—Daí ela teve a gentileza e preocupação de me levar em casa. — contei para Ronan na hora do almoço na escola.
—OK, mas rolou alguma outra coisa?— perguntou Ronan muito interessado no assunto e recusando a barrinha de cereal que eu havia levado para ele.
—Não, cara. Aquilo não foi um encontro. Foi apenas dois colegas de classe fazendo um trabalho escolar. — falei sentindo minhas bochechas corarem. Durante a noite toda, repeti na minha cabeça a tarde que tive com Lesly. Cada diálogo. Cada vez que ela me olhava e vice versa.
—Que tédio, — ele continuou. — se fosse nos padrões comuns, você que deveria levar e buscar ela em casa, aliás, a Lesly...
Nesse momento vi Hugo e seus amigos passando logo atrás da nossa mesa, com suas roupas do time da escola e aparelhos de celular de última geração na mão.
—Cala a boca. — falei baixinho para Ronan e ele levantou uma sobrancelha confuso.
Para meu azar, Hugo nos viu e se aproximou de nossa mesa, com um sorriso dissimulado no rosto.
—Olha se não é o Brunão! Sandrinha está animada que você vai para a festa dela. — Vi seus amigos darem risada. Apenas olhei para ele e acenei com a cabeça forçando um sorriso.
—O nome dele é Breno. — Ronan falou alto e olhando fixamente para Hugo. Vi ele fechando o punho sobre a mesa e amassando a barrinha de cereal.
—O que você disse? —perguntou Hugo desviando o olhar maldoso para Ronan, que não exitou e ficou de frente para Hugo.
—O nome dele é Breno. B-R-E-N-O. — Ronan falou ainda com os punhos fechados.
—E quem você pensa que é para falar comigo assim? — Hugo disse e seus amigos ficaram ao seu lado, na possível tentativa de intimidar Ronan, mas uma coisa eles não sabiam sobre ele. Nada intimida Ronan.
—Sou aquele que vou acabar com você, se não parar de infernizar meu amigo. — Ronan disse indo para cima de Hugo. O refeitório todo ficou em silêncio no momento, que era possível de ouvir o barulho de uma agulha caindo.
—RONAN! — gritei. — Ele apenas errou meu nome. Isso é comum. Bruno e Breno, são quase iguais. — eu tremia enquanto falava. O olhar de Hugo matava Ronan feito uma espada.
—Não, Breno. Esse cara inferniza sua vida desde sempre, e ele te machucou essa semana. Você não merece isso. — Ronan não desvia o olhar de Hugo, nenhum momento.
Todos os alunos do último ano, que estavam no refeitório se calaram e encaravam Ronan e Hugo. Alguns amigos do Hugo se aproximaram de Ronan com os punhos fechados.
—Espera um pouco, galera. O namoradinho do Breno está nervosinho — Hugo rebateu em tom de deboche. — Vocês dois são duas piadas e dois fracassados.
Ronan se sentou nervoso. Achei que ele iria surtar. Vi eles balbuciar para si mesmo alguma coisa. Hugo virou minha cadeira com força e olhou para mim. Senti como se não conseguisse mais respirar. Hugo mesmo com o rosto perfeito e de bom moço, naquele momento se transformou na pior criatura sob a Terra.
—Bruninho, — ele falou. Senti que havia errado meu nome de propósito. — Pede para seu amiguinho se controlar, porque não quero tornar vocês mais fracassados do que já são. - ele soltou minha cadeira e pude respirar sem ser sob pressão. — Vocês dois são piadas ambulantes.
****
Já na minha casa, Ronan socava o saco de areia que meu tio tinha no jardim. Tio Luís dizia que era um santo remédio, você descontar raiva em algo, em vez de alguém, porém Ronan não tinha maturidade suficiente para isso e desenhou o rosto de Hugo no saco de areia.
—Eu odeio aquele cara. — ele gritava enquanto desatava um golpe.
—Você sabe que ele vai acabar com a gente, certo? ou você acha que ele vai deixar você falar com ele daquele jeito sem te dar um tapas. — falei.
Ele que venha. Não tenho medo.
— Você não precisava ter feito aquilo. — falei me encostando na cadeira.
Ronan parou de socar o saco de areia e venho em minha direção e se sentou em um banco que tinha jardim. Logo seria noite e aquelas flores espalhadas pelo jardim, receberiam a companhia das estrelas.
—Você é meu amigo. Não aguento ver ele te tratando daquele modo de indiferença, e aliás, você faria o mesmo por mim.
—Faria? — disse rindo e fui recebido com um tapa na testa.
—Você é mais idiota do que eu imaginava. — ele disse se levantando e voltando a socar o Hugo de areia.
Olhei para ele e murmurei baixinho:
—E você é mais corajoso e leal do que eu imaginava.

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Amor Sobre Rodas
RomanceBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...