— Lesly, você se ferrou em cheio. — Daniela disse quando sentávamos na hora do almoço com Sandra, Tiffany e Marina.
— Se ferrou em quê? — perguntou Sandra, enquanto analisava a quantidade de calorias que uma caixinha de suco tinha.
— Lesly vai fazer dupla com um cadeirante.
— Breno! — gritei, não tão alto como queria. — O nome dele é Breno e não me sinto ferrado por isso. É só um trabalho. Não há nada errado com isso.
— Cadeirante? Não é o garoto folgado que estava na rua quando passamos de carro? — perguntou Marina que eu já havia esquecido que estava na mesa, pois era o tipo de garota que só escutava e não falava. Tinhamos esse traço em comum.
— Exatamente ele. — confirmou Daniela.
— Você está extremamente ferrada. — falou Sandra agora se livrando da caixinha de suco e me encarando de frente com o rosto perfeito.
— Você podia pedir pro professor para mudar você de dupla. — sugeriu Tiffany.
Me livrei do meu almoço e respirei fundo para não fazer um escândalo com tudo aquilo.
— Não vejo o porquê. É só um trabalho, gente.
— É, pessoal, é apenas um trabalho. Agora Lesly vai empurrar a cadeira de rodas desse menino de um lado pro outro. Não era ela que estava com pena do garoto? — falou Sandra em um tom irônico que me irritou profundamente.
Já ia responder quando senti alguém me abraçando e sentando ao meu lado.
— Você disse que ia me esperar. — falou Hugo, colocando a bandeja sobre a mesa.
— Desculpe. Esqueci. — murmurei, desviando dos olhos de Sandra que pareciam que transmitiam fogo.
— Tudo bem. Como que estão, garotas? — falou Hugo enquanto sentava ao meu lado.
— Oi, Hugo! — Sandra falou com um sorriso. — Sabe da nova? Sua namorada é a nova babá do Breno. Você deve estar orgulhoso de ter uma namorada tão atenciosa.
— Breno? Quem é esse? — Hugo disse olhando para mim.
— É aquele cadeirante esquisito. — Sandra disse rapidamente respondendo por mim. Ela amava fazer isso. — Anda no sentido figurado. — completou rindo da própria piada.
— Por que você vai ser a babá dele? — Hugo falou sério.
— Sandra está só brincando. Vou fazer apenas um trabalho de matemática com ele — respondi respirando fundo.
— Por que você não troca de dupla?
Tive vontade de gritar com eles, era apenas a droga de um trabalho. Não tinha receio de fazer com ele. Estava cansada de todos comandando a minha vida e fazendo disso um drama cinematográfico.
— Não é permitido. O professor deixou bem claro que todas as duplas não podem ser mudadas em hipótese alguma. — disse, jurando para mim mesma que se tivesse que responder novamente essa pergunta, eu não seria tão calma.
— Boa sorte. — disse Sandra debochada.
Almoçamos em silêncio e fui em direção ao último horário junto com a Hugo que teria a mesma aula. Passávamos pelos corredores casualmente, mãos dadas e sorrisos espontâneos, quando vi Breno e um garoto alto e moreno passando por nós. Dei um aceno que vi os olhos deles brilharem. Hugo também percebeu e esbarrou na cadeira do garoto fazendo ele dar um impulso para frente e cair.
— Breno! — gritou o garoto que o acompanhava.
— Está tudo bem. — falou Breno esticando os dois braços para amortecer o chão, o que não ajudou muito. O garoto ao seu lado, segurou seus braços e colocou ele novamente na cadeira.
— Foi mal, cara. Não havia te visto. — disse Hugo ajudando colocar Breno na cadeira.
— Está bem. — Breno murmurou baixo.
— Você está bem mesmo? — falei pegando seus livros que estavam no chão.
Ele apenas sorriu fraco. Cada um seguiu seu caminho e Hugo segurou minha mão novamente.
— Por que você fez aquilo? — falei o distante o bastante de Breno.
— Foi sem querer. — Hugo falava sem cruzar o olhar comigo.
— Sem querer? Eu te conheço, Hugo. Ele podia ter se machucado feio....
Ele segurou de uma maneira brusca e forte o meu braço e disse olhando para mim. Senti como se seu olhar houvesse atravessado meu peito como uma lança.
— Eu já disse que foi sem querer. Para de se preocupar com aquela aleijado.
Hugo me soltou e entrou na sala sozinho, me deixando lá assustada e chocada.
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Amor Sobre Rodas
RomanceBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...