Amor Sobre Rodas

Lesly

Mamãe já não está na mesa com os pais de Hugo. O que é um alívio. Vejo ela cumprimentando uma mesa com várias senhoras que reconheço na hora, as mesmas senhoras do chá de uns meses atrás. Não hesito e continuo empurrando Breno até a sua direção com um sorriso no rosto.

—Mãe? — digo me aproximando com Breno. — Quero te apresentar um grande amigo.

Ela se vira, e vejo o rosto de espanto de algumas senhoras da mesa que na hora cochicham umas com as outras.

—É um prazer. — Breno fala e em seguida lança um sorriso.

Mamãe olha Breno de cima a baixo sem dar nenhuma palavra. Vejo ela não demostrar nem um sorriso, além, de seus olhos fundos para a minha mão que encostava na cadeira de Breno.

—Pai! — gritei vendo papai falar com alguns convidados também. Ele se aproximou sorrindo para mim. — Esse é Breno, minha dupla no trabalho de matemática.

—Prazer, rapaz. Então é você o menino que passa metade do dia com minha filha?— papai fala rindo e estendendo a mão para Breno.

—Digamos que sim... — Suas bochechas estão coradas. O que deixa ele bastante fofo.

—Mãe? — repito, virando para ela que ainda está com seus devaneios.

—Prazer...  — mamãe murmura com um sorriso, ignorando a mão de cumprimento de Breno que está estendida na sua frente. — Esse então é sua dupla naquele trabalho...

—Exatamente. — falo sorrindo.

—Sempre achei esse método de ensino estranho, imagine agora. — ela fala como se Breno não estivesse lá. Meus olhos saltam quando ela diz e tenho vontade de tirar Breno dali rapidamente. — Pensei que você estudava em uma escola para pessoas normais.

—Quer beber algo, Breno? — papai fala cortando o assunto e colocando a mão no ombro de Breno. — Venha, vamos na área das bebidas.

 

                             

                                                                                       ****

Mamãe me puxa pelo braço, até o jardim fora do salão.

—O que foi aquilo, mãe? — grito fazendo ela soltar meu braço.

—Esse menino, —  ela começa. —  por acaso ele é o motivo da separação de você e do Hugo?

—Já falei que terminei com Hugo porque ele é um idiota. — falo, arrumando a barra do meu vestido. Omiti o fato que foi Breno que me deu a luz, pra enxergar. Mamãe parece aliviada. —Por que essa pergunta? — digo.

—O que minhas convidadas diriam, se vissem você beijando um....

Parece que a palavra está engasgada na sua garganta e se recusa a sair.

—Cadeirante? — falo ríspida. 

—É. Só de ouvir me dá arrepios. Não consigo imaginar a vergonha que sentiria. — mamãe fala encolhendo os ombros. 

—Que horror, mãe. Você nem conhece Breno. Ele é muito legal e muito melhor que Hugo. 

—Mas Hugo não tem nenhum tipo de deficiência...

—E ele é um tremendo idiota, mimado, covarde e que não liga para ninguém, além dele mesmo. Do que adianta ter o privilégio de ser comum e ser um tapado? — falo séria. — Já tenho idade o suficiente para saber com quem eu quero andar.

—Namorar um cadeirante parece ser uma escolha descente? — ela sussurra, já que alguns convidados estão saindo do salão, para dar um volta pelo jardim. Ela sorri para algumas pessoas.

—Somos só amigos. Ele me ajudou muito e me entendeu quando me senti sozinha.

—Sozinha? Você está sempre cercada de amigos e família. — ela retribuiu segurando meu braço novamente.

Papai vem ao nosso encontro, correndo.

—Onde vocês duas estavam o tempo todo? Estão sentindo a falta de vocês na festa.

—Essa conversa não terminou. — mamãe diz.

—Para mim, sim.— digo e entro no salão.

                                                                                         ****

A música da vez, é uma balada romântica, bem calma e devagar. O que faz milhares de casis irem para a pista de dança. Avisto de longe Ronan e Daniela, concentrados um no olhar do outro, enquanto fazem pequenos passos lentos de dança.

Sou chamada para dançar por vários convidados, mas recuso dizendo que não estou disposta. Vou até o lado mais calmo do salão, depois de atravessar um mar de garotos procurando um par pra dança.

—Está concorrido pra dançar com você. — fala alguém atrás de mim, que reconheço na hora. Breno.