Capítulo 52 - Acorda!

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- Não, não, não... – Colocou dois dedos em no pescoço de Evan e fechou os olhos, conseguindo sentir um pulsar fraco contra a ponta de seus dedos. – Ai meu deus... – Se agarrou a ele, porque suas pernas estavam se recusando a sustentar seu corpo.

Tentando controlar sua própria respiração fora de ritmo, se afastou e observou o peito dele, para ver se subia e descia, mas não conseguiu notar nenhum movimento. Será que não estava respirando? Pegou a adaga em seu coldre e a aproximou das narinas dele, esperou dois segundos e viu que a lâmina havia embaçado, então desmoronou sobre o corpo dele mais uma vez, sentindo um profundo alívio.

Seu coração batia. Seus pulmões estavam inflando e desinflando. Havia chegado antes da morte. Só que precisava continuar a mantê-la afastada, então Alicia passou a adaga no pulso e abaixou o queixo dele um pouco, abrindo sua boca e deixando que seu sangue pingasse dentro dela. Aquilo o deixaria mais forte, ele recuperaria a consciência e sairiam daquele maldito lugar juntos.

Com seus olhos começando a prestar atenção no que havia em volta, em vez de somente nele, viu um suporte metálico, com uma bolsa de medicação pendurada nele, e acompanhou o fio, que entrava para debaixo das cobertas; puxou ainda mais o lençol e viu havia algo sendo administrado nas veias de Evan. Rodeou a mesa, para ver a bolsa mais de perto, mas não conseguiu enxergar nada que indicasse o que era. Poderiam estar drogando ele, para que continuasse inconsciente, assim como poderiam estar administrando algo que o nutrisse, para que resistisse mais tempo, pois o estado em que ele estava era crítico. O sadismo do seu pai e a vontade de fazer com que Alicia sofresse era tanta, que a segunda opção parecia tão provável quanto a primeira.

Todo seu estômago se contorceu por ter que machucá-lo ainda mais, mas passou a adaga perto de ombro dele e lambeu o corte fresco; o amargor que encheu sua boca fez com que cuspisse o sangue no chão e arrancasse o acesso de seu braço sem pensar duas vezes. Aquele gosto era errado e não pertencia em nada a Evan.

Puxou o lençol novamente, para deixa-lo aquecido, e se abaixou, aproximando a boca do ouvido dele: - Evan, eu estou aqui. Fique comigo – murmurou, alisando com cuidado as mechas loiras.

Se virou em direção a porta, vendo de longe que os humanos ainda tentavam entrar naquele andar pela porta de acesso às escadas. "Eles estão progredindo?" – perguntou ao Ar.

"Sim. Em breve vão chegar até aqui."

Foi até a porta da sala e a empurrou de volta para o lugar, trancando-a mais uma vez com a chave, mesmo que aquilo não bastasse para impedir ninguém, pois os outros humanos poderiam ter réplicas da chave que havia sido jogada pela janela. Alicia também não podia destruir o painel de acesso daquela porta para impedir de vez a entrada, ou também acabaria ficando sem saída. Acabou deixando mais uma vez água fluir para a fechadura, tomando todo seu espaço e formando uma pedra de gelo em seu interior, assim ninguém conseguiria encaixar nenhuma chave.

Que trouxessem explosivos ou que arrombassem a porta, como havia sido obrigada a fazer com a porta de vidro do corredor, se quisessem entrar naquele maldito lugar.

Voltou para perto de Evan e tornou a deixar que seu sangue devolvesse a força de seu corpo, ansiando mais do que nunca que o Divino contido nele funcionasse. Sua fé nunca havia sido testada e costumava se pegar pensando se acreditava em um deus com frequência; mas não os 'considerados' deuses, como Daya e Dam, e sim 'o Deus', a entidade superior em quem muitos depositavam toda sua fé. Ainda não havia chegado a uma conclusão, mas, naquele momento, enquanto assistia atentamente as gotas de sangue pingarem de seu pulso, caindo na língua dele e escorrendo para sua garganta, tudo que podia desejar era que aquele deus realmente existisse e que estivesse vendo tudo que acontecia naquela sala.

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