Não jantei naquele noite e fui direto para o meu quarto me afogar nos meus travesseiros.
De todos os desejos pequenos que eu tinha um deles era ficar o máximo de tempo que fosse possível com Lesly. Não me importava se fosse apenas para vê-la falando com outra pessoa ou estudando, eu queria estar ao seu lado e quando eu tive a oportunidade de ficar, a minha condição física me prejudicou.
Com os fones de ouvidos me derreti com músicas melancólicas que me faziam me sentir pior do que eu já estava.Já fazia duas horas que eles tinham saído e me imaginei ao lado deles comemorando como um adolescente normal. Normal. Repeti na minha mente. Como eu queria ser. Como eu queria poder andar como todos.
Me recordei dos tempos de pequeno. Como eu não podia me ajoelhar para rezar eu me deitava estendido na cama e começava a fazer o meu único desejo. Andar. Andar. Andar. Uma coisa tão simples que nem todos valorizam. Andar para um cadeirante era algo considerado de luxo.Ouvi o barulho de um carro entrando na garagem da casa. Provavelmente Tio Luís havia chegado. Eu ainda estava arrumado, já que havia pensado que ia comemorar o aniversário de Daniela. Me aconcheguei mais na cama e tentei dormir.
— Breno? — soou a voz de alguém do lado oposto da porta.
Tirei os fones e me virei para ver quem era.
Com o seus cabelos castanhos curtos, vestido listrado, casaco preto até a cintura e o sorriso mais lindo já visto na fase da Terra, eu vi Lesly entrando no meu quarto e ficando ao meu lado da cama.— Mas o que você está fazendo aqui? — falei surpreso. Ela sorriu e passou a mão pelo meu cabelo que continuava rebelde e vivia sobre a minha testa.
—Espero que você não tenha jantado porque tenho uma surpresa para você.
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Lesly me ajudou a ir para a cadeira de rodas que estava do outro lado do quarto. Fiz milhares de perguntas sobre o porquê dela estar na minha casa, para onde iriamos e o porquê dela estar tão cheirosa naquela noite. Lesly riu e disse que durante o caminho responderia todas as minhas perguntas.
Vi o carro do meu tio estacionado em frente a nossa casa. Tio Luís estava no porta-malas do carro tirando algumas compras.
— Vocês vão agora? — Tio Luís perguntou para Lesly que parecia animada.
—Sim. — Lesly respondeu com as chaves do carro já nas mãos.
Tio Luís desgranhou meus cabelos e pediu para voltarmos antes das onze da noite.
"Tá.. Mas voltar da onde", pensei.Como de costume Lesly me colocou no carro e trancou a minha cadeira com segurança. Rapidamente ela entrou no carro e ligou o rádio, ela sabia que eu ficava mais confortável.
— Eu sei que você quer fazer milhares de perguntas — ela começou — Vou responder já algumas que sei que estão na sua lista. Ronan, Daniela e eu fomos para o restaurante, mas percebi que seria um tédio sem você já que aqueles dois apaixonados não paravam de se agarrar, então pedi para Ronan se podia usar o carro para voltar pra casa. Ele concordou dizendo que os dois voltariam de táxi, então voltei, mas acabei parando no mercadinho da cidade para comprar algo para comer já que estava morrendo de fome e vi o carro do seu tio estacionado. Me lembrei de você...
Ela parou de falar e pareceu respirar fundo antes de prosseguir. A estrada estava vazia e quieta fazendo Lesly andar com o carro bem devagar.
—Me lembrei do seu rosto de decepção e vi como você queria ir conosco. Tive a idéia de fazer algo para você, seu tio concordou e voltei com ele. O carro de Ronan está na garagem da sua casa. — ela completou.
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Amor Sobre Rodas
RomanceBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...