O grande dia havia chegado. Era a noite do baile. Todos da escola estavam animados já que as aulas haviam terminado e quase todos os alunos foram aprovados e possivelmente iriam ingressar em uma faculdade no ano que vem. Como eu já havia planejado, o meu teste para o vestibular era em apenas um mês. Me sentia preparada mas ao mesmo tempo desesperada por conta da rejeição dos meus pais na faculdade que escolhi. Mamãe continuava com a mesma história de fazer Direito e meu pai apenas ouvia sem opinar em nada.
Quando a noite do baile chegou senti borboletas percorrendo meu estômago. Era a última vez de várias coisas. Última vez que eu iria em um baile escolar, última vez que eu veria algumas pessoas daquela escola, era a última vez e minha última oportunidade de me lembrar com ternura daquela noite.
Coloquei a caixa do vestido da mamãe na cama e fiquei horas o encarando e aguardando o momento de vestir. Pensei em Breno. Pensei como aquela noite seria mágica ao seu lado. Conclui que realmente eu só iria ao baile por sua conta.—Filha? — alguém chamou porta a fora. Era papai e logo entrou no quarto e se sentou ao meu lado. — O baile é daqui a algumas horas e você ainda não está pronta?
—Estou esperando.
—Esperando o quê? — papai perguntou alisando meus cabelos.
—O momento certo para o vestir. Será a noite mais importante da minha vida.
—Eu sei como você se sentindo. — papai falou para minha surpresa.
—Sabe? Sua noite mais importante foi no dia do seu baile com a mamãe?
—Não. O dia mais importante da minha vida foi no dia que você nasceu — ele falou e me joguei em seus braços para um longo abraço. —Eu fiquei desesperado. Não sabia o que fazer e como me sentir, mas quando ouvi seu choro e olhei pro seu rostinho conclui que não havia felicidade maior.
—Papai...
Ficamos por minutos abraçados. Eu podia reclamar de várias coisas sobre suas ações mas eu o amava demais, como também amava minha mãe apesar de tudo.
—Filha? — papai falou finalmente. E me virei para ver seu rosto. — Quem será seu acompanhante? Você ainda não falou para sua mãe e eu.
Semanas antes de Breno me convidar para o baile mamãe já me perguntava com quem eu iria, mesmo recebendo milhares de convites recusei todos e falei para ela que talvez eu não fosse. Logo depois do convite de Breno, mamãe me perguntou novamente e eu falei que iria sozinha. Não, eu não sentia vergonha de falar que iria com Breno só queria poupar ele da ignorância de mamãe.
—Eu vou sozinha já disse.
—Sua mãe aposta no Hugo — papai falou se levantando e andando pelo quarto. — Ela ainda não supera o seu término com aquele garoto. Ele era rude demais, fez muito bem filha — dei um meio sorriso. Papai nunca havia falado sobre o que achava de Hugo para mim. — Mas eu aposto em outro garoto. O garoto que te deixa com esse sorriso bobo durante um dia inteiro. Breno.
—Pai.. - suspirei. — Não conte para mamãe por favor. Ela não me deixará ir se souber que vou com Breno.
Papai se sentou ao meu lado novamente e alisou as mechas rebeldes do meu cabelo.
—Uma mentirinha não faz mal a ninguém. Vou enrolar sua mãe para que você saía sem preocupação. —papai falou e caímos em um abraço conjunto novamente.
****
Coloquei o vestido azul safira e encarei meu reflexo no espelho. O vestido não passava dos joelhos e não era solto. Um pouco colado totalmente anos 70. Por incrível que pareça não me senti velha naquele vestido, me senti madura. Coloquei um pequeno colar que eu havia ganhado de papai no meu aniversário de 15 anos e me senti pronta.
—Você está brilhando. — falaram ao lado da porta e ouvi que era mamãe.
Mamãe se aproximou de mim e ficamos juntas no espelho. Os dois reflexos se juntaram em um só.
—Quero que você se divirta — mamãe falou. — E lembre de sua velha mãe quando ser coroada rainha do baile.
—Mas eu não vou.
—Querida, com Lesly Medley ninguém tem chance. — ela sussurrou.
—Hora da foto. — papai anunciou entrando no quarto.
—Vamos filha faça uma pose. — pediu mamãe se colocando ao lado de papai. Dei um leve sorriso e o flash ligado da câmera me deixou cega por alguns segundos.
—Vou imprimir essa foto e colocar em um quadro pela casa inteira — mamãe falou pegando a câmera da mão de papai. — Quando ele vai chegar?
—Ele quem?
—Seu acompanhante... Oras.
Olhei desesperada para papai e percebo que logo entendeu o que eu queria dizer. "Tire ela de casa. Por favor!". Papai recolheu a câmera das mãos de mamãe e a abraçou levando em direção a porta.
—Marília, que tal a gente deixar Lesly terminar de se arrumar.
Mamãe se soltou do abraço e correu em minha direção.
—Nada disso, vou ajudá-la a se arrumar. Venha, vamos arrumar esse coque mal feito que você tentou fazer.
Papai revirou os olhos e franziu as sobrancelhas. Ele não havia poder sobre a teimosia de mamãe. Peguei meu celular disfarçadamente e fui em mensagens.
Você, para Breno:
Não toque a campainha. Te espero do lado de fora.Minutos depois ouvimos o ding dong lá embaixo. Olhei para papai e ele olhou para mim.
—Ele chegou. — mamãe falou saindo do quarto e descendo as escadas.
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Amor Sobre Rodas
RomanceBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...