Lesly

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Depois que Breno desligou, fui descendo as escadas em passos curtos, tentando não fazer nenhum barulho aparente. Mamãe que estava na sala de estar, virou o pescoço, estilo aquelas crianças demoníacas de filmes de terror, e me viu.

—Aonde a mocinha pensa que vai?

Depois de tanta confusão, tinha me esquecido que eu estava de castigo por fazer toda aquela cena no chá da mamãe.

—Tenho um trabalho de matemática para fazer. Posso ir? — falei, pegando meu casaco e o vestindo.

—Não. Eu fui bem clara. Você só sai de casa para ir à escola.

—Mãe, é um trabalho escolar se eu não for não terei nota. — eu estava aprendendo a ser persuasiva.

—Por que você não pode fazer esse trabalho aqui? — mamãe era insistente. Uma qualidade que eu não havia adquirido.

—Ele não sabe caminho.

—De seu endereço. — ela insistiu.

—Não. Vamos estudar na biblioteca.

—Então eu levo vocês. — mamãe disse se levantando do sofá e apenas resmunguei. Ela pegou a chave do carroe o celular, porém bem naquele momento o. telefone tocou e ela atendeu, provavelmente era uma das amigas dela do chá, pois ela atendeu com um "Oi, querida". Aproveitei sua distração e saí de casa.

                                   ****

Dessa vez não fui correndo. Fui guiada pelo vento. Cheguei em frente a casa de Breno e incrivelmente ele já estava na frente de seu jardim.

—Como se elogia uma cadeira de rodas que é muito bonita? — falei me aproximando e vi seu sorriso.

—Você pode dizer "Nossa que belas rodas ela tem". — disse Breno com uma risada logo em seguida.

—Sua cadeira nova tem belas rodas, Breno.

Ele sorriu e balançou a cabeça. O seu cabelo cobria seu rosto frio. Pelo menos, parecia frio. Fomos em direção a biblioteca. Breno parecia que fazia um esforço enorme para mover as rodas da nova cadeira. Ele percebeu que eu estava olhando e falou rapidamente.

—Ela está um pouco dura, tenho que me acostumar.

Ele parecia ofegante. Me dirigi para trás de sua cadeira e comecei a empurrar. Não era difícil, pois Breno não pesava muito. Ele deslizava pela calçada.

—Você não precisava fazer isso, Lesly. — Breno murmurou.

Continuei a empurra-lo e não respondi nada. Logo ele se conformou e parou de fazer esforço com os próprios braços. Driblei buracos e postes, e percebi como aquilo era difíci. Logo chegamos a biblioteca. Entramos e vimos Daniela, Tiffany e Marina sentadas em uma das mesas com alguns livros de português e várias tesouras.
Breno me olhou.

—Acho melhor irmos para outro lugar. — ele sussurrou, enquanto eu as olhava de longe. Elas pareciam que ainda não havia nos visto.

—A biblioteca é pública, Breno.

—Elas vão ficar nos encarando e não vamos conseguir estudar direito.

—OK. Para onde você sugere que a gente vá?— falei o encarando pela primeira vez naquele dia.

—Para o parque.

Amor Sobre RodasOnde histórias criam vida. Descubra agora