O ginásio estava lotado e não percebi a presença de nenhum dos jogadores ainda. Olhei de relance e vi um senhor ruivo com um enorme broche, provavelmente o pai de Hugo. Daniela estava do meu lado oposto do ginásio, fazendo alguns passos sem nexo. Ela sorriu para mim e acenou positivamente. Antes de me mover, senti uma mão gelada no meu ombro. Era o treinador Yan.
—Breno! Que ótimo que veio. Venha, assista comigo o jogo e te pagarei pipoca e quem sabe até uma cerveja... Só não conte para seus pais. — ele disse soltando uma alta gargalhada. Eu havia me perdido na grande barriga que ele tinha. O apito inútil em volta do seu pescoço continuava lá.
—Desculpe. Eu até ficaria, mas tenho que ir agora. —falei e tentei não tremer.
—Acho uma pena o Hugo ter tirado você do time. Teria sido um ótimo volante com essa moto aí. — ele disse rindo. Forcei uma risada. Estávamos perdendo tempo.
—Eu queria muito ficar, mas preciso ir mesmo. — falei com um sorriso no rosto.
—Não ache que vai se livrar tão fácil de mim. — Professor Yan disse bagunçando meu cabelo.
—Treinador! — Daniela nos cercou gritando. — Precisamos da sua ajuda. Uma das líderes de torcida ainda não chegou.— vi de relance ela piscando para mim.
Daniela continuou falando alguma coisa para o treinador e eu me afastei lentamente. Passar por todas aquelas pessoas com minha cadeira de rodas foi uma grande aventura. É nesses grandes eventos que percebemos o nível de educação de cada um. A cada vez que alguém batia na minha cadeira de rodas e apenas me olhava com cara de: ''Você está no lugar errado'' minha esperança nas pessoas caía. Na área dos vestiários passei reto e olhei de relance, Hugo havia chegado com várias marcas de batom no pescoço. Os colegas do time começaram a rir e fazer comentários maldosos. Acelerei a cadeira de rodas e fui até ao banheiro masculino. Bati em uma das portas.
—Achei que não iria chegar nunca. — Ronan disse abrindo a porta com um chute. O vaso sanitário havia virado sua poltrona e suas pernas onde estava o Notebook sua mesa.
—Conseguiu fazer a configuração? — perguntei olhando ao redor para ver se havia alguém.
—Meu amigo, eu sou Ronan. É claro que consegui. — ele disse virando o Notebook para mim, onde mostrava uma tela cheia de dados ao vivo. —Lesly já mandou o vídeo. Hugo está acabado.
—Ronan, será que é certo o que estamos fazendo? Bem, eu sei que Hugo é pior que todos os vilões dos filmes da Marvel que você assiste, mas eu não me sinto a par de tudo isso. —falei com um suspiro. —Além disso a garota, não tem nada haver com tudo isso.
—Não podemos cancelar tudo, Breno. Todo mundo se arriscou muito para fazer isso.—Ronan falou sério. As linhas do seu rosto se contraíam.
—Não podemos fazer isso.
—Olha, estamos fazendo tudo isso não só por tudo que Hugo fez por você, mas por todas as pessoas dessa escola que ele já maltratou. — ele disse e ouvimos uma música pop qualquer. As líderes de torcida já haviam começado seu número. —Vou configurar o vídeo pro telão de LD.
—Não! —gritei. — Não esse vídeo. Mande esse. —falei entregando um pen drive para ele.
—O que é isso? — indagou com o pequeno aparelho nas mãos.
—Os motivos certos. — falei com um sorriso.
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Amor Sobre Rodas
RomanceBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...