Lesly

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Era o dia. A escola toda estava enfeitada com bandeiras do símbolo do time de basquete, as líderes de torcida estavam treinando seus últimos passos de apresentação e nosso plano seria executado hoje. Já havíamos tomado todas as precauções possíveis. Eu mesma havia me cerficado que o pai de Hugo estaria, enquanto passei pelo ginásio, ele me viu e me chamou. Me aproximei forçando um sorriso. O pai de Hugo tinha os mesmos cabelos ruivos do filho e de bônus algumas sardas. Trajava o casual terno e um broche. Broche que levava honras do melhor delegado e único de Fishers.

—Lesly! Que bom te ver. — ele disse se levantando e me recebendo com um abraço. — Senta-se aqui comigo, assim podemos ver o jogo do nosso garoto.

Nosso garoto. Provavelmente, Hugo ainda não havia contado do nosso termino. Me afastei do abraço e tentei ser o mais simpática possível.

—Infelizmente não posso.

—Mas, por quê? — ele disse curvando as sobrancelhas como o filho fazia quando queria alguma coisa. Olhei para os meus pés, tentando achar uma desculpa convincente.

—Lesly! — ouvi uma voz feminina me gritar. Era Daniela. Suspirei aliviada. Ela usava o casual uniforme de lideres de torcida. — Que bom que te encontrei. O mascote está pronto.

Era nosso código. Ronan já estava preparado e precisava de mim.

—Ah, sim. Já estou indo. —falei e me virei para o pai de Hugo que fitava Daniela. — Foi muito bom te rever, Sr. Preciso resolver alguns probleminhas com o mascote do time. Bom jogo.

—Que nosso garoto vença. — ele disse levantando as duas mãos animados.

Não. Quem iria vencer seria eu, hoje. Sorri para ele e saí do ginásio. Daniela piscou para mim e voltou para o local onde as líderes de torcida estavam se aquecendo. Ela já havia feito a parte dela, agora seria a minha vez.


                                                                                            ****



Encontrei Ronan já no corredor com um notebook nas mãos. Sem que ninguém percebesse, ele e eu passamos por vários estudantes que iam em direção ao ginásio.

—Não se esqueça de deixar a câmera em um ponto que tenha luz. — falou discretamente e me entregando o aparelho que era quase minúsculo.

Apenas assenti com a cabeça. Breno já estava no ginásio aguardando a segunda etapa do plano. Chegamos até a porta de entrada da escola.

—Que tudo vá como planejamos. — falei sentindo um frio na barriga.

—Boa sorte, Lesly. — Ronan disse sorrindo e saiu andando. Antes de ficar distante o suficiente, gritou: — Não se esqueça de ligar o botão, até ficar verde.

—Não esquecerei. — falei acenando.

—Bom jogo! — ele gritou rindo e sumiu entre os corredores.

Sozinha e olhando para todos os lados, saí da escola. Não havia seguranças e ninguém lá. Todos estavam dentro da escola animados para o grande jogo. Corri para o lado oposto da escola, onde havia uma escada que dava acesso ao telhado, subi com dificuldade. Tive a ideia brilhante de colocar a câmera no meu casaco, o que facilitou tudo. Já no telhado da escola, fui me equilibrando até as pequenas claraboias de vidros, entre várias que davam acesso a salas da escola. Fui agachada procurando a claraboia da sala do faxineiro. Era o único lugar que Hugo poderia entrar. Olhei para meu relógio e faltava minutos para o jogo. Ele tinha que entrar. Quando ainda namorávamos, costumávamos entrar ali para relaxar antes de algum jogo importante. Só agora eu percebia como aquilo era repugnante em vários aspectos.

—Vai logo. — sussurrei. O sol estava se pondo e consegui ver aquela bela paisagem. Tinha válido a pena ficar com essa parte do plano.

A claraboia era pequena e velha. Me deitei no telhado, fazendo que desse para ver melhor a sala. Estava vazia. Hugo precisava aparecer, o plano teria que dar certo. Olhei para o relógio novamente e estava pouco para o jogo. Passados 2 minutos ainda não havia nada de Hugo. Até que ouvi o meu celular apitando. Era Daniela, avisando que a filha do diretor havia sumido. Ela também era líder de torcida.

Ouvi o barulho de porta se abrindo e quase me desequilibrei. Respirei fundo e agachei ficando de frente para a claraboia.

—Tava com saudades. — ouvi Hugo falando.

—Fala baixo. Imagina se nos encontram aqui. — A garota ao seu lado falou. Não identifiquei se era a filha do diretor ou não, mas ela trajava o uniforme vermelho e pompons nas mãos.

—Ninguém vem aqui. Nem mesmo o faxineiro. — Hugo disse, puxando a menina para si. — Temos tempo suficiente para fazer alguma coisa antes do jogo.

—E se seu pai sentir sua falta? —a menina indagou e me curvei para ver melhor.

—Ele não vai. Pode apostar. — Hugo disse e beijou a garota que se entregou completamente.

Peguei a câmera e comecei a gravação. Estávamos ganhando o jogo naquele momento.

Amor Sobre RodasOnde histórias criam vida. Descubra agora