
- Você vem me deixado de fora de seus planos. - E você está tentando matar a garota por quem eu sou apaixonado.
- Você vem me deixado de fora de você - Ela parou a sua frente e Evan notou seus olhos escuros e focados, Daya estava realmente tentando fazer as coisas direito e ter estado na presença de Alicia e não ter tentado mata-la provava aquilo. Ela colocou os dois braços na cintura: - Tem algo diferente em você, Evan... - O analisou e Evan ficou apreensivo por alguns segundos. - Se for só diferente, acredito que tudo bem, mas se esse diferente for algo errado...
Negar seria o mesmo que assumir, pois estava diferente mesmo; entretanto precisava fazer com que achasse que aquilo não era um problema ou Daya continuaria tentando entender o que estava acontecendo. Ela não poderia saber nunca a verdade. - Passei quase um mês convivendo com Dam...
- E no que isso mudou você? - Estava prestando bastante atenção.
Tirou a máscara do rosto rapidamente, assim ela veria exatamente o que queria: - Quero matar Dam mais do que nunca - afirmou.
- Hummm... - A deusa murmurou, recuando um pouco e avaliando sua expressão. - Então não vai se importar em tentarmos tirar algumas informações da filha dele.
A súbita noção que Clark, o bastardo mais sádico que conhecia, estava a sós com Alicia naquele momento e havia sido encarregado de interroga-la fez com que sua mão tremesse em um espasmo procurando por sua espada. Acabaria matando o infeliz - sabia disso.
- E é para isso que Clark está lá? - Se obrigou a perguntar, tentando se manter impassivo.
- Ele é um dos melhores.
- É um psicopata - rebateu.
- Está preocupado com a ratinha? - Sua mãe riu, mas não havia humor algum. Pelo contrário, aqueles olhos afiados estavam grudados nele, esperando sua reação.
Eram poucos os Descendentes que conseguiam enxergar algo sob sua fachada e Daya era uma delas, então teve que falar toda a frase prestando atenção ao modo como soava, pois poderia demonstrar muitas coisas e paixão era o oposto da ideal: - Ela é minha e você sabe muito bem.
- Sua? - Até mesmo um vinco surgiu no meio de sua testa, de tão confusa que havia ficado. O que era melhor do que ficar desconfiada.
- A vida dela é minha. Sou eu quem decide quando e como ela vai morrer - disse, se aproximando mais da deusa. - Então... Acho que posso dizer que ela é minha, a não ser que queira estragar nossas chances na guerra desafiando todas as Visões desde meu nascimento. - E recitou o que já havia cansado de ouvir: - "O filho de Daya e a filha de Dam irão lutar..." Nunca houve um terceiro nas profecias, por mais que você fosse gostar de ser incluída.
- Ela está viva, não está? - A deusa estava ficando irada e um pouco de vermelho começava a tingir sua íris. - E inteira.
Engoliu o nó que o impedia de falar aquelas palavras como se fossem normais: - Eu posso tirar informações dela, sou melhor que Clark nesse serviço. Mas... se eu interrogar ela e o Clark resolver trabalhar em seguida, talvez ela não resista. E seria uma pena destruir a esperança do mundo, porque você resolveu deixar o psicopata do Clark fazer o que você gostaria de estar fazendo - disse, dosando suas palavras para alfinetá-la somente um pouco. - Quando pegarmos Dam, você vai ter a sua vez.
- Você precisa parar de me provocar - Bufou irritada, mas depois se reergueu, ajeitando a postura: - Comece a trabalhar ainda hoje. As informações que você conseguiu no seu mês com Dam não são o suficiente. Preciso saber mais e quero extrair o máximo dela antes de... deixar você cumprir seu exclusivo papel na Profecia.
Colocou a máscara de volta ao lugar e ajeitou seu capuz, não deixando a deusa ver que abria um pequeno sorriso vitorioso: - Vou conseguir as informações - disse sério. - Apenas mantenha qualquer outro do lado de fora daquela cela.
