Era um salão enorme, com o piso de mármore e as paredes com detalhes rústicos. Havia um enorme lustre no centro do teto que fazia a beleza do ambiente aumentar.
Aquele lugar era familiar. Olhei em sua volta e reconheci. Era o salão da festa de aniversário da Lesly.—Está perdido? — ouvi alguém falando logo atrás de mim.
Me voltei para a pessoa da voz. Era Lesly. Ela usava uma coroa brilhante nos cabelos curtos que estavam amarrados em um coque e trajava um vestido beje que ia até os seus pés.
Sua beleza era algo fora do normal. Era tão linda quanto qualquer estrela no céu.Dei um meio sorriso, enquanto ela se aproximava mais e ficava na minha frente.
Com um gesto rápido peguei sua mão e dei um leve beijo.—Eu queria falar alguma coisa bonita para você, mas a única coisa mais linda que conseguiria sair da minha boca seria seu nome. — falei ainda segurando sua mão.
Lesly parecia que ia falar algo mas foi interrompida. Um dos aparelhos sonoros ligou e transmitiu uma música que também me soou familiar.
"Pegue a minha mão, eu vou te ensinar a dançar. Eu vou te fazer girar, não vou deixar você cair"
—Lembra dessa música? — Lesly perguntou.
—Como poderia esquecer?
A recordação daquele dia veio à tona. Lesly e eu indo para o jardim, o gazebo iluminado, aquela música como a trilha sonora do nosso primeiro beijo e principalmente a minha vontade de dançar com ela.
A música continuava alto e a vontade de puxar Lesly para uma dança continuou.Ela girava como uma bailarina.
Me curvei na cadeira e por um milagre consegui mover uma perna.Sim. Eu me espantei e sim novamente, eu entrei em um colapso por alguns instantes.
Movi a outra perna e coloquei ela sobre o piso, me segurei nas cadeiras e levantei.
O impacto no acidente de carro foi tão grande que uma lesão muito grave na minha coluna me deixou paraplégico. Aos 8 anos receber a notícia que nunca mais iria andar me deixou acabado, mas agora eu conseguia mover minhas duas pernas.Me levantei, ainda sim que as pernas ficassem meio ambas. Me apoiei na cadeira de rodas e me coloquei de pé literalmente.
Me equilibriei sem a cadeira. O meu maior sonho havia sido realizado. O sonho de voltar a andar.
Houve um Natal, quando eu tinha 10 anos, que algumas crianças pediam para o Papai Noel brinquedos, bicicletas e vídeo-games. Já eu pedi apenas uma coisa na minha cartinha. Que o tempo voltasse para não acontecer o acidente que tirou meus pais e que eu voltasse a andar. Lembro de falar sobre o pedido para os meus tios e eles não me darem uma resposta. Quando deu a noite de Natal, fiquei acordado para ver se conseguia mover minhas pernas e se meus pais apareciam, mas a magia do Natal que eu esperei não aconteceu.
No dia seguinte, acordei com um carta ao meu lado.
Na carta em letras vermelhas estava escrito:Querido Breno,
Eu li diversas vezes a cartinha de Natal que você mandou aqui para o bom velhinho. É um ótimo pedido Breno. Mas devo te informar que mesmo eu querendo muito realizar esse seu pedido infelizmente não vou poder.
Eu posso dar brinquedos e roupas mas não posso voltar ao tempo e conserta o que houve.
Muitas vezes ficamos tão presos ao passado, que o presente pode estar nos oferecendo um futuro lindo e não percebemos. Continuamos a remoer coisas que nos fizeram mal, e outras que nem fazem mais parte de nossa vida. O passado... Já passou. Viva o agora, sonhe com o futuro.
Você é apenas uma criança mas no futuro irá entender.
Seus pais estão sempre com você, talvez você não perceba mas eles olham por você todas as horas do dia. Eles sempre amaram vocês, mas agora te amam muito mais.
Breno, o que nos leva a andar, não são nossas pernas, mais as decisões tomadas.
Por sua vida, você irá enfrentar obstáculos e terá que saber passar por todos eles sem pular ou correr.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor Sobre Rodas
RomanceBreno fez fórmulas, resolveu equações e tentou telefonar para o além do túmulo de Albert Einstein, mas não conseguiu entender. Lesly fez rascunhos em guardanapos, comprou a última versão da gramática e releu os clássicos, mas também não conseguiu en...