Breno

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Durante o dia inteiro não consegui me concentrar em absolutamente nada. Sonhava acordado e me perdia entre meus tantos e constantes devaneios.
Todos olhavam para mim depois do beijo inesperado que recebi de Lesly.

Sempre fui o alvo mais fácil para fofocas e preconceito. E agora com todos sabendo sobre Lesly e eu isso aumentaria ainda mais.

Eu sabia que Hugo faria algo comigo. Já estava acostumado com a perseguição constante dele. Mas dessa vez estava preparado.

—Olha o Brunão! Pegando a garota mais bonita do colégio. — comentou um garoto do time de futebol enquanto eu guardada meu material no vestiário da escola.

Todos os garotos cochichavam algo e depois davam uma longa risada.
Vi Hugo entrando sozinho no vestiário, ele passou por mim e foi para seu armário.

—Não vai falar com os amigos? — Um dos colegas dele perguntou.

—Não enche! — Hugo retrucou sem nem olhar para o amigo.

—Está estressadinho?

—Falei para não encher! — Hugo gritou e jogou sua mochila no chão.

Todos os garotos olhavam para Hugo, inclusive eu.

—Se está assim por causa de Lesly..

—Cala a boca! — Dessa vez Hugo não gritou, foi na direção do amigo e lhe deu um empurrão.

Alguns garotos tentaram intervir em uma possível briga e seguraram Hugo pelos braços. O rapaz que foi empurrado se levantou e tentou partir para uma agressão mas foi impedido por colegas de Hugo.

—Vai ter que lidar com isso! — o garoto empurrado começou a provocar. — Lesly trocou você!

Continuei ali. Parado. Hugo percebeu minha presença.

—Me soltem! — ordenou.

Percebi que Hugo vinha na minha direção e fechei meu armário. Ele estava com o punho fechado e com uma expressão de ódio.

—O que você vai fazer? Me bater? — falei alto.

Os alunos no vestiário desviaram os olhares agora para mim. Hugo continuava com os punhos fechados.

—É isso? — continuei. —Vai me bater de novo? Aliás, é a única coisa que você faz bem.

Aquelas palavras estavam engasgadas à muito tempo. Agora elas estavam saindo, e para mim não fazia nenhuma diferença.

Hugo ergueu o punho para mim como eu havia prevido, mas foi impedido por seus próprios amigos.

—Chega Hugo! — falou um garoto que sempre andava na cola de Hugo. — Deixa ele em paz.

—O que foi agora? Está do lado do cadeirante?

—Não estou do lado de ninguém! Mas chega! O cara está pegando sua ex-namorada. O que você tem haver com isso?

Quis interromper e dizer que o verbo pegar não se aplicava naquela situação, pois eu nunca "pegaria" uma garota. Eu à amaria. É diferente. Mas deixe de lado minhas explicações nerds e deixei o garoto terminar:

—Você sempre está querendo descontar sua raiva em alguém. Já descontou em mim e na metade dos caras que estão nesse vestiário. Mas agora isso acabou. — ele ficou de frente para Hugo — Você está fora do time de basquete.

—O quê? Você não pode fazer isso! Eu sou o capitão. — Hugo gritou.

—Quem concorda em tirar o Hugo da posição de capitão do time? — o garoto perguntou e todos do time levantaram a mão concordando. Até mesmo aqueles do segundo time levantaram — Parece que você não é mais.

—Você vai me pagar. Todos vocês. — Hugo foi em direção a porta e saiu do vestiário.

****

—As vezes me pergunto do que por quê de Hugo ser assim.

Lesly havia invadido meu quarto novamente. Agora eu tinha o costume de dormir com as janelas abertas, nunca se sabe quando um anjo pode passar por ela.
Estavamos sentados na cama, olhando para a escuridão do quarto.

—Os pais de Hugo nunca ensinaram a palavra limites para ele. — Lesly falou enquanto passava as mãos nos lindos cabelos castanhos curtos.

—Ele carrega tanto ódio em si e não existe motivo para isso.

—Talvez ele tenha sofrido algo que ninguém sabe.

—Lesly, meus pais morreram e eu vivo nessa cadeira de rodas. Deveria ter motivo de sobra para ter ódio guardado, mas não tenho. O ódio é a vingança do covarde.

—Sabia que você fica charmoso quando fala desse modo poético? —Lesly fala. Sinto ela se aproximando mais de mim. O quarto está escuro e sobrevive apenas com a luz do luar.

—Sério? — perguntei sorrindo.

Ela deitou com a cabeça sobre meu colo e comecei a passar as mãos sobre seu fino cabelo.

—Por que você enfrentou o Hugo? — Lesly finalmente pergunta.

—Porque falei o que estava engasgado a muito tempo.

—Você deixou muitas palavras aguardadas Breno. Como aguentou todo esse tempo?

Dou de ombros.

—Tem mais alguma palavra guardada que queira dizer?

Paro de passar as mãos sobre o cabelo de Lesly.

—Tenho. — falo.

Lesly se senta na cama novamente. Sinto sua respiração. Ela está na minha frente.

—O quê?

—Eu te amo. — sussurro.

Amor Sobre RodasOnde histórias criam vida. Descubra agora