Breno

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—Breno, acorda — minha tia diz, me despertando pela manhã.  — O quê é isso?

Abri meus olhos devagar e a briguei com a claridade da manhã, que iluminava meu quarto. Vi o vulto da minha tia. Ela parecia que estava segurando algo. Bocejei. Minha noite de sono havia sido satisfatória. Sonhei ironicamente, com nada.

—O quê é? — pergunto sonolento. Finalmente consigo ver nitidamente minha tia. Nas suas mãos, tem um grande envelope dourado.

—Parece que vamos ter que comprar um terno novo para você. — ela falou ainda olhando para o envelope.

Estendi minha mão e Tia Verônica colocou o envelope sobre minha mão.
Era lindo e sentíamos, apenas tocando no papel, o quanto foi caro. Era todo dourado. Vi o destinatário. 

De: Lesly 
Para: Breno

Abri o envelope rápido e dentro havia o convite para a festa. Me senti como no filme A fantástica fábrica de chocolate quando o garoto recebe o convite dourado para visitar a fábrica. Não haveria chocolate no meu passeio, mas haveria Lesly, que é melhor que tudo isso.

                           


                                                                                            ****


—Você também recebeu? — perguntei. Ronan estava com um convite igual nas mãos.

—Colocaram na minha caixa de correios de manhã. — Ronan falou. — Pelo menos não teremos que invadir a festa como penetras.

—Só tem uma questão.

—Qual?

—Como o convite chegou na cômoda do meu quarto.— isso era algo que me intrigou, durante a manhã inteira.

—Colocaram na sua cômoda? — Ronan virou confuso para mim e apenas confirmei com a cabeça. — Cara, acho que você teve outra visitinha da puladora de janelas.

Ronan havia apelidado secretamente Lesly como; puladora de janelas.

—Se ela esteve no meu quarto, por que não me acordou?

—Talvez ela tenha ficado admirando sua beleza enquanto você dormia. — Ronan falou em um tom cordial, o que me fez rir. 

—Prepare o dinheiro. Temos que comprar ternos novos. — falo, durante o caminho para a sala. Nosso horário conjunto era matemática.

—Nunca.

—Vai ser legal. — falo tentando anima-lo. 

—Dá última vez que fui comprar roupa, acabei dormindo no provador. Eles são tão confortáveis. 

—Você não fez isso... — digo.

—Fiz.

Olho para ele surpreso.

—Você realmente acreditou. — ele fala, tempo depois.

Entramos na sala e esqueço de rir da piada de Ronan. Vejo Lesly, e ela sorri para mim. Fico sem palavras.

                           

                                                                                  ****


A aula fluiu normalmente. Ronan sorrindo para Daniela, Lesly lendo escondida e eu me perdendo nos meus próprios devaneios. O nosso período passa tão rápido, que nem percebo quando o sinal toca. Antes de todos saírem, o professor Henrique, avisava novamente sobre as tabelas.

—A entrega do trabalho é na próxima segunda-feira. Aproveitem o final de semana para finalizarem o conteúdo, e lembre-se não aceito atrasos.

Enquanto todos saíam apressados pela sala, vi Lesly vindo na minha direção. Ronan gesticulou discretamente que esperaria lá fora.

—Breno.  

—Lesly. 

Ela sorriu, e pegou uma folha dentro de seu caderno.

—A última parte do trabalho. A redação de como foi trabalhar em conjunto.

—Você fez... — falo sem pensar.

—Leia e complete. Tenho que ir, mas me fale depois o que achou.

Lesly sai apressada pela porta e guardo a folha na mochila para ler em casa mais tarde.


                                       

                                                                                   ****


Trabalhar com Breno, foi diferente.  Não que ele seja diferente, mas é que ninguém consegue ser igual a ele. A paciência por me explicar cada exercício, a inteligência de responder uma tabela de exercícios em menos de 5 minutos... me senti tão estúpida ao seu lado, mas Breno me ajudou em cada passo e eu agradeço.
Somos o oposto um do outro; Breno ama números e eu amo letras, isso mostra de como pessoas diferentes, podem ser amigas.
Sempre pensou assim: "Pra ficar do meu lado tem que ser melhor que minha própria companhia." e Breno foi melhor que isso.
Além de aprender matemática, ganhei um amigo. 

Não existe palavras para expressar o quanto fiquei feliz ao ler o que Lesly pensava sobre mim, mas em vez de extravasar e rodopiar com minha cadeira pelo quarto, peguei a caneta e completei a redação.

Não acreditava em sorte até o dia que houve o sorteio de duplas. Com 30 alunos na sala, peguei a melhor companhia que alguém poderia ter. Isso é sorte.
Não aceito os elogios que ela me deu, não mereço. Ao ver seu sorriso e seu olhar de entendimento, já é um grande presente.
Ela diz que somos opostos, concordo, porém em um ramo da matemática as letras entram; Álgebra. Ou seja, coisas diferentes pode ficar juntas, sim.

Satisfeito com a redação, finalizei o trabalho. Peguei o celular e cliquei no contato de Lesly.

Se não tirarmos 10 nesse trabalho, viro escritor e você física.

Minutos depois o celular tocou.

Viro colecionadora de números e você de letras.

Ah, como amo essa menina.

Amor Sobre RodasOnde histórias criam vida. Descubra agora