Com muita dificuldade, Lesly conseguiu me tirar do carro. Mesmo adaptado era preciso de alguém profissional ou experiente para me tirar do veículo, mas por incrível que pareça depois de um tempo finalmente Lesly conseguiu destravar o cinto que mantinha a cadeira presa no carro.
Estavamos com o carro estacionando ao lado de um trilho de pedras, próximo à estrada.—Vamos ter que andar por alguna minutos até a velha capela. — Lesly falou enquanto colocava uma bolsa atrás das costas, da bolsa ela tirou um sanduíche e me deu. — Coma, senão sua tia me mata.
Lesly empurrou minha cadeira enquanto atravessamos a trilha que era coberta pelas grandes e exageradas árvores dali. Quase não dava para ver as pequenas pedras pelo caminho já que a relva estava coberta de folhas secas.
—Você já venho aqui? — perguntei, ainda com o sanduíche nas mãos.
—Há muito tempo atrás, quando eu tinha nove ou dez anos, meus avós me trouxeram aqui para conhecer onde foi o tão badalado casamento de mamãe, mas parece que tudo está diferente. Havia casas aqui nos arredores e um jardim extenso. — falou apontando para as árvores e o gramado.
Minha cadeira passava com um pouco de dificuldade sobre a relva do bosque. Tínhamos que parar algumas vezes para tirar pequenos gravetos que se prendiam na rodas da cadeira.
Chegamos enfim em um terreno abandonado e no centro dele estava a capela de cor beje claro.
Havia ervas daninhas por todo o jardim que o cercava, as flores estavam murchas e o ambiente era triste.—Não era assim quando eu estive aqui. — Lesly murmurou.
Fomos até a entrada da capela. A porta de madeira estava entreaberta, Lesly com um toque suave abriu revelando a parte interior da capela que estavan coberta de poeira.
Os bancos estavam cobertos de pó e cheios de cupins. As esculturas com significados religiosos também estavam cobertos por uma massa de poeira. A única coisa que se mantinha intacta e perfeita era o altar onde era realizada as missas e possíveis orações.—Acho que ninguém vem aqui há anos. — falei colocando a mão sobre o nariz.
Lesly foi até ao altar, tentando olhar a capela por completo. Fiquei sozinho ao lado dos bancos tentando fazer que a minha alergia não atacasse.
—As pessoas fazem as coisas de símbolo. Uma igreja significa religião, um lugar sagrado. Uma aliança significa amor eterno — ela passava a mão sobre o pó dos bancos — Tudo bobagem! Amor não pode simbolizado, muito menos Deus! Olhe para isso. Isso aqui parece um lugar sagrado?
Lesly tinha raiva na voz. Como se aquela poeira e sujeira fosse um insulto para ela.
Ela encostou o braço em uma enorme escultura onde estava o rosto de Jesus Cristo.—Acho melhor você não..
A imagem que estava no alto do altar fez um barulho. Lesly se esquivou rapidamente e a escultura coberta de pó, caiu no chão de madeira e se quebrou por inteira.
—Ai meu Deus! — Lesly gritou. — Eu quebrei Jesus Cristo.
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—Eu vou pro inferno, não vou? — Lesly repetiu pela décima vez para mim. Estava sentada na escadaria do lado oposto da capela.
—Não foi culpa sua. Como ia saber que a escultura estava quase quebrada? Essas coisas acontecem. — falei tentando reconforta-la.
—Breno, eu quebrei a imagem de Jesus. Isso pode ser considerado um pecado não é?
—Quem disse que aquele era Jesus? Era apenas o símbolo dele. Ele não está lá. Ele está aqui — falei apontando para seu coração. — Não encontramos Deus em igrejas ou templos. Ele tem que estar na sua alma. Deus não mandaria uma menina como você para o inferno só por conta de uma estátua quebrada.
Lesly sorriu e me abraçou. "Tá" —pensei — "O que eu disse fez efeito".
—Quer ouvir uma história engraçada? — perguntei e ela assentiu positivamente — Uma vez, Ronan quebrou uma pequena estátua de Jesus também quando éramos crianças. Ele estava correndo na igreja e bateu o braço em uma e a fez cair. O padre dá igreja deu um sermão nele dizendo que ele iria para o inferno, sabe o que Ronan respondeu?
—Com certeza não foi algo bom. — Lesly falou rindo.
—Ele respondeu: "Deus não manda para o inferno pessoas que quebram esculturas, ele manda pessoas que roubam o dinheiro do dízimo como o senhor". Resumo, ele foi proibido de entrar naquela igreja novamente. — falei me lembrando de como Ronan tinha contado aquele história e havia soado engraçada.
—Bem, mas agora não podemos estudar aqui. Além de estar destruída por conta do acidente, está cheia de pó. — Lesly falou tirando os abraços sobre mim.
—Podemos limpar. Eu vi os livros no canto da capela, enquanto você... enquanto aconteceu o acidente. Eles podem ser úteis para o trabalho.
—Precisamos de panos e produtos de limpeza.
—Isso minha tia tem de sobra.
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Limpar a capela poderia ser considerado um serviço chato, mas você nunca tentou limpar algo com Lesly Medley.
Enquanto eu limpava com dificuldade os bancos, Lesly esfregava o chão e colhia os cacos da escultura.
Para conseguir os produtos de limpeza, tivemos que voltar para minha casa com a desculpa de ter esquecido um dos livros de matemática. Tia Veronica não perguntou o porquê da minha roupa estar coberta de poeira, o que foi um alívio.—Estou quase desistindo. — Lesly falou.
—Falta pouco — disse animado, enquanto passava um pano umido nos últimos bancos. Observei Lesly limpando o chão com rapidez. — Está pronta para casar.
Lesly tirou uma mecha de cabelo de frente do seu lindo rosto e revirou os olhos.
—Quem casaria com a menina que quebrou a imagem de Jesus Cristo?
—Eu. — falei.
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Amor Sobre Rodas
Любовные романыBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...