Capítulo 32 - Anfitriã

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A batida na porta a assustou e, um pouco desorientada, por alguns segundo tudo em que pôde pensar era em como sentia-se exausta; demorou a entender que havia cochilado na cama, sem nem ter se vestido ao terminar o banho, após ter deitado somente por um momento para pensar. Se levantou e olhou o celular, vendo que haviam se passado vinte minutos. Droga.

Ajeitou a toalha no corpo e foi abrir a porta, tendo certeza que era Evan, mas deu de cara com Christopher: - Você voltou – surpreendeu-se e ficou feliz por ele ter voltado, mas havia uma certa irritação também.

- Posso entrar? – Sua voz soava baixa e cansada. Pela sua expressão, pode notar que devia estar tão ou mais exausto que ela. Mal conseguia olhá-la nos olhos: – Preciso conversar com você.

Abriu mais a porta e lhe deu espaço para que entrasse, encostando-a em seguida. Como ele ficou de costas para ela por alguns segundos, parecendo não estar pronto ainda para expor o que queria, aproveitou para ir até o banheiro e pegar um roupão: - Já volto. – Sentia-se nua somente de toalha na presença dele e isso era desconfortável.

Assim que saiu do banheiro, mais coberta, ele se virou, se aproximando: - Gostaria de pedir desculpas por ter te forçado a beber meu sangue.

Alicia se afastou, sentindo a boca secar ao se lembrar do porquê de terem brigado e percebendo a dor latente em sua garganta e estômago. Com toda a confusão no hall e o cochilo, mais tempo havia passado e já deveria ter bebido de Evan àquela altura.

- Não devia ter forçado nada... O que Evan disse é verdade e eu também acredito nisso: 'não' é 'não', Alicia. Eu deveria ter respeitado a sua recusa – ele continuou. – Não deveria ter dito aquelas coisas também... Mas... – Ele subitamente parou e depois ajeitou a postura: - Esquece. Só quero me desculpar e te garantir que nada disso vai se repetir nunca mais, Alicia.

Suspirou atônita, tentando absorver o que ele havia dito e enxergar dentro de si mesma se aceitava e acreditava naquelas palavras. Se havia algo que havia aprendido nos anos com seu pai, era que quem era capaz de fazer algo uma vez, poderia fazer duas. Toda às vezes que se iludia pensando 'ele não vai mais me agredir, foi só um momento', era lembrada de que ele era capaz de fazer aquilo de novo e de novo e de novo. Às vezes de forma mais sutil, às vezes de forma a deixar marcas, o que era uma constância é que sempre acontecia de novo, de novo e de novo.

Só que seu pai sempre completava o 'mas' após o pedido de desculpas. Frases como: "me desculpe, mas você não poderia ter dito/feito aquilo..." ou "me desculpe, mas você me faz perder a cabeça..." E de alguma forma Alicia acabava se sentindo mal no fim da conversa, como se a culpa houvesse sido dela.

Verdadeiras desculpas não deveriam vir acompanhadas de 'mas'.

Então, por Christopher ter descartado o 'mas' assim que saiu de sua boca, por conseguir ver todo seu arrependimento estampado em seu rosto e postura e por lembrar-se do Christopher doce e cuidadoso que havia conhecido quando chegou na UPA, resolveu dar um voto de confiança: - Eu acredito em você.

Seus olhos se iluminaram de esperança, abrandando um pouco da expressão abatida que tinha no rosto: - Pode me perdoar?

- Não garanto que tudo vai ficar bem da noite pro dia, mas... - Voltou pra perto dele, relutante, tentando manter o foco. - Prometo que vou tentar, Chris.

- Entendo... e agradeço – Expirou longamente, como quem tira um grande peso das costas. – Isso é mais do que mereço agora.

Ficou tentada, mas resolveu não se deixar passar a mão na cabeça dele por seus erros. Christopher precisava ter certeza do limite que havia entre os dois, então apenas se manteve quieta.

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