— Poxa Breno, você também vacilou— Ronan falou durante a aula de literatura. — Você poderia ter saído do carro e mandado uma daqueles frases de efeito que você sempre fala. Duvido se a mãe dela não iria agradecer de ter você como genro.
— Eu estava preso no banco do passageiro. Você queria que saísse como? — falei baixo.
— Senhor Breno e Ronan, os dois querem compartilhar algo com a turma? Parece que o assunto que estão falando sem parar é mais interessante que a minha aula. — A professora McCoy falou. Ela tinha um olhar que mataria qualquer um. Calamos a boca e ela retornou a aula de literatura.
Não prestei atenção em nenhuma palavra que ela falou durante os próximos 45 minutos seguintes.
Depois de todos os acontecimentos do final de semana me sintia feliz e angustiado ao mesmo tempo. Eu fiquei perto de Lesly e soube que ela sentia o mesmo que eu, nada e nem ninguém tiraria ela de mim. Tentei ligar diversas vezes para seu celular mas segundo Daniela, a mãe de Lesly havia pegado o celular por tempo indeterminado, na escola o professor de matemática voltou atrás com o trabalho em dupla por conta de reclamações de pais sobre o método de ensino aplicado e todos agora vão fazer individual, mesmo aqueles que já haviam começado, como Lesly e eu.
Quando finalmente o sinal tocou, Ronan teve que me cutucar para sairmos da sala. Distração era o que me definia naquela semana.— Você viu ela hoje? — Ronan perguntou já no corredor.
— Vi. Mas ela não parou para conversar. Parece que estava sendo seguida e logo depois Hugo também apareceu.
— Talvez a mãe dela tenha pedido que Hugo vigiasse ela na escola. Cara, isso parece coisa de filme.
— E como foi ontem à noite? Com Daniela? — Falei quando paramos no meu armário para a troca de matérias.
— Meu amigo, me senti naqueles dias perfeitos que são protagonizados por atores bonitões. Foi fantástico — Ronan falou sorrindo. Parecia que relembrava cada parte da noite com detalhes. — E pelo que eu sei, você passou a noite ao lado de Lesly e não me venha enganar com aquela história que vocês passearam pela cidade. Aonde vocês foram?
— As estrelas. — falei com um sorriso no rosto.
****
Meus tios não me colocaram de castigo e muito menos me proibiram de encontrar Lesly. Recebi apenas um sermão com o intuito de me fazer refletir.
À noite pensei. Nos últimos anos eu sempre fui o garoto que tinha medo de andar de carro e de mostrar meus sentimentos, mas agora com a ajuda dela, eu consegui muito mais que isso. Ela me ajudou a amadurecer e perceber como eu sou grande. Quando se é cadeirante é difícil para as pessoas perceberem que você cresceu tanto fisicamente como mentalmente. Eu era forte o suficiente para enfrentar qualquer coisa, só era preciso acreditar.
Peguei um casaco e saí de casa. Seria muito mais rápido pedir para alguém me levar até lá, mas eu precisava pelo menos uma vez fazer algo sozinho.
Fiquei em frente a casa de Lesly por minutos infinitos, pensando em seriamente se tocava a campainha. Percebi logo que a campainha estava fora do meu alcance. Era alta demais. Bati na porta involuntariamente e esperei pelo pior. Quem abriu a porta não foi a mãe de Lesly mas sim o pai.— Boa noite — Falei nervoso. Sentia as minhas mãos tremerem. — Será que eu posso falar com a Lesly. Sou colega dela, Breno.
— Breno meu rapaz, eu até deixaria mas ela....
— Por favor senhor — pedi — Me desculpe pelo transtorno que fiz você e sua esposa passarem, mas é que.. Lesly é especial para mim. Eu prometo que nunca mais virei aqui se o senhor me deixar falar com ela.
Depois do pedido vi seu rosto gentil. Ele não parecia um homem grosso e mau-educado. Ele me deu um sorriso e gritou Lesly. Abriu a porta e pela primeira vez entrei na casa dela. Ele me convidou para sentar, coisa que recusei e logo depois ele pareceu constrangido por ter feito o convite.
Lesly desceu as escadas e vi seu rosto de surpresa quando me viu.— Sejam breves. Sua mãe deve estar voltando. — ele falou e saiu da sala.
Lesly sentou no sofá e me aproximei dela. Olhei para a casa, era tão diferente da minha. Quadros por todo lugar, porta-retratos, esculturas e muitas fotos de Lesly espalhadas pela sala.
— Uau! — falei sorrindo. — Sua casa é fantástica.
— Alguns diriam que tem coisas demais — ela suspirou e arrumou os fios de cabelos que caíam sobre seu rosto — O que faz aqui?
— Acho que você sabe. Sua mãe me odeia e eu estou andando sobre o tapete dela, estou tentando suicídio —falei sério o que arrancou uma risada de Lesly — Enfim, eu sei que não devia estar aqui, mas alguma coisa me diz que era o certo vir aqui — respirei fundo e continue — Lesly, eu amo você e nada nem ninguém vai mudar isso. Eu sei que por minha causa sua vida virou de cabeça pra baixo..
— A culpa de tudo o que aconteceu é minha. Eu enfrentei minha mãe em um do seus chás e tudo começou a mudar. — Lesly protestou.
— Enfim, eu perdi meus pais, depois perdi os movimentos das pernas e parece que vou perder você agora.. Mas eu não posso. Já perdi coisas que eu amava demais...
Lesly se aproximou de mim e me deu um rápido e inesperado beijo. Depois ela me abraçou. Quis chorar, admito.
— Demorei para perceber e me condeno por isso mas, eu amo você. Essas pessoas são apenas vírgulas no meio da gente, nunca haverá um ponto final.
Gostaria de ficar mas algum tempo com ela, mas o medo e a pressão de Dona Marília aparecer foi maior. Antes de ir embora decidi fazer algo que esperei por muito tempo.
—Lesly, eu sei que você não queria ir no baile mas, você quer ser minha acompanhante? Eu não vou poder dançar e nem te pegar no colo se você for coroada rainha do baile, mas fica o convite.
—Sim.
—Sim? — repeti nervoso.
—Sim. Esse é muitos dos sims que falarei ainda para você no futuro.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor Sobre Rodas
RomanceBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...