- Farei isso.
Evan se virou e começou a voltar pelo caminho, com seu sorriso sumindo completamente ao pensar na impressão que tinha de que a desconfiança de Daya talvez não tivesse diminuído tanto como gostaria e em como havia conseguido se colocar como o único "encarregado" de Alicia... Aquilo havia sido fácil demais para que acreditasse em seu sucesso e com certeza precisaria ficar de olho na deusa.
Parou um segundo, cerrando os punhos e os olhos ao tentar imaginar-se encostando em um fio sequer de cabelo dela com intenção de machucá-la e notando quão enlouquecedora era a reação de sua mente e seu corpo.
Não, não, não, não...
Deixar qualquer outra pessoa encostar nela seria impossível. Quando Dam deu um tapa em seu rosto, quase enlouqueceu, então concluiu que a base inteira estaria destruída antes que deixasse que torturassem ela. Não permitiria.
Só que encostar nela com a intenção de machucá-la era impossível também, porque ia contra tudo que acreditava e que era obrigado a fazer. Era seu Protetor e aquilo impedia que a machucasse, impedia de deixar qualquer um machucá-la.
Vai precisar dar um jeito nisso, Evan...
Se não fizesse aquilo, alguém faria. E faria pior. Alicia acabaria machucada e ele enlouquecido. No pior dos cenários, poderiam tentar mata-la e Evan poderia surtar completamente, perdendo qualquer objetividade necessária para tirá-la daquele lugar e matando aos dois no processo.
De alguma forma distorcida, aquilo poderia ser sua forma de protegê-la. Se conseguisse "encostar" nela, apaziguaria Daya e conseguiria tempo o suficiente para que um plano de verdade surgisse.
Idiota - rosnou para si mesmo. - Bater na garota que gosta é o melhor plano que consegue?
Só que não tinha tempo sobrando e aquilo estava fazendo algum sentido, pois, apesar de seu lado Protetor ainda rejeitar ideia, de alguma forma estava aceitando. Era o melhor jeito de mantê-la viva.
Apenas faça isso.
Se apressou de volta ao calabouço, vendo Clark cair novamente de joelhos, assim que o viu. Precisava se livrar dele de verdade - se lembrou.
Se aproximou da cela e olhou Alicia, começando a selar todo seu desespero, agonia, aflição e negação que surgiam assim que imaginava ferir aquela garota. Notou que ela havia se levantado do chão e o olhava como se estivesse querendo fazer seu nariz sair pela parte de traz do seu crânio com um soco. Era valente - ele sabia, mas aquilo não os ajudaria em nada naquele momento, pois quanto mais ela tentasse lutar, mais longe talvez tivesse que ir, mais fundo a machucaria.
- Vou fazer isso sozinho - avisou.
- Sim, senhor - O homem respondeu e Evan percebeu o quão irritado havia ficado.
Se aproximou mais e tentou falar calmamente, apesar de seu interior inteiro estar se revirando: - Olá.
Liberou só um pouquinho do Fogo, aquecendo o ambiente a sua volta, e viu como aquilo a atingiu diretamente, como se desequilibrou momentaneamente em seus pés e como seus olhos cresceram assustados. Sabia que tinha feito ela entender que quem estava na frente dela era o filho de Daya, seu maior inimigo, e esperava que aquilo fosse o suficiente para que Alicia fraquejasse pelo menos momentaneamente e não o obrigasse a leva-los a algum lugar longe demais: de onde não conseguiriam voltar a ser quem eram, onde o perdão era impossível.
Apenas faça isso, Evan.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Brincando Com Fogo
FantasíaBrincando Com Fogo é o segundo livro da trilogia Feita de Chuva. Sua leitura não é recomendada antes da leitura do primeiro (Feita de Chuva). Sinta-se à vontade para me mandar mensagens caso tenha qualquer dúvida :)