Capítulo 53 - Evan - Ainda Não Acabou

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POV: EVAN



Foram os seus sentidos que fizeram com que desconfiasse do que estava a sua volta, trazendo-o pouco a pouco para a realidade: o tom de voz desesperado de Alicia pedindo para que acordasse, o cheiro de chuva impregnando suas narinas, o toque de suas mãos agarrando seus braços com firmeza, o sabor do sangue dela em sua língua e a visão de um par de olhos coloridos, uma íris azul e outra verde.

- Anjo? – perguntou, confuso, ainda dividido entre a realidade e a ilusão.

Aqueles olhos arregalados em expectativa ansiavam para que reagisse: - Sim! Sou eu, Evan!

Encostou levemente em sua bochecha, com receio de que se tivesse esperanças, de que se se forçasse a voltar a realidade, voltaria a acordar atado àquela mesa, onde havia sido preso. Ainda assim ousou dar um passo para fora da ilusão: - De verdade...

- Sim! – Ela sorriu e Evan notou que seus lábios tremiam, mal conseguindo manter o sorriso.

E quando uma lágrima rolou pelo rosto dela, Evan aparou a teimosa, que escapou da determinação de Alicia, e a esfregou entre os dedos, não podendo mais ignorar o que acontecia a sua frente.

Em sua imaginação, ela nunca estaria triste, nunca choraria; muito menos deveria estar sangrando, machucada. Também não haveria aquela expressão desesperada em seu rosto, pois em seus sonhos ele ainda era o Evan e não o resto humano que aquelas pessoas haviam deixado para trás; em seus sonhos não haveria nada com o que ela precisasse se preocupar, pois ele estaria no controle de tudo.

- Não é um sonho... – Abaixou os olhos para os próprios braços e depois para o seu peito e abdome, vendo em sua pele as marcas da realidade da qual havia fugido. Cortes. Hematomas. E crostas de sangue seco. Sua única alternativa para amortecer todos os seus sentidos e suportar tudo que estiveram fazendo com seu corpo, foi mergulhar em sua própria mente, dissociando-se da realidade infernal em que estava, passando a sonhar com Alicia, seu próprio pedaço do paraíso.

A voz dela penetrou pelos seus pensamentos perdidos: - O beijo não foi real o suficiente?

- Eu... – Precisava tocá-la, sentir que era de verdade. Como era possível que ela estivesse naquele lugar, quando a falta de esperanças já havia feito com que acreditasse que aquele seria seu fim?

- Essa dor – Com o queixo, Alicia indicou o braço dela em que Evan estava segurando – está real demais pelo menos.

Merda. Se concentrou em fazê-la se desligar da dor, finalmente acordando de vez. Se não estava mais sonhando, havia sido chutado do céu de volta para o inferno; com o acréscimo de um agravante: seu Anjo também estava em perigo. Recuou alguns passos e conseguiu enxergar melhor o estado completamente deplorável de Alicia; lembrava-se vagamente de ela ter falado que havia lutado com vários dos seus captores, mas não conseguia se lembrar direito.

Você precisa tirar ela desse lugar.

Se concentrou em tentar achar qualquer indicação de que Dam estivesse por perto, mas não sentiu nada: - Precisamos sair logo daqui. Seu pai e os seguidores dele podem voltar a qualquer momento... Cadê o Lex? – perguntou em um estalo, pois seu amigo deveria estar por perto, já que era o único que conseguiria acha-lo, por ser seu Protetor. – Ele está lá fora?

- Ahm... Eu só lutei com humanos... Nenhum sinal do meu pai ou dos Sombras... – Ela foi até um armário que estava caído no chão e pegou dele uma daquelas roupas azuis de cirurgia. Se aproximou com a peça nas mãos e a entregou a Evan, mas seus olhos se desviaram dos seus e ela demorou a fita-los novamente: - Alexander está na UPA.

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